Ordenamento, requalificação, arranjo urbanístico, urbanização, plano de pormenor, biodiversidade, ambiente, etc são termos de fácil utilização mas de difícil e intrincada concretização. Para evitar a repetição dos erros cometidos na «requalificação(?)» da zona envolvente da Igreja, é desejável que seja aberto o fórum anteriormente proposto por Arsénio Mota e Alcides Freitas. Recuperam-se os textos editados em 3.09. 2005 e16.02.2005, respectivamente. (srg)
ARRANJE-SE O CENTRO!
Bustos tornou-se conhecido ao longo dos tempos pelas curvas da sua via principal e, sobretudo, pelo S que lhe congestiona o centro. As melhorias correctoras recentes foram algumas mas foram escassas. Impõe-se ali uma intervenção urbanística de fundo agora que a aquisição e demolição pela autarquia da casa que foi de Manuel Simões Lusio relança o assunto!
No fim de contas, é toda a zona da igreja, ruas Jacinto dos Louros e 18 de Fevereiro, até ao largo do palacete (Rua do Cabeço) que entra em cena. Dentro dela ficam o cinema, os cafés Piripiri e Quim, o terreno da família Aires (onde funcionou o café Recreio) e, um pouco adiante, os que pertenceram aos irmãos Micaelo e à mãe da Lila e do Neo.
A importância urbanística e a relevância social desta intervenção – que por ora meramente se adivinha ou apenas se almeja – são tão avultadas que aconselham a máxima ponderação e uma adequada inteligência. Convém que técnicos competentes elaborem o estudo prévio e que em seguida este seja posto à apreciação e discussão públicas, designando com toda a clareza o construído que existe e será eliminado e os respectivos custos financeiros.
Ninguém poderá contemporizar com uma intervenção de vistas curtas, feita de «remendos» pontuais apressados, isto é, sem uma visão clara de futuro com base em projecto global discutido e aprovado. A confusão de ideias sobre o que irá implantar-se no espaço da antiga casa de Manuel Simões Lusio (ver os «Comentários» no local próprio) exprime bem o que deve ser evitado pelos responsáveis da autarquia.
Depois de ficar elaborado, discutido e aprovado o plano de arranjo urbanístico para o centro nevrálgico de Bustos, poderá avançar-se passo a passo, conforme as possibilidades, na sua concretização no próprio terreno. Importa é que esse plano seja traçado com visão larga, recolhendo a maior soma possível de contributos válidos. Neste sentido, lembro a propósito as sugestões que o amigo e conterrâneo Alcides Freitas tem feito… e ele, com toda a sua experiência, sabe bem do que fala! E, sem dúvida, outras propostas se manifestarão.
Na verdade, vocês já sabem, o futuro começou ontem. Por isso, não continuemos hoje a bocejar, entretidos com intrigas da história da carochinha.
É o que vos diz o abaixo assinado,
Arsénio Mota
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LEMBRANDO BUSTOS
Por Alcides Freitas
À medida que nos aproximamos de mais um aniversário da emancipação de Bustos como freguesia, sinto-me inclinado a rever e reflectir sobre algumas das grandes mudanças que nas últimas quatro décadas têm afectado a vida social, económica e política dos bustuenses.
Hoje, a qualidade da vida dos bustuenses é imensamente melhor do que aquela vivida pelos nossos conterrâneos nos últimos quarenta anos. Ainda há muita gente na terra que se lembra bem da dureza da vida nesses tempos. As estradas eram más, as casas não tinham quase nenhuns confortos, não existia luz pública por todo o lado, assistência social ou médica nem a sonhar, não havia reformas que pudessem garantir necessidades básicas nos derradeiros dias da vida de cada um, o primário meio de transporte era a bicicleta, a maioria das pessoas ganhava o seu pão amanhando as terras todos os dias da semana do levantar ao pôr-do-sol, e a maioria das crianças começava a vida de trabalho logo depois de terminarem a quarta classe. Felizmente, esse tempo faz parte do passado.
