9 de março de 2006

CASA DA CÂMARA - CADEIA - CASA DA RÁDIO ou O FADO DA DEMOLIÇÂO

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“Todos sabemos também que Património:

Não são os monumentos e obras arquitectónicas

construídas a partir do séc. XX.”
In Acílio Gala, (Ainda) o caso da Casa da

Câmara, Jornal da Bairrada, 23.02.2006.

Levando à risca a norma transcrita, a Igreja de Bustos não chegará a ter estatuto de imóvel de Interesse Municipal porque foi construída em meados do séc. XX.
Bem, deixando os elementos atmosféricos com a sua pertinaz acção erosiva na igreja consagrada a São Lourenço, vamos mudar o azimute para o ping-pong partidário lá para as bandas da casa da câmara – cadeia – rádio de Oliveira do Bairro.

Foi necessário ter havido mudança de inquilinos das cadeiras em consequência das eleições autárquicas da sede do concelho para se ter percebido que a atribuição do estatuto (Interesse Municipal) estava pervertida por não ter havido discussão pública. Em bom rigor, era o q. b. suficiente para impor o regresso à estaca zero de todo o processo.
Acílio Gala chamou “vício de forma de mero carácter administrativo” ao silenciamento da voz do cidadão na discussão pública. [uma visita de estudo pelo mundo autárquico dos states talvez trouxesse na bagagem algumas ampolas estimulantes da vivência democrática].

Os mandatos de Acílio Gala deram para conhecer algum desvirtuamento da História.
Por exemplo, hipervalorizou a figura de D. Manuel I e excedeu a importância da carta de foral concedida à terra de Oliveira do Bairro[1].
Seguindo Américo Figueira, “Os forais manuelinos, contrariamente aos antigos que nos chegaram desde os primeiros anos da nossa monarquia, não eram uma legislação que favorecia os interesses das populações locais, mas tão-só um repositório de textos e tributos que os povos tinham de pagar”[2]

Mais, analisando a carta de foral, o «concelho, que não era», promovido por Acílio Gala não ultrapassa, compreende, grosso modo, o actual território da freguesia de Oliveira do Bairro.
Bustos, integrado na Mamarrosa/Sosa nem sequer estava ligado por estrada ou caminho à tal ‘terra de Oliveira do Bairro’.

Ainda hoje não está bem claro qual foi a benesse que a terra de Oliveira do Bairro recebeu de D. Manuel I, rei venturoso & merceeiro, para ter honras de espaço nobre com estátua.
Enfim, Acílio Gala contribuiu para desvirtuar a história local (da ‘terra de Oliveira do Bairro’)

Regressando à Casa da Câmara[3] - Cadeia - Casa da Rádio.

As responsabilidades de Acílio Gala não terão caído quando omitiu a discussão pública no processo de classificação da casa da câmara e cadeia?
Acílio Gala defende o ‘interesse público’ do edifício onde esteve instalada a Câmara. Descontando as transformações havidas junto às janelas, tenho dúvidas que o actual aspecto da estrutura seja semelhante à inicial. A actual telha “Marselha” da cobertura por certo não existia. O telhado teria (?) sido coberto por telha de meia cana, também conhecida pelo tipo “freira e frade”.

Já alvitrei que o polémico edifício ficasse registado para aboa memória em painel de azulejo, à semelhança do procedimento adoptado pelo Presidente da Junta de Freguesia de Bustos relativamente à capela de São João (‘do toledo’) e à 1ª casa da Junta localizada à entrada da Feira.
André Chambel[4] sugere um roteiro de medidas que muito pode contribuir para terminar a polémica em aperto de mão.
Entretanto, sugiro que os limites da implantação do actual imóvel sejam marcados no chão e que os materiais desmantelados sejam cartografados na hora. Não vá aparecer, durante a demolição, alguma reconstrução não anunciada.

O edifício será demolido. Ainda bem.
Pois não servirá para a implantação de um acanhado arquivo municipal.
Sérgio Micaelo Ferreira (rossio da póvoa)

[1] Na carta de foral de 6 de abril de 1514 não se encontra o termo “concelho”. Já no treslado datado de (1789) do Foral de Segadães (20.03.1516) está: … “ /A quantos esta nossa Carta de Foral da /da para sempre a terra, e Concelho de Se/gadães, virem …”
[2] (in Américo Figueira, Segadães – das origens ao foral manuelino, cadernos anata, Águeda, 2002)”.

[3] O desinteresse pelo edifício foi de tal ordem que também foi conhecido por “casa dos ratos”
[4] Consultar: “Nem tudo estará perdido”, Jornal da Bairrada, 09.03.2006, pg.s 16

1 comentário:

  1. Já o disse antes: a casinhota é incaracterística e não se vislumbra nela qualquer valor arquitectónico, por muito respeito que me mereçam as opiniões contrárias.
    A solução de compromisso foi avitrada pelo Engº Pereira e pelo André Chambel, ambos membros no activo da Assembleia Municipal: perpetuar a memória do edifício, preservando alguns elementos mais representativos das funções que teve. Chama-se a isto preservar a memória da história local, atitude que louvo e que subscrevo.
    Acho curiosa a polémica porque o Dr. Acílio Gala defendia inicialmente a demolição, tendo chegado a pedir à "Voz da Bairrada" (o edificio é conhecido porque ali funcionou aquela rádio) que deixasse o local para avançar com a demolição.
    A decisão da sua preservação é "tardia" e destinou-se a impor mais um legado aos vindouros, como quem diz: antes de me ir embora e passados 16 anos, classifiquei o edifício. Agora descalcem vocês a bota...
    Como se os executivos municipais que fomos tendo alguma vez tivessem demonstrado qualquer interesse pela preservação do escasso património histórico do concelho!
    A propósito: alguma vez foi feito o levantamento desse património? Havendo arquitectos no concelho supostamente interessados em preservar o nosso património (arquitectónico), que iniciativas foram feitas nesse sentido?

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