Esta Gente
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
Sophia de Mello Breyner

Nota de rodapé:
Os homens que morrem não partem sozinhos. Alguns levam com eles um tempo, uma época das nossas vidas. Eles morrem e um pedaço de nós parte com eles. Vai-se para todo o sempre.
Chorando a morte dos outros choramos também a nossa, que vai acontecendo assim, aos bocadinhos.
Vamos falecendo em cada morte que nos toca, que nos marca.
B.C
Sem comentários:
Enviar um comentário