Maré Alta - A. C. Arrais
De volta à terra
(rebenta coração)
Mal posso conter-me.
O avião acaba de dar sua primeira batida de rodas no chão português. A grande emoção de saudade é intensa... Está prestes a explodir. Quanta modernidade, Santo Deus... Tudo se renovou. Agora já me dirijo ao espaço da espera de malas. O serviço é rápido e eficiente. Em questão de minutos já estou com as minhas no carrinho de transporte manual. Observo que bem próximo aquele local de nossa espera existe, destinado a um outro vôo, um segundo conjunto de rodopios transportadores com um grande ajuntamento de cidadãos negros: Homens, mulheres... Muitos homens e mulheres, malta nova e crianças. Devem ter vindo todos eles do continente Africano, penso! Este é o meu Portugal... Seu designo e histórica capacidade de integração de raças. Afinal não foi o português o intrépido e destemido singrador dos mares nunca dantes navegados, a escancarar ao mundo de então, todos os mais desconhecidos continentes e povos?
... fui o primeiro passageiro a sair!
Em 1992 eu chegava pela segunda vez, de visita a Portugal num avião da Varig, empresa brasileira, em que havia uns trezentos brasileiros. A situação da entrada aqui no país estava um tanto rígida, vamos assim dizer para não magoar muito, Após a retirada das malas, a polícia determinou que todos formassem um fila com toda a documentação de viagem, à mão, junto a um dos dois balcões existentes, que davam acesso à saída. Um balcão, obviamente, sem nenhum passageiro. Ato contínuo, um policial passou a percorrer toda a fila, verificando os documentos de cada um, Chegado a mim, ao observar minha documentação, apontou-me outra direção e determinou: Dirija-se àquele balcão! Em dois segundos uma jovem bateu uns carimbos no meu passaporte e concluiu: Pode sair! Não me contive e perguntei: Por quê só eu? O senhor, português ... está voltando à sua terra, não é verdade? Para minha total surpresa, fui o primeiro passageiro a sair!)
fonte: aqui
Desta vez, fui o último ...
Desta vez, fui o último... Depois de hora e meia de total tonteira no interior do aeroporto! Explico: Eu trouxe junto da bagagem, em recipiente apropriado, um animal canino, tamanho bezerro. Após demorada busca fui encontrá-lo junto à porta fechada de um gabinete veterinário (muita falta de orientação!). Mais alguns eternos minutos e achei um funcionário que me deu seguras informações e telefonou para o responsável sanitário informando-o da presença de um passageiro acompanhado de um animal. Depois de mais uma eternidade apareceu um funcionário que verificou toda a documentação exigida para a entrada do animal no país, quando então, fui liberado. Da parte de fora, intensa e pacientemente, aguardavam-me, preocupados, dois amigos.
fonte: Arruda dos Vinhos aqui
Cerca de uma hora depois já me encontrava confortavelmente instalado numa bela casa de Cardosas, no Conselho de Arruda dos Vinhos, onde tive oportunidade de contemplar muitas vinhas bem cuidadas, cheias de cachos maduros. O momento era de vindima. Em vão, a vontade de participar foi imensa. Todavia, teria que aguardar com muita ansiedade, o momento desta viva e alegre cultura popular, até que finalmente chegasse à minha freguesia natal, a agora Vila de Bustos!
«>Oportunamente daremos continuidade a esta história de rebenta coração!<»
Adenda
A circunstância de aniversário de Oscar A. Santos,
aqui,
Aris
tides C. Arrais reaviva …
"... uma das lições de meu pai que guardei ..."
Em tempo: Meu caro amigo Oscar. Com a certeza de um rico e feliz caminhar pela vida, cumprimento-o pela passagem de seus joviais 63 anos.
Li com muito gosto, suas curiosas observações sobre minha ficha histórica da escola primária. De fato tive cinco faltas seguidas, Ficara doente com forte constipação. Fora um breve período de intenso frio e chuva. De volta à escola, meu pai, alfaiate, fez-me pela vez primeira umas calças cumpridas, verde xadrez de lã, para que eu ficasse melhor agasalhado. No primeiro dia de retorno, o professor José Pires, chamou-me ao quadro negro, para resolver uma questão de matemática, de lição que fora explicada à classe, na minha ausência. A total ignorância sobre a matéria daquele ponto, impacientou de tal maneira aquele grande mestre, que ele acabou por me aplicar um tremendo cachação com a cabeça batendo no quadro. Coisa rara naquele bom professor que provocou em mim, profundo sentimento de injustiça. Naquele dia, ao chegar em casa falei do ocorrido ao meu pai. Dia seguinte ele foi comigo até à escola, falar com o professor, na minha frente:
- Senhor professor... Meu filho contou-me o que se passou, ontem, com ele, ao ser chamado ao quadro negro. Pois venho aqui para dizer-lhe que quando ele precisar, não o poupe... ele está aqui para aprender--- se não souber dê-lhe o devido castigo, conforme achar o mais adequado!.
Esta foi uma das lições de meu pai que guardei pela vida fora.
Sem comentários:
Enviar um comentário