Entretanto surgem mudanças e mais mudanças…
e hoje, constata-se que o Senhor dos Aflitos da Paróquia de São Lourenço de Bustos, para além das capelas enumeradas por Belino Costa tem a honra de ter o seu nome inscrito duas vezes na toponímia: a Rua Nosso Senhor dos Aflitos, no lugar da Quinta Nova e o Largo Nosso Senhor dos Aflitos, na Póvoa.
…Bem, mas isso é assunto para historiadores e contadores.
Observando os crucifixos do Senhor dos Aflitos (1818, 1972 e 2004) recentemente editados por Belino Costa[1] são evidentes as divergências da sua representação.
O pano que cobre as partes podengas acompanha a moda. De uma cobertura espessa (1818) passa para uma não discreta abertura da anca (2004). Sendo a crucificação a pena mais infame, cruel e humilhante, Jesus teria (?) sido pregado na cruz sem qualquer peça de roupa.
Na crucificação, o condenado era atado ou pregado, de mãos e pés a uma cruz formada por dois paus sujeitos a carpintaria tosca. Jesus foi fixado aos dois lenhos com 4 pregos. Entretanto a modernidade do Séc. XIII criou uma imagem nova do crucifixo com a aplicação de um cravo nos pés.
A cruz era um símbolo das religiões solares pré-cristãs e actualmente, as suas variantes tornaram-se o símbolo de religiões com origem em Jesus de Nazaré. As religiões emanadas do tempo da Reforma simplificaram o símbolo da religião, adoptando apenas a cruz para o não vexarem. A religião católica não entendeu assim.
A disseminação das cruzes com fins decorativos, mereceu de Eça de Queiroz a apreciação:
“Até a cruz, a forma suprema, tem perdido entre os homens a sua divina significação. A cristandade, depois de ter usado como lábaro, usa-a com enfeite. A cruz é broche, a cruz é berloque; pende nos colares, tilinta nas pulseiras; é gravada em sinetes de lacre, é incrustada em botões de punho – e a cruz realmente, neste soberbo século [séc. XIX], pertence mais à ourivesaria do que pertence à religião …”[2]
O símbolo da Cruz torna vivo o julgamento iníquo de Jesus que jamais se apagará da História, mas o Peixe, o sinal clandestino dos cristãos da igreja primitiva, esse, quase desapareceu da montra do marketing.
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[1] Belino Costa, SENHOR DOS AFLITOS : A MULTIPLICAÇÃO DOS CRISTOS E DAS CAPELAS , Notícias de Bustos, 10.3.08.
[2] Eça de Queiroz, A Relíquia, Edição «Livros do Brasil». 9ª edição, Lisboa
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Brevemente
“O Estado Novo financiou a produção de crucifixos”
Em tempo: O Estado Novo não financiou, mas sim criou o monopólio da venda de determinado modelo de crucifixos.
sérgio micaelo ferreira
É curioso notar que a famosa inscrição colocada por cima da cabeça de Jesus e quer dizer "Jesus de Nazaré (ou Nazareno) Rei dos judeus" está escrito com as iniciais "JNRJ" ou "INRI" nas representaçoes do Sr. dos Aflitos. É a mesma coisa; a letra J aparecu no alfabeto Latino depois do "I". Aínda hoje se escreve palavras com um "J" mas com o som de "I", por exemplo a cidade de "Lubljana" que se pronuncia "Lubliana". Acontece o mesmo com o nome de Deus em Hebraico "Yahweh" ou "Iehovah" ou com um "J" que dá "Jehovah" ou "Jéova".
ResponderEliminarA inscricão de Jesus (Iesus) com Rei do Judeus está correcta, Mashiah (Messias) em Hebraico (Christos, em Grego) quer dizer ungido ou Filho de Deus. O rei David e outros eram também Mashiah. Na Eurpoa os reis eram-no pela "Graça de Deus", mas naquele tempo eram mesmo Filhos de Deus.
Milton Costa
Referência; Elaine Pagels (2005)Beyond Belief, The Secret Gospel of Thomas. Vintage Press.
é fixe!!!
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