27 de setembro de 2010

CARLOS LUZIO - Poeta do amor e da guerra

Seis anos depois, continuamos a lembrar-te.
Como escrevias num dos teus poemas: ACASO NÃO SOMOS AMIGOS?
*
Poema das águas

Entre tantos poemas
este é feito de água apenas
Água benta
para quando o diabo atormenta
Água potável
para o corpo estar saudável
Água quente
para um banho urgente
Água fria
para começar bem o dia
Água de colónia
para cheirar bem na cerimónia
Água do mar
para lançar a rede e pescar
Água do rio
para servir de caminho ao navio
Água salgada
para aliviar os pés da longa caminhada
Água do Jordão
para dar baptismo ao novo cristão
Água do Sena
para inspirar este poema
Água canforada
para que a dor seja ultrapassada
Aguarela
para que o teu rosto fique pintado na tela
Gin com água tónica
para uma viagem supersónica
Aguardente
para bochechar quando dói o dente
Água mineral
com bolachas de água e sal
para quando o fígado andar mal
Água doce
para matar a sede que o Verão trouxe
Água destilada
para que a bateria não fique descarregada
Água oxigenada
para que a ferida fique sarada
Água inquinada
que não serve mesmo para nada
Água da chuva
que no Verão assenta como uma luva
Água pesada
com uma força astronómica
misturada com plutónio
faz uma bomba infamemente atómica
para nos queimar o último neurónio
que nos reduz a nada
Pobre povo ancestral do Japão
que ainda hoje não levanta os olhos do chão
Água do Tigre
Água do Eufrates
onde se morre em estúpidos combates
E eu passeio-me triste e cabisbaixo
vendo como o planeta vai por água abaixo...
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- Carlos Luzio\Pescador de Sonhos\"Poema das Águas", escrito a 26-5-2004 \ Livro editado pelos Amigos em 2005.
- Post semi biográfico no BLOGUEDOOSCAR.

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