Arlindo Augusto Pires Vicente, filho de Manuel António dos Santos Vicente e de Amélia da Silva Pires Vicente, nasceu a 5 de Março de 1906, no Troviscal, concelho de Oliveira do Bairro, distrito de Aveiro.
Após concluir a instrução primária no Troviscal e o ensino liceal em Aveiro, matriculou-se em Medicina, na Universidade de Coimbra, em 1926. Nessa cidade foi director artístico do jornal Pena, Lápis e Veneno, de que se publicou apenas o primeiro número, e organizou, em 1927, o 1º Salão de Arte dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Em Lisboa, onde entretanto se matriculara na Faculdade de Direito (1927), Arlindo Vicente colaborou na organização do 1º Salão de Artistas Modernos Independentes, na casa Quintão, em 1930, e no 2º Salão de Independentes, em 1931. Em 1929, casou com Adélia Marques de Araújo Vicente, natural da Fogueira, do vizinho concelho de Anadia, a qual, licenciada em Farmácia, fundou no Troviscal a Farmácia Araújo Vicente, denominação que ainda hoje perdura. Em consequência do matrimónio, Arlindo veio a conseguir a transferência para Coimbra, em 1930, onde se licenciou em 1932, após o que iniciou a advocacia, abrindo consultórios no Troviscal e Anadia.
Em 1936 radicou-se definitivamente em Lisboa, onde participou na Exposição dos Artistas Modernos Independentes. Colaborou ainda no semanário Acção! e na Exposição do Mundo Português (1940). Mais tarde participou e dinamizou algumas das Exposições Gerais de Artes Plásticas, na Sociedade Nacional de Belas Artes (1946-1956), e participou, em 1957, na 55ª Exposição Anual no Salão de Primavera. Foi, nesse ano, proposto, pela oposição, como candidato a deputado para as eleições à Assembleia Nacional, pelo círculo de Lisboa.
A 20 de Abril de 1958 foi apresentada a sua candidatura à Presidência da República e a 8 de Maio o seu Manifesto Eleitoral. A 30 de Maio retirou a sua candidatura depois de estabelecer um acordo com o General Humberto Delgado. A 8 de Junho realizaram-se eleições, caracterizadas por fraude generalizada, tendo Américo Tomás sido dado como vencedor. Humberto Delgado exilou-se, abandonando para sempre o País.
A 30 de Setembro de 1961, em vésperas da campanha eleitoral para deputados, Arlindo Vicente foi preso. Após dez meses de injusto encarceramento, foi, em Julho de 1962, julgado como elemento perigoso, acusado de actos subversivos e condenado a uma pena de 20 meses de prisão correccional, suspensa durante 5 anos, com suspensão dos direitos políticos também por 5 anos.
Em 1963 participou no 59º Salão de Primavera na SNBA em Lisboa e no 1º Salão de Artistas de Aveiro. Em 1969 não faltou ao 2º Congresso Republicano em Aveiro, mas, em entrevista ao Diário de Lisboa, em 1970, admitiu trocar a advocacia pela pintura e organizou uma exposição individual na SNBA, participando ainda na Exposição de Arte Portuguesa dos séc. XIX e XX em Colecções Particulares. Em 1973, por motivos de saúde, cessa a sua actividade de advogado, passando a dedicar-se por inteiro à pintura, participando na Exposição 100 anos da Pintura Portuguesa no Casino da Póvoa do Varzim.
Em Abril de 1974 deu-se a queda do regime e Arlindo Vicente participou nas comemorações do 1º de Maio desse ano, pela primeira vez realizadas em liberdade após quase 50 anos de ditadura, a que com tantos sacrifícios sempre se opusera. Em Outubro desse ano, em entrevista ao Diário de Lisboa, admitiu regressar à vida política, o que não aconteceu. Na SNBA organizou mais uma exposição individual de Desenho e Pintura e participou na 1ª Exposição Colectiva, que teve lugar no Palácio dos Coruchéus, em 1975.
A 24 de Novembro de 1977, faleceu em Lisboa, com 71 anos de idade. Ao saber da notícia a Assembleia da República interrompeu a sessão para prestar homenagem ao cidadão e artista Arlindo Vicente.
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Em 1982, na exposição dos 100 anos de Artes Plásticas, no Salão Cultural da Câmara Municipal de Aveiro, foram expostas obras de Arlindo Vicente. Foi agraciado em 1983, a título póstumo, com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade.
Em 1990, promovida pela Ordem dos Advogados, foi realizada a 1ª Exposição Individual Póstuma, no Museu Soares dos Reis (Porto), e na Fundação Dionísio Pinheiro (Águeda).
Em 1993 o seu nome foi dado a uma avenida na freguesia de Marvila, em Lisboa, e a uma rua no Troviscal, Oliveira do Bairro. Em 1995, é uma rua na Quinta da Maia, em Coimbra, que recebe o nome do pintor, enquanto que na Casa da Cultura desta cidade, integradas na sessão de apresentação do volume 16 da Revista da História das Ideias, têm lugar uma evocação de Arlindo Vicente e a abertura duma exposição com trabalhos seus.
Na Galeria da Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, foi organizada uma exposição de Pintura e Desenho de Arlindo Vicente, em 1999.
Em Aveiro, a 5 de Outubro de 2003, foi aberto o Museu da República – Arlindo Vicente.
No Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, em Dezembro de 2005, na exposição, Um Tempo e Um Lugar – Dez exposições gerais de Artes Plásticas, foram incluídos cinco trabalhos seus.
Arlindo Vicente foi ainda ilustrador de alguns números da Presença, Vértice, Seara Nova, Labor, Revista Eva. O 3º volume das Obras de Ferreira de Castro abre com uma pintura sua. Retratou algumas grandes personalidades com quem conviveu – Adolfo Casais Monteiro, João Gaspar Simões, António Pedro, José Régio, Miguel Torga, entre outros – mas também figuras do povo, de que provinha, companheiros de prisão e familiares. Exerceu cargos directivos na Sociedade Nacional de Belas Artes. As suas facetas de pintor solidário e político empenhado encontram-se profusamente ilustradas na imprensa de grande circulação da época.