Quando o molho de vides entrava no forno, pronto a transformar-se em brasa, já a mistura de farinha de milho, trigo e cevada levedava na gamela coberta por uma manta grossa. Crescia a massa depois de muitas voltas e reviravoltas à mistura com água morna, uma pitadinha de sal e a dose certa de fermento. Crescia em repouso depois de uma luta suada, que amassar pão exige mãos destras, punhos fortes, tanto quanto uma sabedoria científica, pois se os vários elementos não forem misturados em dose certa e devida bem pode a massa ficar agarrada ao fundo da gamela, sem vontade de se transformar em coisa alguma.
Mas não basta a ciência para justificar a levedura, são precisos gestos certos, circunstâncias adequadas e alguma cerimónia. Há até quem diga que a massa não cresce se for volteada por mãos de mulher menstruada, pelo que o mais seguro é respeitar todas as tradições, sem esquecer esse gesto final antes de cobrir a gamela e deixar tudo em repouso; o fazer da cruz, dois pequenos regos sulcando a superfície da massa, cruzando-se. Um selo para melhor se garantir a levedura, e tudo proteger dos maus-olhados.
E quando o forno estava quente, nem mais nem menos, mas com a quentura adequada, as “bôlas”, envoltas em farinha, deslizavam da pá de madeira aconchegando-se lado a lado, prontas a receberem o calor da tijoleira. E a transformarem-se em côdeas e miolo. E a serem sustento e vida.
Primeiro foi a broa de milho, depois a fogaça de mistura, mas ontem como hoje o meu pedido é só um:
- Mãe, faz uma “bôla” com chouriço! Chama-me quando a tirares do forno a fumegar quentinha, que eu quero voltar a encontrar a felicidade num pedaço de pão.
BC
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