31 de janeiro de 2011

IPSB - Escola Particular e Serviço Público: testemunho dum Professor

Chamo-me Telmo Domingues. Bustoense, nascido e criado. Quarenta e três anos, vinte e oito dos quais ligado diariamente ao IPSB: nove como aluno, dezanove como professor. Sou das pessoas menos indicadas para defender, com objectividade e imparcialidade, o nosso Colégio Frei Gil. Neste contexto, e a esta escala global, na internet, o impacto da minha opinião é nulo.

Além disso - pode legitimamente argumentar-se  - há a hipótese de eu estar a forjar uma opinião com objectivo de satisfazer os meus interesses pessoais: é o meu emprego que está na linha de fogo (ainda que seja um dos dois professores de Biologia e Geologia mais antigos da casa...) e aos olhos de quem não me conhece, esta poderá ser não mais que uma manobra de diversão... Ainda assim, com a objectividade abalada pelo amor à casa, a insignificância como companheira e com a minha credibilidade em prova, penso ter um contributo válido a dar.

O Colégio Frei Gil é uma escola particular com contrato de associação, instalada na nossa comunidade há mais de 40 anos por iniciativa do padre Dominicano Frei Gil – o “nosso” Frei Gil. Desde a sua fundação e até hoje, o projecto de Frei Gil sempre foi respeitado e acarinhado – é uma escola do Povo, para o Povo.
O Instituto de Promoção Social de Bustos (actual designação do Colégio Frei Gil), como o seu nome claramente sugere, pretende ser – e é - isso mesmo: um instrumento de promoção das gentes da nossa terra. Os milhares de pessoas que por nós passaram ao longo de várias gerações são o testemunho vivo da nossa cultura de diversidade, do nosso investimento em Valores, tanto quanto em competências e conhecimento. Todas as pessoas, desde as mais humildes às mais abastadas, foram e são recebidas com a mesma alegria e intenção - nunca fomos, nem nunca seremos, uma escola para meninos ricos, muito antes pelo contrário!

Somos, com todas as letras, uma instituição de verdadeiro serviço público, reconhecida e acarinhada por toda a comunidade regional. Problemas? Claro que os há! Não consigo evitar uma grande azia quando, por exemplo, penso na quase indiferença que a escola dispensa ao milagre que nos puseram ali ao lado, na Mamarrosa, que dá pelo nome de IEC...  Não consigo digerir a falta de oferta educativa de uma escola como a nossa à comunidade de adultos... Não suporto a presença de pessoas que ainda não perceberam que Escola e Educação são conceitos dinâmicos... Rejeito compulsivamente a inércia instalada em alguns sectores...
No contexto actual, o que está em causa é muito mais preocupante que o fantasma do desemprego de alguns professores e funcionários. O que está em causa é a continuidade de um projecto sobejamente conhecido pela sua abrangência social e, ainda assim, pela qualidade comprovada da Educação prestada. 
Como já se disse, inclusivamente na Assembleia da República, é preciso distinguir o trigo do joio, antes que seja tarde demais. As iniciativas dos Encarregados de Educação têm sido absolutamente louváveis e motivantes, contribuindo positivamente para essa distinção. Ao contrário do que alguns pensam ou pensaram, os professores não ficaram indiferentes ao apoio à escola, na manifestação organizada pela APECOB. Os professores tiveram que cumprir com o que a lei determina – estar no seu local de trabalho para prestar um serviço educativo. As inspecções a que as escolas estão a ser sujeitas por causa da interrupção das aulas, atestam que agimos bem ao “distanciarmo-nos” do manifesto.

Mas, como diz o Óscar Santos, as manifestações de rua não chegam. Tem de haver um movimento em bloco de todos os que se identificam com a nossa escola divulgando, em todas as frentes, o nosso Projecto Educativo. Temos de nos demarcar dessa horda de oportunistas que, efectivamente, usam e abusam dos nossos impostos para proveito próprio. Sem histerias nem fanatismos é importante, neste momento, saber ouvir as pessoas que não nos conhecem. Ouvir as suas críticas, por muito injustas ou inadequadas que sejam e, com serenidade, mostrar-lhes quem somos e o que representamos, o caminho que traçámos e as directrizes que abraçamos. É muito importante, agora, que todos os nossos ex-alunos, principalmente eles, levem a sua voz até onde puderem, para que o maior número possível de pessoas perceba que somos, de facto, uma escola diferente daquilo em que nos querem tornar. Mas façamo-lo de forma livre e genuína, como sempre ensinámos, como sempre aprendemos."

Agradeço-vos o esclarecimento que tem sido prestado, porque é disso mesmo que se trata - esclarecer as pessoas.

Abraço
Telmo
__
- O Telmo é também um excelente fotógrafo. Daí 2 das suas "fotografiquices" [Costa Nova del Prado e Molhe Sul/Praia da Barra].

4 comentários:

  1. Este excelente e muito corajoso texto do Telmo Domingues mereceu uma notícia no sítio do próprio IPSB, que pode ser consultada em http://ipsb.info/noticia/

    ResponderEliminar
  2. Anónimo23:45

    Gostaria de saber da parte da administração do IPSB, o porquê de nunca ter existido o ensino nocturno, privando muitas pessoas de Bustos e de outras vilas próximas, que para poderem estudar à noite, terem que fazer bastantes kilómetros para adquirirem mais algum conhecimento.
    Onde está o sentido humano e social, pois essas pessoas trabalham durante o dia e o colégio recebe do estado milhares de euros de todos os contribuintes.

    ResponderEliminar
  3. Anónimo19:34

    Às vezes, o sentido humano e social esbarra em burocracias e em vontades de entidades maiores - aquelas que determinam os cursos que o IPSB pode "abrir" ou não. O Colégio quer; ou melhor, vem querendo. E este ano estou certo de que vai voltar "à carga", contando ter sucesso.
    E convém esclarecer, também, que o financiamento para esses cursos é autónomo - por exemplo, os EFA (educação e formação para adultos) decorrem de uma candidatura ao QREN; isto é, "os milhares de euros" que o IPSB recebe servem para manter em funcionamento as turmas do ensino básico e secundário. E mais nada.

    andré moreira

    ResponderEliminar
  4. Bruno Figueiredo14:52

    Sou um ex-aluno do IPSB, instituição de onde saí em 2003 para ingressar na Universidade de Aveiro e é com algum desagrado que tenho encarado a situação relativa aos estabelecimentos de ensino privados ou em regime de associação. Quero apenas aqui dizer, que se dúvidas há em relação à qualidade de ensino no IPSB, basta que reúnam os ex-alunos que a par de mim foram finalistas em 2003, pois tenho a certeza que terão todo o gosto em dar o seu testemunho em relação aos dias de ouro que viveram no IPSB e em que excelentes posições intelectuais se encontram! E quanto ao sentido social e humano que o IPSB tem; esse é inquestionável. Pena é que não possamos, ainda, "escolher" a escola em que os nossos futuros filhos virão a estudar. Tenho a certeza que todas as escolas arredores teriam de se reinventar para poderem concorrer com o IPSB, que sempre esteve na vanguarda!

    Abraço, Prof. Telmo

    ResponderEliminar