4 de maio de 2011

TROVISCAL (MUSEU DE ETNOMÚSICA) -CONVERSA COM SILAS GRANJO NA HOMENAGEM A MARTINHO MARTINS. -


Sábado, 30 de Abril - O Museu de Etnomúsica do Troviscal homenageou uma prestigiada Figura da Música, Martinho Martins. Silas Granjo traçou um roteiro profusamente documentado do percurso d’Os Perus. Memórias, saudade, dificuldades, aventuras. O regresso aos bailes foi “ensaiado” por Henrique Tomás e adoçado com excertos de duas gravações dos anos 60. “As conversas no museu da música” estão a caminho da consolidação. O Presidente da Câmara tem feito por isso. Está criada a oportunidade para que sejam publicados cadernos das conversas no Museu... E sobre a Homenagem a Martinho Martins, quem melhor pode escrever o caderno? … Silas Granjo, pois.
E, coincidência ou não, inolvidável Mestre sempre de ouvido à escuta, lá estava firme, no seu lugar, a guardar a exposição “cem anos” da Banda do Troviscal: o Prof. José de Oliveira.


Obs: Adelino Martins trouxe uma peça adornada com harmonia da “Divina Arte”, merece ser lida:
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Senhor Presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro;
- Senhoras e Senhores:
Acabámos de assistir à evocação da Orquestra de Jazz "Os Perús do Troviscal" e do seu lieder carismático, Martinho Martins. Tratou-se, efectivamente, de recordar um período fértil de vivências, de divertimento, cultura e satisfação geral, que perpassaram por inúmeras gerações e que deixaram marcas de felicidade nas nossas mais gratas e recônditas recordações.
Por isso, encontramo-nos hoje aqui para avivar e sublinhar esses inesquecíveis momentos que a Orquestra "Os Perús" a todos proporcionou ao longo de várias décadas da sua existência, transportando e elevando sempre o nome do Troviscal e do seu concelho a inúmeras regiões do nosso país.



Para mim próprio como (estou certo) para todos os elementos que tiveram o raro privilégio de integrar a orquestra desde a sua fundação, a actividade desenvolvida representou uma boa escola de aprendizagem, em que todos nos habituámos a cultivar os valores da sã camaradagem, da solidariedade, consideração e respeito mútuo. Só assim se explicará e compreenderá a longevidade que a orquestra logrou alcançar, somando êxitos atrás de êxitos e vencendo, até, algumas crises internas que teve de enfrentar com ânimo e determinação.
A envolvência humana a que a orquestra esteve exposta, nos arraiais, nos mais diversos salões de baile, actuando para extractos populacionais transversais a toda a sociedade, as múltiplas peripécias que se passaram ao longo de muitos e muitos anos, foram motivo de enriquecimento pessoal dos seus componentes, cuja dimensão extravasa e está para além do cidadão comum.
Acerca da Orquestra "Os Perús” do Troviscal, é sempre possível traçar quadros analíticos, sejam quais forem as sensibilidades e os diferentes ângulos de observação. Sob o ponto de vista da sua estrutura instrumental há que considerar:
. a 1ª formação, com os seus músicos fundadores, a qual foi sujeita , como não poderia deixar de ser, a vários reajustamentos, no que concerne a elementos que saem e a elementos que entram;
. a 2ª formação, que corresponderá, mais ou menos, à era pré-Beatles, inspiradores do movimento Rock and Roll, cujo género de música revolucionou o mundo;
. a 3ª formação, aquela que corresponderá à passagem de denominação para Conjunto "Os Perús", em que a estrutura instrumental passou a ser mais reduzida e a utilizar, em crescendo, equipamentos sonoros e electrónicos cada vez mais sofisticados.
Por outro lado, é possível avaliar o desenvolvimento e a progressão da orquestra, no que diz respeito às ferramentas de trabalho utilizadas.
No início, e ao longo de vários anos, a Orquestra "Os Perús" desenvolveu a sua actividade contando somente com o som natural dos seus instrumentos. Não havia vocalista (ao tempo não se usava) e o público, quer fosse em recintos fechados ou ao ar livre, escutava a orquestra praticamente em silêncio; dá-se, então, a chegada das primeiras aparelhagens sonoras, as quais representaram uma imensa novidade tecnológica para a época! Quem não se recorda das aparelhagens Geloso ou Philipps, com altifalantes de corneta e dispondo apenas de um só microfone que era colocado à frente da orquestra, sensivelmente a meio do palco?!. O início da era electrónica, com as guitarras eléctricas, órgão e outros instrumentos, bem como a própria evolução das aparelhagens sonoras vem mudar, substancialmente, o panorama dos chamados grupos de baile. Actualmente, como todos sabemos, por razões económicas ou outras, o figurino predominante levou à extinção de vários agrupamentos, uma vez que as sessões dançantes passaram a ser direccionadas para as discotecas, as quais utilizam música gravada (animada por um qualquer Disc – Jockey) e assim se vêem livres do pagamento de cachet às orquestras ou conjuntos.


(foto de arquivo)

Senhoras e Senhores, caros amigos: revejo-me e concordo, praticamente, com tudo o que aqui foi dito e, por isso, em meu nome pessoal e, muito particularmente, em nome do meu Pai, Martinho Martins, único fundador vivo da Orquestra/Conjunto "Os Perús" do Troviscal, desejo exprimir agradecimentos ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, Dr. Mário João Oliveira, cuja presença nesta sessão, só por si lhe confere um significado especial que não devemos omitir ou olvidar; aos promotores desta iniciativa, fazendo votos para que ela não tenha sido em vão, antes pelo contrário, coroada de êxito;a todos os presentes (incluindo os companheiros da orquestra) que quiseram e puderam associar-se a esta homenagem e a este evento; ao palestrante/conferencista, Dr. Silas Granjo, pelo óptimo trabalho que produziu e conduziu na perfeição, para que pudéssemos desfrutar este momento de forma simples e deveras cativante.
Não há dúvida que o Dr. Silas está predestinado para estes cometimentos. Para além de ser um homem de cultura, sente a sua (e nossa terra) com uma intensidade invulgar. Sabemos que é versado em Letras e que nutre grande paixão pela Música. Aos poucos vai demonstrando que também gosta de História e da Investigação. Por isso o incentivamos, vivamente, a continuar na senda de novos trabalhos e a tirar partido das suas capacidades que são muitas.
Em conclusão, importa reconhecer o percurso realizado pela Orquestra"Os Perús " do Troviscal que fez história num período único e irrepetível. Pouco ou nada mais restará do que alguma documentação, repartida por fotografias, recortes de imprensa e alguns registos fonográficos, a par de saudosas memórias de um tempo que não volta mais. De qualquer forma, as memórias teimam em perdurar e, por isso, como troviscalense, aqui expressamos um desejo, muito sincero e profundo, para que a tradição pela actividade musical, que aqui se foi enraizando ao longo dos tempos, se mantenha e desenvolva, tomando como ícone, em pano de fundo, a referência tutelar do Professor José de Oliveira que, directa ou indirectamente, tão bem nos soube transmitir o exemplo e um certo fascínio pela magia da Divina Arte! Obrigado a todos.
Disse, em 30.04.2011, no Museu de Etnomúsica da Bairrada.

(Adelino Martins)

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