17 de março de 2008

SENHOR DOS AFLITOS - crucifixos à la mode

O Senhor dos Aflitos e o S. João fixaram representação em Bustos pela via paralela à Igreja oficial. As capelinhas primeiras foram erguidas em terrenos privados com a finalidade de cumprir promessas.

Entretanto surgem mudanças e mais mudanças…

e hoje, constata-se que o Senhor dos Aflitos da Paróquia de São Lourenço de Bustos, para além das capelas enumeradas por Belino Costa tem a honra de ter o seu nome inscrito duas vezes na toponímia: a Rua Nosso Senhor dos Aflitos, no lugar da Quinta Nova e o Largo Nosso Senhor dos Aflitos, na Póvoa.
…Bem, mas isso é assunto para historiadores e contadores.

Observando os crucifixos do Senhor dos Aflitos (1818, 1972 e 2004) recentemente editados por Belino Costa[1] são evidentes as divergências da sua representação.
A imagem de 1972 – a da capela do Povo unido da Póvoa – apresenta o Cristo inclinado para a esquerda. Esta pendência também se observa no crucifixo da capela de S. João.
Porque terá acontecido?


O pano que cobre as partes podengas acompanha a moda. De uma cobertura espessa (1818) passa para uma não discreta abertura da anca (2004). Sendo a crucificação a pena mais infame, cruel e humilhante, Jesus teria (?) sido pregado na cruz sem qualquer peça de roupa.

Na crucificação, o condenado era atado ou pregado, de mãos e pés a uma cruz formada por dois paus sujeitos a carpintaria tosca. Jesus foi fixado aos dois lenhos com 4 pregos. Entretanto a modernidade do Séc. XIII criou uma imagem nova do crucifixo com a aplicação de um cravo nos pés.

A cruz era um símbolo das religiões solares pré-cristãs e actualmente, as suas variantes tornaram-se o símbolo de religiões com origem em Jesus de Nazaré. As religiões emanadas do tempo da Reforma simplificaram o símbolo da religião, adoptando apenas a cruz para o não vexarem. A religião católica não entendeu assim.
A disseminação das cruzes com fins decorativos, mereceu de Eça de Queiroz a apreciação:

“Até a cruz, a forma suprema, tem perdido entre os homens a sua divina significação. A cristandade, depois de ter usado como lábaro, usa-a com enfeite. A cruz é broche, a cruz é berloque; pende nos colares, tilinta nas pulseiras; é gravada em sinetes de lacre, é incrustada em botões de punho – e a cruz realmente, neste soberbo século [séc. XIX], pertence mais à ourivesaria do que pertence à religião …”[2]


O símbolo da Cruz torna vivo o julgamento iníquo de Jesus que jamais se apagará da História, mas o Peixe, o sinal clandestino dos cristãos da igreja primitiva, esse, quase desapareceu da montra do marketing.
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[1] Belino Costa, SENHOR DOS AFLITOS : A MULTIPLICAÇÃO DOS CRISTOS E DAS CAPELAS , Notícias de Bustos, 10.3.08.
[2] Eça de Queiroz, A Relíquia, Edição «Livros do Brasil». 9ª edição, Lisboa
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Brevemente
“O Estado Novo financiou a produção de crucifixos”

Em tempo: O Estado Novo não financiou, mas sim criou o monopólio da venda de determinado modelo de crucifixos.

sérgio micaelo ferreira

2 comentários:

  1. Anónimo12:29

    É curioso notar que a famosa inscrição colocada por cima da cabeça de Jesus e quer dizer "Jesus de Nazaré (ou Nazareno) Rei dos judeus" está escrito com as iniciais "JNRJ" ou "INRI" nas representaçoes do Sr. dos Aflitos. É a mesma coisa; a letra J aparecu no alfabeto Latino depois do "I". Aínda hoje se escreve palavras com um "J" mas com o som de "I", por exemplo a cidade de "Lubljana" que se pronuncia "Lubliana". Acontece o mesmo com o nome de Deus em Hebraico "Yahweh" ou "Iehovah" ou com um "J" que dá "Jehovah" ou "Jéova".
    A inscricão de Jesus (Iesus) com Rei do Judeus está correcta, Mashiah (Messias) em Hebraico (Christos, em Grego) quer dizer ungido ou Filho de Deus. O rei David e outros eram também Mashiah. Na Eurpoa os reis eram-no pela "Graça de Deus", mas naquele tempo eram mesmo Filhos de Deus.
    Milton Costa
    Referência; Elaine Pagels (2005)Beyond Belief, The Secret Gospel of Thomas. Vintage Press.

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  2. Anónimo20:55

    é fixe!!!

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