21 de novembro de 2012

COOPER E LINDINHO, LIBERTÁRIOS DE BUSTOS

(…) Até missa ouvia aos domingos, 
coisa que nenhum cão fazia. 
Aninhava-se a seu lado. 
E ficava-se quieto a ver o padre, 
de saias, fazer gestos e dizer coisas 
que nunca pôde entender. (1)
Cooper & Lindinho  (a descansar)

Lindinho e Cooper (ou será Kuper?, o Sol que o diga) rejeitam as coleiras da submissão de regras impostas por uns humanos ditos zeladores, ainda que as regras estejam muito bem alinhadas em artigos e parágrafos. Lindinho & Cooper são teimosamente dois militantes libertários.
O Cooper, um descendente dos sobreviventes da arca de noé, assistiu(?) «recentemente» ao rapto violento da sua companheira. Bem reclamou, sem ferrar as canelas. Soube que o destino da sua última querida seria o mesmo que o da   «santa» inquisição... a grelha com a forma de canil.
Dias e dias passaram e o Cooper sem fazer a catarse. Ouviu-se uma explicação. Era com ela que passava as noites, era a mãe do seu último filho.
- Isso não conta. A lei tem de ser aplicada!  
E se houvesse uma postura a isentar o Cooper das licenças  caninas?… 
(Ouviu-se um estridente alarme a querer furar os tímpanos …  m a n i c ó m i o, já!)
O Lindinho
Lindinho & Esmeralda
(não se conhece o veraddeiro nome de "batismo")
Ali, para os lados da “Travessa Vereda da Fonte”, um som com pronúncia de Morte, entra na casa de  Esmeralda Grangeia e  Amílcar Ferreira.

Um espectáculo de terror. Um arame–guilhotina estava a garrotar o pescoço do Lindinho amarrado a um pinheiro. A profundidade da chaga criava vómitos de luto.
Não há direito!
Como foi possível ?!!!
A revolta deu lugar a carinho.
Veterinário. Angústia. Paciência. Horas de vigília.
E a  esperança trouxe luz.
A Sr.ª Esmeralda para o Sr. Amílcar - na escolha do nome: …vai chamar-se: “Lindinho”! (3).
(…)
Após as boas vindas oralizadas pelo presidente da Câmara,
 na qualidade de juiz da comarca coube-me 
saudar o Dr. Varela [Ministro da Justiça],
 o que fiz com muito gosto, 
pois fora meu professor na Faculdade de Direito de Coimbra 
e da sua docência guardava gratas recordações.

A meio da minha curta oração 
o Silver entrou pelo salão com inteiro à vontade 
e depois de furar entre as pernas da fina flor da vila, 
que sempre ornamenta estas cerimónias,
 foi sentar-se aos meus pés sob a mesa da presidência, 
gozando com beatitude o aparato, 
indiferente aos olhares reprovadores 
de alguns circunstantes. (2)

Hoje, o Lindinho conhece Bustos, o grande e o pequeno. Entra nas grandes casas e nas casas grandes. A missa não lhe é estranha... só que o Lindinho recusa-se a respeitar os códigos inventados pelos humanos. (suponho que foi o primeiro a avisar que a  Lei n.º 22/2012, de 30 de maio tinha - ou tem - armadilhas para os incautos caírem na esparrela  da união aritmética das freguesias...) 



Sobreiro - Lindinho junto da rua da Nª Sª das Necessidades, a estudar a segurança rodoviária - foto sérgio pato
No entanto, acha-se com estatuto de sobejo para reclamar uma lei que o proteja. Pelo menos, não devia estar sujeito a taxas…  porque não está enquadrado  em qualquer item da tabela. (Em dias especiais, até é um guarda  do cemitério e sem vencimento)
O Lindinho não quer medalhas. Pretende que apenas o respeitem. E que o deixem em liberdade. Os  atuais donos (Esmeralda e Ferreira) salvaguardam  os requisitos da saúde.
Mas o Lindinho não perdeu a memória despertada pela dor da sua tortura.

Há tempo, ainda recente, os bombeiros foram chamados ao local próximo da «Travessa Vereda da Fonte». O Lindinho bem ladrava junto do fatídico pinheiro para que os bombeiros se aproximassem. Queria contar a história da sua libertação.
foto sérgio pato
Os bombeiros não tinham tradutor para perceber o apelo do Lindinho. A explicação foi dada pelo casal milagreiro. 
A Esmeralda e o Amílcar, além de salvadores, acolheram o Lindinho junto do seu lar.
Felizmente que Bustos ainda tem um Lindinho e um Cooper, herdeiros de Nero's e de Silver’s para mostrar a outra face do mundo. 
fotos comparticipadas por sérgio pato
... autor: sérgio micaelo ferreira
_______
(1)  Miguel Torga, Bichos (contos), 6.ª edição revista, Coimbra, 1961. (Nero, p. 14).
(2)  Marques Vidal, Estórias Bem Caçadas, (10. O Pato Real), (p. 113). Ano do ‘depósito  legal’ 1998. 
(3)  NE...Provavelmente que não foi este o diálogo havido.

2 comentários:

  1. A Ata da Assembleia do ABC foi aprovada por unanimidade, em minuta (SP - NB)

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  2. Oficina sobre a construção em adobe ( 21-11-2012)

    No âmbito da programação da Arq. OUT, que se estende no nosso concelho para o próximo mês de dezembro, dias 15 e 16, haverá uma OFICINA sobre construção em adobe "Construção em terra crua (taipa ou adobe)", organizada pela Arq. Olga Santos e orientada pelo Arq. Paulo Costa (ver currículo infra). A participação é gratuita e as inscrições poderão ser feitas a partir de agora e até sexta-feira, dia 12 de dezembro 2012 para a Biblioteca Municipal.
    + info Biblioteca Municipal 234 740 330/ 939951072
    http://www.cm-olb.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=29859&pastaNoticiasId=29856&noticiaId=39970

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