21 de abril de 2006

SIMPLÍCIO NEVES, DEPUTADO

Onda anárquica fustigou recentemente o parlamento. Cartões picados por “fantasmas”. Sistema electrónico que não pica; falsa partida em votação. Há de tudo um pouco para desacreditar o cerne da democracia. A ‘Viagem à Roda da Parvónia’[1] estará aquém da realidade?

[com a devida vénia, reproduz-se um excerto]:
(…)
"PRESIDENTE
(Ao deputado que recita.) Tenho a observar ao senhor deputado Simplício das Neves que não é permitido recitar o «Noivado do Sepulcro» no seio da representação nacional.

SIMPLÍCIO
(Cheio de indignação.) Então, uns versos que vieram publicados na «Trombeta de Faro» e no «Clamor da Beira Baixa»!...

PRESIDENTE
(Familiarmente a outro deputado.) Isto, a capital, é uma Babilónia. A D. Gertrudes, mulher do recebedor, encomenda-me um livro de missa e umas galochas de borracha da última moda, de maneira que há três dias que ando a correr a cidade por causa desta encomenda! Assim que recebi a carta fui logo à Torre do Tombo para comprar o livro da missa; lá disseram que fosse à biblioteca nacional; vou à biblioteca, começam todos a rir-se; parto dali como um raio; corro todos os ministérios, e não encontrando tal livro, resolvi com os meus botões, em vez do livro de missa, mandar-lhe O Crime do Padre Amaro. Sim, porque isto, um livro escrito por um padre, por força que deve ser um livro religioso. Enquanto às galochas …

PRESIDENTE
(Interrompendo e tocando um grande chocalho que tira debaixo da mesa.) vai abrir-se a sessão. Sr. Simplício tenha termos!...

SIMPLÍCIO
(Pondo o chapéu e arremetendo.) Senhor presidente!...
VOZES
Péu… péu… péu!…

PRESIDENTE
(Aos contínuos.) tirem o chapéu da cabeça do Sr. Simplício e obriguem-no a tomar assento… (Contínuos executam.)

SIMPLÍCIO
(Indignado.) Protesto, senhor presidente! Protesto! E se me sento não é para obedecer à intimação da banca! Senhor presidente, eu sou um burro de força e as violências não me atemorizam. Se me sento … (convicto) é para não ficar de pé. (Senta-se.)

PRESIDENTE
Está aberta a Praça da Figueira … perdão! Está a sessão aberta, é que eu queria dizer…

(Aparece gente de todos os feitios nas galerias)"


[1] Guerra Junqueiro e Guilherme Azevedo, “Viagem à Roda da Parvónia”(excerto), Lello & Irmãos, Porto. Posted by Picasa

1 comentário:

  1. Os c'legas t~em de fazer um abaixo assinado a exigir que seja instalado n'O Barrilito o sistema electrónico análogo ao utilizado no parlamento. Para agilização da eficiência.

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