2-
PAGAR A MEDICINA NO TRABALHO
Ainda
o cheiro do after shave do vendedor
não se tinha desvanecido quando o telefone tocou. Era uma senhora muito
simpática, toda ela cheia de rodriguinhos, a informar-me que todas as empresas têm de entregar o anexo D, Relatório Anual da Actividade de
Serviço de Segurança e Saúde no Trabalho, e que para tanto tinha que recorrer
aos serviços de uma empresa. É o que manda a Lei, explicou escudando-se na
legalidade. Só me queria ajudar pelo que depois de me perguntar a idade
concluiu: “E o senhor é obrigado a vir a uma consulta médica que lhe custará
apenas 30 euros.”
Aí
reagi, expliquei que já pagava um seguro de saúde e que podia fazer a consulta
por metade do preço. Não, não e não, repeti três vezes. Será que já nem podia
escolher o médico? Pois não podia ser, não bastava ser visto por um médico, eu
tinha a obrigação de ser visto por um
especialista em Medicina do Trabalho!
Ah!
Espantei-me e lá fui à consulta cheio de curiosidade e patriotismo. Até porque
se a Lei me obriga a tal gasto é porque quem nos governa se preocupa com a nossa
saúde. Uma preocupação tão grande, tão grande que tinha de ser presente a um médico
especialista em medicina do trabalho.
Assumindo
a condição de servo das leis da Nação lá fui. O médico esperava-me num gabinete
estreito, escondido atrás de um computador. Suspeito que estava no Facebook
quando lhe bati à porta. Esperava-me e sem outros preliminares confirmou os
dados da minha ficha, coisas como a morada e o número de telefone. Perguntou-me
depois quanto pesava e quanto media. Olhei em volta e como não vi metro ou
balança também não tive coragem de lhe dizer que não sabia. Respondi-lhe o que
me veio à cabeça mas talvez, inconscientemente, tenha diminuído o peso e
aumentado a altura.
Chegou
depois o grande momento. “Faça o favor de arregaçar a manga direita”,
determinou o especialista em Medicina no Trabalho preparado para me medir a
tensão.”Está tudo bem!”, esclareceu enquanto se levantava, dando assim por
terminada a consulta. Lá paguei os 30 euros sem deixar de pensar que na
farmácia bastava dar um euro para uma máquina me medir a tensão, e me de dar um
ticket como prova.
(CONTINUA
AMANHÃ)
Sem comentários:
Enviar um comentário