27 de janeiro de 2011

COLÉGIO DE BUSTOS: vencer o futuro

Os acontecimentos de ontem no IPSB merecem novas reflexões:
1ª – Espera-se que as iniciativas de rua ontem levadas a cabo tenham ajudado pais, alunos, professores, funcionários e população em geral a perceber melhor o que são direitos fundamentais dos trabalhadores: direito ao trabalho e a uma compensação justa, direito à greve, direito à indignação.
Até nos bater à porta, somos ligeiros a criticar aos outros aquilo que, afinal, também desejamos para nós.

Concluída (quase…) a fase das arruadas, importa agora posicionar o IPSB no contexto da luta que o ensino particular está a travar e daí avançar para uma 2ª reflexão:
Serão todos os colégios merecedores do mesmo tratamento? Impõe-se ou não separar as águas, distinguindo o trigo do joio? Quantos colégios não passam de sociedades mercantilistas ou empresas familiares viradas para o lucro e partilha de benesses em circuito fechado? Já agora: vamos continuar a criticar o Estado por males e vícios que nós próprios cultivamos?
O Colégio de Bustos (ou do Sobreiro, ou IPSB, ou Colégio Frei Gil, como lhe queiram chamar) tem uma história, uma matriz, uma base socio-ideológica que o colocam num patamar distinto dum boa parte dos estabelecimentos de ensino particular do país.
Nascido no início dos anos 60 da iniciativa de bustuenses preocupados com o desenvolvimento da sua terra e depois de passar pelo que alguém chamou "grupo de Oliveira do Bairro", o Colégio de Bustos veio a ser adquirido pelo troviscalense Frei Gil e incorporado na denominada Obra do Frei Gil, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) de matriz religiosa, a designada “Sociedade de Promoção Social da Obra do Frei Gil”. Além de proprietária do que passou a designar-se Instituto de Promoção Social da Bairrada (IPSB), a Obra detém ainda mais de uma dezena de centros de acolhimento de crianças abandonadas e jovens em risco.
O IPSB não é, nunca foi, um colégio para filhos de pais ricos. Antes é – como sempre foi - frequentado pelos filhos de Bustos e das freguesias circunvizinhas, sem olhar aos recursos dos que acolhe e com o rosto voltado para a comunidade, como ali se prega e escreve nas paredes em letras grandes.
As raízes que criou e os valores e princípios que incorporou colocam-no num patamar distinto do ensino público. Patamar que não se quer concorrente com aquele, muito menos antagónico.

Além de pouco inteligente e falaciosa, a argumentação dum ensino privado melhor e mais barato inculca a ideia de que o Estado se deve demitir das suas obrigações sociais. A ser assim, entregava-se tudo de mão beijada aos privados: hospitais, saúde, assistência social, universidades, autarquias, tribunais…
Não se trata de mudar de moleiro ou de ladrão, mas de garantir o direito à diferença  através da escolha ponderada de dois processos educativos à disposição duma comunidade bem concreta, cujo projecto educativo merece continuar a ser protegido e apoiado pelo Estado em condições que garantam o seu futuro em condições idênticas às dos últimos 30 anos.
Pede-se o que é socialmente justo, adequando-o a cada caso, o que em nada interfere com o primórdio do ensino público.

Entretanto, se há mazelas, tratemos de as curar.
A introspecção ou - se preferirem - a penitência, só nos purifica.
E faz de nós melhores presidentes, melhores deputados ou ministros dos vários reinos.
Em suma, melhores cidadãos.
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Imagem extraída do site do IPSB.

Oscar Santos

1 comentário:

  1. Anónimo12:43

    O Estado está a investir milhões em novas escolas com todas as valências necessárias. No nosso concelho o investimento é brutal com a construção de um novo pólo escolar em cada freguesia!!!Um luxo.

    Para além deste investimento o estado apoio monetáriamente associações como o ABC, a Só Bustos, o Colégio Frei Gil, etc. Multiplicam-se as instalações e os serviços que não obedecem a qualquer racionalidade. Por exemplo, as instalações de creches existentes estão a multiplicar-se enquanto diminui o número de crianças. Um dia destes o ABC tem mais lugares que frequentadores!Mas cada instituição terá a sua creche.

    Seremos um país tão rico que o Estado pode investir em toda a parte e financiar até os privados? Iremos sacrificar o nosso futuro global só porque não há coragem política para mexer em tantas capelinhas?

    Não estão em causa os méritos do IPSB nem o trabalho que todos têm desenvolvido. O que está em causa é o futuro do país. E de uma vez por todas temos de pensar algo que é essencial. Ao Estado o que é do Estado aos privados o que é privado!
    Basta de uma cumplicidade que não serve o nosso futuro. Há Estado a mais entre nós. Acabe-se com esta subsídio dependência. Acabe-se com a hipocrisia de quem acusa o Estado de ser despesista e depois exige que o Estado seja despesista só porque pensa tirar dividendos políticos. É essa demagogia, que Cavaco Silva tão bem utilizou na última campanha eleitoral, que vem liquidar as nossas possibilidades de progresso, o nosso futuro. E nós não podemos continuar a endividarmo-nos. Haja coerência que é coisa que tanto nos tem faltado. Quanto ao Colégio de Bustos, que continue a sua obra magnífica e que, enquanto instituição privada, assuma a nova realidade e diga com orgulho: Somos iniciativa privada não queremos mais nada com os dinheiros públicos.Sejam VERDADEIRAMENTE livres.
    Haja coragem!

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