Quero associar-me a esta justa homenagem. Muitas razões me impõem isso, a começar pelo parentesco (seu pai, Manuel Reis Pedreiras, era irmão de minha mãe), a continuar por uma amizade desde sempre a brilhar, e a culminar no apreço que merece a sua verticalidade e a sua honradez.
Mas o sofrimento que atingiu o amigo Amaral e família às mãos selváticas da Pide também me abrangeu, tornando-nos como que «irmãos de sangue» naquela «guerra» que semeou doloroso negrume no tempo das ditaduras salazarista e marcelista. Eu estive três meses completos «hospedado» na Pide de Coimbra, sob acusação de pertencer ao Comité Central do Partido Comunista, que só foi retirada depois da Pide «investigar», torturando-me o corpo, em busca de «confissão» (uns 20 dias de inferno, duas noites de intervalo) até que se convenceu de que tal (que desilusão!) não era mesmo verdade.
Tanto eu como o Amaral, ou o Pompeu, naquele tempo, o que fazíamos de «político» resumiu-se sempre a ler uns papéis informativos (clandestinos, claro, pois a censura à imprensa não deixava alternativa). Aliás, nunca tive partido em toda a vida e creio que o Amaral jamais se filiou, até porque ambos sempre recusámos qualquer actividade política digna desse nome.
O Amaral, citado pelo Belino Costa, fala de mim para lembrar como lhe apresentei em Bustos um certo fulano. Ele não sabia que era do Partido Comunista e eu acredito, mas tão-pouco eu o sabia! O máximo que então podíamos ter, nestes casos, eram simples suspeitas. Impunham-no regras de segurança recíprocas. Acresce o seguinte: quando lhe apresentei o fulano, evidentemente eu não poderia saber o que iria passar-se depois.
Quando o soube, um dia em que o Amaral, preocupado deveras, desabafou comigo ao encontrar-me na terrinha, fiquei informado dos apoios e das quebras de segurança gravíssimas que estavam a verificar-se e preveni o Amaral dos perigos tremendos que estavam a amontoar-se para todos. E fiquei também eu deveras preocupado… pois o Amaral, bom de coração, não tinha coragem de retirar a confiança a quem a dera e apesar de tudo já não lha merecia…
Enfim, coisas passadas, recordações do antigamente, das suas lutas e dificuldades talvez agora pouco compreensíveis. Mas honra-se Bustos com cidadãos íntegros e corajosos como Amaral Reis Pedreiras. A nossa terra fez-se, faz-se e refaz-se com gente desta altura e desta têmpera! A alma de Bustos é a alma do Amaral!
Se os amigos resolverem promover uma homenagem a este grande Bustuense, quero participar nela de coração aberto. Se não se efectivar, aqui fica desde já o meu testemunho.
Arsénio Mota
Mas o sofrimento que atingiu o amigo Amaral e família às mãos selváticas da Pide também me abrangeu, tornando-nos como que «irmãos de sangue» naquela «guerra» que semeou doloroso negrume no tempo das ditaduras salazarista e marcelista. Eu estive três meses completos «hospedado» na Pide de Coimbra, sob acusação de pertencer ao Comité Central do Partido Comunista, que só foi retirada depois da Pide «investigar», torturando-me o corpo, em busca de «confissão» (uns 20 dias de inferno, duas noites de intervalo) até que se convenceu de que tal (que desilusão!) não era mesmo verdade.
Tanto eu como o Amaral, ou o Pompeu, naquele tempo, o que fazíamos de «político» resumiu-se sempre a ler uns papéis informativos (clandestinos, claro, pois a censura à imprensa não deixava alternativa). Aliás, nunca tive partido em toda a vida e creio que o Amaral jamais se filiou, até porque ambos sempre recusámos qualquer actividade política digna desse nome.
O Amaral, citado pelo Belino Costa, fala de mim para lembrar como lhe apresentei em Bustos um certo fulano. Ele não sabia que era do Partido Comunista e eu acredito, mas tão-pouco eu o sabia! O máximo que então podíamos ter, nestes casos, eram simples suspeitas. Impunham-no regras de segurança recíprocas. Acresce o seguinte: quando lhe apresentei o fulano, evidentemente eu não poderia saber o que iria passar-se depois.
Quando o soube, um dia em que o Amaral, preocupado deveras, desabafou comigo ao encontrar-me na terrinha, fiquei informado dos apoios e das quebras de segurança gravíssimas que estavam a verificar-se e preveni o Amaral dos perigos tremendos que estavam a amontoar-se para todos. E fiquei também eu deveras preocupado… pois o Amaral, bom de coração, não tinha coragem de retirar a confiança a quem a dera e apesar de tudo já não lha merecia…
Enfim, coisas passadas, recordações do antigamente, das suas lutas e dificuldades talvez agora pouco compreensíveis. Mas honra-se Bustos com cidadãos íntegros e corajosos como Amaral Reis Pedreiras. A nossa terra fez-se, faz-se e refaz-se com gente desta altura e desta têmpera! A alma de Bustos é a alma do Amaral!
Se os amigos resolverem promover uma homenagem a este grande Bustuense, quero participar nela de coração aberto. Se não se efectivar, aqui fica desde já o meu testemunho.
Arsénio Mota
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