4 de maio de 2015

CRÓNICA DE UM pequeno EMPRESÁRIO PORTUGUÊS (2)



2- PAGAR A MEDICINA NO TRABALHO

Ainda o cheiro do after shave do vendedor não se tinha desvanecido quando o telefone tocou. Era uma senhora muito simpática, toda ela cheia de rodriguinhos, a informar-me que  todas as empresas têm de entregar o anexo D, Relatório Anual da Actividade de Serviço de Segurança e Saúde no Trabalho, e que para tanto tinha que recorrer aos serviços de uma empresa. É o que manda a Lei, explicou escudando-se na legalidade. Só me queria ajudar pelo que depois de me perguntar a idade concluiu: “E o senhor é obrigado a vir a uma consulta médica que lhe custará apenas 30 euros.”
Aí reagi, expliquei que já pagava um seguro de saúde e que podia fazer a consulta por metade do preço. Não, não e não, repeti três vezes. Será que já nem podia escolher o médico? Pois não podia ser, não bastava ser visto por um médico, eu tinha a obrigação  de ser visto por um especialista em Medicina do Trabalho!
Ah! Espantei-me e lá fui à consulta cheio de curiosidade e patriotismo. Até porque se a Lei me obriga a tal gasto é porque quem nos governa se preocupa com a nossa saúde. Uma preocupação tão grande, tão grande que tinha de ser presente a um médico especialista em medicina do trabalho.

Assumindo a condição de servo das leis da Nação lá fui. O médico esperava-me num gabinete estreito, escondido atrás de um computador. Suspeito que estava no Facebook quando lhe bati à porta. Esperava-me e sem outros preliminares confirmou os dados da minha ficha, coisas como a morada e o número de telefone. Perguntou-me depois quanto pesava e quanto media. Olhei em volta e como não vi metro ou balança também não tive coragem de lhe dizer que não sabia. Respondi-lhe o que me veio à cabeça mas talvez, inconscientemente, tenha diminuído o peso e aumentado a altura.
Chegou depois o grande momento. “Faça o favor de arregaçar a manga direita”, determinou o especialista em Medicina no Trabalho preparado para me medir a tensão.”Está tudo bem!”, esclareceu enquanto se levantava, dando assim por terminada a consulta. Lá paguei os 30 euros sem deixar de pensar que na farmácia bastava dar um euro para uma máquina me medir a tensão, e me de dar um ticket como prova.

(CONTINUA AMANHÃ)

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