Alberto Gomes, de 75 anos, passou a mão pela aba do chapéu grená, coçado por muitos sois, e explicou-se com gentileza. “Terei o gosto de lhe fazer um bom retrato à moda antiga, a preto e branco. Um custa-lhe o obséquio de seis euros, por dois tem um desconto, paga apenas dez.”
Tinha na minha frente o retratista de feira com máquina, cavalo e passarinho, estava perante o representante de uma espécie extinta. Uma figura do passado. Falava com elegância, insinuava-se garboso ao lado de um tripé com uma anacrónica máquina fotográfica. Nem faltava o passarinho para captar a atenção da eventual criancinha empertigada na sela do cavalinho de madeira, estrategicamente colocado alguns metros adiante. Tudo como há cem anos.
Na Costa Nova, em Abril de 2009, encontrei uma personagem que já não pertence a este tempo. Na era da fotografia digital descobri a existência de Alberto Gomes, natural da Póvoa do Varzim, que há 62 anos percorre Portugal de lés a lés exercendo a profissão de “Retratista à la Minuta”. Quando anda em serviço, acompanhado pela esposa, Iracema Rocha, de 70 anos, e pelo filho, José Gomes, de 25 anos, que lhe segue os passos profissionais, vive numa caravana. O grupo saiu para a estrada pelo Carnaval, este ano começaram em Amarante e foram descendo. Os dias de trabalho na Costa Nova coincidiram com o caminho de regresso a Paramos, Espinho, onde têm casa sem rodas.
“ Vamos para casa passar a Páscoa com a família.” E família não falta a Alberto Gomes, pai de cinco raparigas e outros tantos rapazes. “Só um, esse que está aí comigo, é que seguiu o meu gosto”, confessa, lembrando que também ele, logo aos 12 anos, começou a seguir as pisadas do falecido pai. E acrescenta com visível satisfação: “O rapaz vai casar e vai arranjar uma carrinha. Vai à vida dele, que desta profissão já lhe ensinei tudo.”
Tinha na minha frente o retratista de feira com máquina, cavalo e passarinho, estava perante o representante de uma espécie extinta. Uma figura do passado. Falava com elegância, insinuava-se garboso ao lado de um tripé com uma anacrónica máquina fotográfica. Nem faltava o passarinho para captar a atenção da eventual criancinha empertigada na sela do cavalinho de madeira, estrategicamente colocado alguns metros adiante. Tudo como há cem anos.
Na Costa Nova, em Abril de 2009, encontrei uma personagem que já não pertence a este tempo. Na era da fotografia digital descobri a existência de Alberto Gomes, natural da Póvoa do Varzim, que há 62 anos percorre Portugal de lés a lés exercendo a profissão de “Retratista à la Minuta”. Quando anda em serviço, acompanhado pela esposa, Iracema Rocha, de 70 anos, e pelo filho, José Gomes, de 25 anos, que lhe segue os passos profissionais, vive numa caravana. O grupo saiu para a estrada pelo Carnaval, este ano começaram em Amarante e foram descendo. Os dias de trabalho na Costa Nova coincidiram com o caminho de regresso a Paramos, Espinho, onde têm casa sem rodas.
“ Vamos para casa passar a Páscoa com a família.” E família não falta a Alberto Gomes, pai de cinco raparigas e outros tantos rapazes. “Só um, esse que está aí comigo, é que seguiu o meu gosto”, confessa, lembrando que também ele, logo aos 12 anos, começou a seguir as pisadas do falecido pai. E acrescenta com visível satisfação: “O rapaz vai casar e vai arranjar uma carrinha. Vai à vida dele, que desta profissão já lhe ensinei tudo.”
A tecnologia, a profissão estarão desactualizadas, mas Alberto Gomes é um homem deste tempo quando se trata de promover o negócio. O cartão-de-visita, que distribui criteriosamente, está escrito num português manco, mas a estratégia de mercado é bem clara:
“Retratista á Láminuta. Deslocagem a qualquer parte do país para satisfazer feiras de antiguidades. O bom retrato à moda antiga a preto e branco e outros inventos com direito a um cachê de deslocação.”
