Mas... Com um pedido de desculpa pelos meus devaneios, devo dizer que já havia desenvolvido uma outra matéria dentro da série “recordações de longínquo passado”, quando me deparei, positivamente surpreso, com os comentários que permearam o texto anterior.
A indústria do ti Manel da Barroca, foi para mim um pedaço da vida, para sempre guardado num cantinho do íntimo baú da minha memória infanto-juvenil. Pedaço, ora ainda mais enriquecido com os comentários recebidos, que estão a exigir de mim, uma entrega ainda maior na medida em que me apercebo serem tais escritos, fontes de boas recordações também para meus conterrâneos. Faço disto uma forma de humilde retribuição àquilo que o meu Bustos me concedeu: Uma infância e entrada de adolescência, cheia de beleza, vida e alegria a correr pés descalços pelos caminhos estreitos dos campos sublimarmente verdes quanto floridos, como usuário inconsciente de uma liberdade não concedida, indiferente e imune às terríveis conseqüências de um mundo insano a se violentar numa guerra fratricida ( 2ª grande guerra de 37 a 45).
Confesso que os comentários referidos mexeram muito com o meu emocional de gratidão, que logo me conduziu aos escritos do NB, idos de março de 2006. Em alguns dos textos ali impressos, eu consegui reencontrar-me com uma porção de flexíveis acontecimentos que me auguraram novas e gratas recordações...
Ao tempo de minha chegada às indústrias do ti Barroca, foi comprado um novo torno de dimensões menores que o primeiro lá existente, no qual Abel se fixou. E eu, aprendiz, transitava pelos dois, absorvendo com muito interesse e motivação as boas lições práticas do ofício. Nossa amizade foi de tal monta estreita, que proporcionou de minha parte, alguns favores extra-oficio ao saudoso Abel, no universo de seus amores escondidos, posto que fui feito discreto e confiável portador de incontáveis bilhetinhos amorosos que mais tarde levaram aquele companheiro amigo, ao altar de sacramentado casamento.
Como medalha deste tempo feliz, mantenho como centelha presente, uma boa cicatriz em dedo da mão direita, oriunda dos considerados acidentes do trabalho, que levou quatro pontos delicadamente (ai que dor...) aplicados pelo doutor Vicente.
Minha memória de sessenta anos atrás, algumas vezes se parece com imprevistas falhas de energia elétrica onde a lâmpada pisca, pisca, mas nos mantém às escuras: Seria este meu grande mestre de torneiro, o Alberto, citado por seu filho, num dos comentários?
Deixando a modéstia de lado, o número de vitórias dos gavetas foi muito maior do que as esporádicas vitórias dos canecas...
- Tustás loco? Onde jássebiu, óome!... Jogadoire de futbole é prufssão debagabundos!
Concluo mais este vislumbre de memória com uma curiosidade: Algumas semanas após minha chegada ao Brasil (novembro/dezembro de 51), Manoel Vieira, então morando em São Paulo, passou por casa e me levou, pela vez primeira, para ver um jogo de futebol no Pacaembu*, entre a Portuguesa de Desportos (time da colônia) e Santos. A portuguesa perdeu de 2 a 1. E eu fiquei para sempre, um afeiçoado torcedor do Santos Futebol Clube, o time do surgido mais tarde, rei Pelé.
* Pacaembu, era àquele tempo, o principal estádio de São Paulo e o segundo mais importante do Brasil (o mais importante era o Maracanã, palco de triste memória na Copa de 1950 realizada no Brasil).
Em tempo: Devido a alguns “probleminhas” técnicos estou sem prestar minha colaboração ao blog devaneios que mudou para aqui ou http://www.devaneios-atuais.blogspot.com/
Dentro de alguns dias, ora reconvidado, voltarei a colaborar com o mesmo.