13 de novembro de 2010

ARMOR PIRES MOTA & ESTRANHA NOIVA DE GUERRA NO CENTRO CULTURAL PROF. ÉLIO MARTINS (SILVEIRO)


A imagem do Centro Cultural Prof. Élio Martins (Silveiro – Oiã) retirado de aqui

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Estamos perante um retrato - que abre as porta à realidade - de um percurso da guerra colonial que ajudou a desmontar as teimosias do poder da “capital do império” e que entrou pelos olhos adentro à custa de um preço desnecessariamente alto.
Não se pode alhear que Portugal era o único país subdesenvolvido que tinha colónias.
Um romance de revisita aos tempos de camaradagem na Guiné amortalhada e é, ao mesmo tempo, de reflexão.
Por exemplo:
(…)
– Eu gosta nosso furriel … cortou Mariama.
– Acreditas no que dizes?
– Eu acredita.
– E não tens medo de acreditar num branco como eu?
– Não!
Longe, a metralha voltou a ferir-me o ouvido, a esperança.
– Beija-me muito, até eu ser velho!
– Nosso furriel é um rapaz.
Eu adivinhava-me um velho. Partilhava da morte de Júlio Perdiz, alombava com ele, e tudo isso me fazia pele de galhinha
A morte de alguém entranhava-se sempre nas mãos entrelaçadas, na retina do olhar comovido, na carne revolta das palavras e no áspero rumor do silêncio, até tocar a pele da alma. O mesmo acontecia com o sangue dos feridos e dos estropiados. Era assim. Além disso, tinha de rilhar os meus próprios medos. (…) [*]


Esta 2ª edição – a primeira da âncora editora – abre com a apresentação de Mário Beja Santos. Também autor de trabalhos à volta da guerra colonial na martirizada Guiné, diz a certo passo a propósito da literatura sobre a guerra colonial: «Impõe-se reflectir no porquê da incomodidade e da (ainda hoje) subalternidade desta escrita e até das raões dos sucessivos estados emocionais que têm presidido à sua elaboração».
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[*] Armor Pires Mota, Estranha Noiva de Vida, Âncora Editora, (pg.s 97), 2ª edição, Setembro. 2010.

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