O Bustos de hoje tem um aspecto moderno. Há casas novas e modernas em toda a parte onde antes existiam casas velhas e degradadas. As estradas estão todas devidamente pavimentadas e há iluminação pública em todas elas. Muitas das antigas valetas foram eliminadas e substituídas por um sistema moderno de drenagem. Onde as condições físicas os têm permitido, passeios para peões foram instalados. Até algumas das ruas principais têm sido embelezadas com a plantação de árvores. Outros melhoramentos que têm contribuído para a modernização de Bustos são o fornecimento de água e o saneamento público.
A agricultura, que foi a base económica da nossa terra, está a perder o seu valor em favor de novas indústrias e do comércio local, que continuam a crescer e a criar novos postos de trabalho para os bustuenses e os vizinhos. Infelizmente, estas condições estão a acarretar problemas para a agricultura que parece não tem condições económicas para reter ou atrair trabalhadores que possam cultivar as terras férteis na freguesia. O número das pessoas interessadas no cultivo das terras, como profissão, está a diminuir drasticamente. As consequências são potencialmente muito negativas e necessitam de soluções.
Nas últimas décadas, Bustos tem tido também grandes mudanças na sua vida social. Nos tempos passados, antes da era da televisão e antes do uso comum do automóvel, o centro de Bustos era a sala de visitas da gente da terra. Ali se congregavam todas as noites, depois do trabalho e aos fins-de-semana para conviver, rir, discutir assuntos de caça e futebol, falar disto e daquilo, beber uns copos, tomar um café, ver cinema ou ir ao bailarico. Nesses tempos, Bustos atraía mesmo muitos forasteiros de toda a região. Havia muita vida no centro da vila.
Com a chegada e uso da televisão em quase todas as residências da freguesia, o número de pessoas que habitualmente frequentavam e visitavam o centro, diminuiu. Agora tinham o seu entretimento em casa. Já havia menos razões para frequentarem o centro. Com o uso extenso do automóvel, o bustuense ganhou mobilidade e um fácil acesso a outros centros sociais; agora começou a aparecer noutros lugares da freguesia e noutras povoações na região. Gradualmente, o centro de Bustos perdeu o seu apelo e entrou numa era de alguma estagnação. Apesar de tudo, é no centro de Bustos que se encontram importantes instituições públicas: centro cultural e recreio, Junta de Freguesia e alguns estabelecimentos comerciais. Mas é evidente que o centro de Bustos necessita de atenção e apoio para que seja capaz de retomar o seu lugar como Centro Social e Cultural da Vila.
É óbvio que tem havido uma melhoria significativa na qualidade de vida dos bustuenses. Mas há ainda muito que necessita de ser feito para continuar a melhorar as condições de vida na nossa terra. Agora que nos preparamos para celebrar mais um aniversário da freguesia, parece-me oportuno sugerir algumas medidas que, se oportunamente implementadas, poderão contribuir para um Bustos melhor e mais próspero.
- Submeter uma petição à Junta de Freguesia e à Câmara Municipal para que se inicie a preparação de um Plano Pormenor para o Centro de Bustos. O plano deveria ser «guiado» por objectivos a preparar pela Junta com a participação do povo.
- O lugar da Feira, um espaço de grande importância, não está a ser utilizado como devia ou podia ser. Presentemente, o espaço é utilizado duas vezes ao mês. Com um pouco de imaginação e criatividade, seria possível criar um sítio moderno para a Feira do Sobreiro construindo no lugar algumas estruturas completamente abertas mas cobertas, e uma estrutura convencional destinada a multifunções. O espaço da Feira poderia vir a ser um lugar privilegiado para funções de comércio público, exibições de produtos industriais, actividades de natureza cívica e cultural, etc. etc.
Algumas destas actividades poderiam ser uma fonte de receitas para a Junta de Freguesia.
- Bustuenses, em posição de liderança, deveriam organizar um Simpósio Regional para avaliar os problemas que presentemente afectam a agricultura na nossa região. Representantes do Ministério da Agricultura, agrónomos, economistas, agricultores locais e da região e líderes políticos deveriam ser convidados a participar para focar os problemas que a agricultura enfrenta e explorar soluções.
O propósito destas sugestões é estimular discussão e trocar ideias com outros conterrâneos sobre tipos de projectos ou acções que possam contribuir para um Bustos mais desenvolvido e próspero.
Feliz aniversário, Bustos!
Alcides Freitas
Califórnia, 28 de Janeiro,2005