25 de janeiro de 2011

"Chegou o carteiro das nove p´ras dez ... " *



As cartas da saudade

«Naquele tempo, vinham cartas de França, da Alemanha, ainda aerogramas dos últimos soldados no ultramar. Eu chegava e era uma festa. O carteiro era o recoveiro de saudades, selava as cartas, depositava-lhes o dinheirinho. As pessoas confiavam-me tudo. Pediam-me para levar encomendas, tratar de vales, telegramas. Evitavam de ir eles a pé até à estação. Havia muita gente que não sabia ler e nos pedia que lhes lêssemos as cartas. Mas era proibido. Nós não podíamos fazer isso.»

A julgar pelo sorriso, o Sr. Joaquim terá feito letra morta da proibição.

«As pessoas confiavam no carteiro, convidavam-no para almoçar e para as festas. O carteiro era uma figura pública. Pediam-lhe para enviar encomendas pelo Natal, sabe, uns chouriços, umas castanhas, os mimos do tempo. Naquele tempo não havia publicidade. Era tudo correio selado, não havia máquinas de franquiar, por isso eu andava sempre com uma carteira de selos. Havia quem fizesse colecções de selos e pediam-nos se lhes arranjávamos selos carimbados (só assim é que tinham valor).»

odete ferreira, aqui

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* da canção 'O carteiro', de António Mafra.

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