8 de junho de 2005

ARSÉNIO MOTA COERENTE COM AS RAÍZES

"Nós somos feitos de palavras" (Arsénio Mota, RTP-2; 7.06.2005)
O escritor Arsénio Mota foi entrevistado por Raquel Santos no programa "Entre Nós" da Universidade Aberta.
"O Tapete Voador" é o mordomo do início da conversa.
Durante cerca de meia hora o autor "viaja" desde o tempo do "ensaio da expressão poética" com a publicação de dois livros de poesia. (1955 e 1956). Foi a fase da experimentação da palavra escrita que modelou "o sonho, numa constante davida" (António Gedeão).
A incursão na poesia, apesar de ter curta duração,"foi uma iniciação muito útil" que lhe permitiu criar "pontes para poder chegar a outros lados".
Com uma mesa amplamente decorada de variados títulos especialmente dedicados a jovens (de todas as idades), Arsénio Mota realça a preocupação de associar ao texto ilustrações de artistas de nomeada - Júlio Resende, Carlos Carreiro, Armanda Passos, Emerenciano, Fernando Lanhas, António Modesto entre outros.
O mesmo cuidado persegue no convite a companheiros de escrita para prefaciar um ou outro título. Vem à colação Pires Laranjeira e Arnaldo Saraiva, docentes universitários e Amigos do Autor.
A exibição de "Letras Sob Protesto", (Campo das Letras, 2003) era inevitável. São cerca de 180 páginas a radiografar o estado da literatura. Arsénio Mota "releva bastante uma atitude cívica" de intervenção.
Autor com 50 anos de escrita publicada, assiste ao desenvolvimento da literatura "próxima da de cordel" destinada a grandes audiências e que vive "descaradamente para o consumo".
Hoje sente a falta de romancistas com a força de um Dostoievski, Romain Rolland. E, na sequência, conta o episódio recente de um concurso literário luso-galego para romance, patrocinado pelo jornal "Público" e por um outro galego; pois o prémio ficou por atribuir por falta de mérito das obras, apesar de terem concorrido mais de 200 inéditos!
Haver gente que escreve bem já não parece suficiente...
Um salto aos trabalhos regionais da sua terra natal onde mostra a coerência com as suas raízes. A sub-região da "sua" Bairrada tem sido trabalhada a tal ponto que Raquel Santos desvenda a recuperação de dois autores - Joaquim Francisco Bingre e de João Grave, este de Vagos.
O triângulo Bustos-Bairrada-Porto traz à tona o gasto "confronto" entre autor regionalista e universal. Arsénio Mota puxa de José Rodrigues Miguéis. "O universal está no meu quintal. O que é preciso é ir cavar". Mais um alerta para a perda de identidade provocada pela massificação dal inguagem. É confrangedor o empobrecimento vocabular no uso da comunicação.
"O Museu do Sótão", crónicas, Livraria Figueirinhas, 1993 é pretexto para mostrar a divergência, posterior à edição, de conceitos da Crónica entre o Autor e o prefaciador Arnaldo Saraiva. Arsénio Mota tem o vício da crónica, é um género que pode servir para organizar a visão palpitante de um microcosmo vivo, o que o aproximaria do Romance. Tese que actualmente o Prof Arnaldo Saraiva não compartilha.
A fechar, Raquel Santos anunciou "o livro de homenagem" "ARSÉNIO MOTA - 50 ANOS NA ESCRITA", que já está para publicação. O autor traz à colação a amizade do escritor Serafim Ferreira (coordenador do livro) partilhada com a de muitos outros compagnons de route que participaram na consecução do volume.(Esta homenagem está anunciada neste blogue).
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A entrevista saiu do temp(l)o à velocidade da luz.
Apenas se fotografou a parte visível do "iceberg". A questão inserta neste blogue em 6.06.2005 - "será que ainda não é o momento de a Biblioteca Fixa nº 26 de Bustos, apoiada pela Biblioteca Municipal, desenvolver um ciclo dedicado ao seufundador?" tem todo o cabimento.
Raquel Santos vestiu a roupa desenhada por Arsénio Mota em "Letras Sob Protesto": "A arte da entrevista é deveras exigente, o jornalista bem preparado que a pratica desvendou-lhe os segredos. Na realidade, o entrevistador carece de um suficiente (mas raro) conhecimento da obra e da personalidade do escritor a entrevistar".
Foi o caso.
Sérgio Micaelo Ferreira, Rossio da Póvoa

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