Mesmo usando dois telemóveis Alberto Gomes sabe que é um caso raro, uma excepção. É mais do que um artesão é quase um artista. Vão longe os tempos em que os retratos se faziam às dúzias para os bilhetes de identidade, quando cada um custava 10 escudos (cerca de 5 cêntimos) e o pão se comprava por 2 tostões. Tudo mudou. Mudou a moeda, mudou o valor de cada coisa e o que era comum tornou-se invulgar. A actividade ganhou interesse museológico, as feiras de antiguidades passaram a integrar o circuito das festas, praias e monumentos. Entre tudo o que mudou é de destacar o mais importante, o Estatuto. E nas laterais exteriores da caixa onde se recolhe para o decisivo momento da focagem, lá estão as provas. A preto e branco, formato dez por quinze. Entre elas o retrato de um actor já falecido e de uma concorrente do programa televisivo “Big Brother”.
“Já estive na televisão”, informa como quem apresenta a prova decisiva e irrefutável da autenticidade profissional e da qualidade do trabalho, que adjectiva de ”Muito Bom!” Sessenta e dois anos depois de se ter iniciado na alquimia dos ácidos Alberto Gomes continua a revelar sem pinças. É tudo feito à mão e no próprio momento. Do negativo faz positivo e do passado presente. Não se queixa da crise, talvez do custo da vida, porque o que ganha “vai dando, mas o dinheiro desaparece.” Invoca os 20 euros gastos pela mulher na praça do peixe e logo depois, sem alterar o tom de indiferença, conclui:”Por aí não há grande novidade, o dinheiro toda a vida me foi muito fugidio… “
“Retratista á Láminuta. Deslocagem a qualquer parte do país para satisfazer feiras de antiguidades. O bom retrato à moda antiga a preto e branco e outros inventos com direito a um cachê de deslocação.”
Mesmo usando dois telemóveis Alberto Gomes sabe que é um caso raro, uma excepção. É mais do que um artesão é quase um artista. Vão longe os tempos em que os retratos se faziam às dúzias para os bilhetes de identidade, quando cada um custava 10 escudos (cerca de 5 cêntimos) e o pão se comprava por 2 tostões. Tudo mudou. Mudou a moeda, mudou o valor de cada coisa e o que era comum tornou-se invulgar. A actividade ganhou interesse museológico, as feiras de antiguidades passaram a integrar o circuito das festas, praias e monumentos. Entre tudo o que mudou é de destacar o mais importante, o Estatuto. E nas laterais exteriores da caixa onde se recolhe para o decisivo momento da focagem, lá estão as provas. A preto e branco, formato dez por quinze. Entre elas o retrato de um actor já falecido e de uma concorrente do programa televisivo “Big Brother”.
“Já estive na televisão”, informa como quem apresenta a prova decisiva e irrefutável da autenticidade profissional e da qualidade do trabalho, que adjectiva de ”Muito Bom!” Sessenta e dois anos depois de se ter iniciado na alquimia dos ácidos Alberto Gomes continua a revelar sem pinças. É tudo feito à mão e no próprio momento. Do negativo faz positivo e do passado presente. Não se queixa da crise, talvez do custo da vida, porque o que ganha “vai dando, mas o dinheiro desaparece.” Invoca os 20 euros gastos pela mulher na praça do peixe e logo depois, sem alterar o tom de indiferença, conclui:”Por aí não há grande novidade, o dinheiro toda a vida me foi muito fugidio… “
Bem pode o fotógrafo resistir ao evoluir dos tempos. Não tem alternativa. Alberto Gomes coloca o negativo da fotografia, devidamente invertido, num pequeno painel que deslocou para a frente da lente. É um homem prático experiente, habituado a lidar com o público, a dar explicações. Como explicar então uma carreira profissional tão longa e hoje tão improvável quanto desactualizada? Sem interromper o trabalho, sem mágoa, Alberto Gomes não hesita, diz que tudo muda, é certo, mas o essencial fica.
O essencial?
”Sim, a necessidade de ganhar a vida.”
Belino Costa
(texto e fotos)
O essencial?
”Sim, a necessidade de ganhar a vida.”
Belino Costa
(texto e fotos)
será possível facultar-me o contato desse senhor. Segundo o texto que escreveu, fiquei com a ideia de que o Sr Alberto lhe forneceu um cartão de visita com contatos.
ResponderEliminarobrigada desde já,
rita