1 de outubro de 2007

Mau político e bom Bustuense ou bom político e mau Bustuense?Opinião

Mau político e bom bustuense é realmente o meu enquadramento, convicto de que renuncio a ser um bom político mas claramente um mau bustuense.

Tomei o primeiro contacto com a página oficial da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro em data que já não me é possível determinar. A página passou a disponibilizar recentemente informação sobre a História, a origem da toponímia, património, artesanato e gastronomia entre outras do concelho, informações claramente pertinentes que visam mostrar o que de actrativo tem o nosso concelho.

Após uma análise relativamente superficial fiquei claramente consternado por notar a ausência do Palacete do Visconde de Bustos na descrição do património do concelho, património que possui características que atestam efectivamente a sua singularidade no concelho e sobretudo um património que não é só dos Bustuenses mas de todos os munícipes.

"Património

Oliveira do Bairro é dona de uma natureza ímpar, com as suas Cegonhas-branca na zona do Vale do Cértima. Vale a pena ver o espectáculo que estas aves dão, quer estejam a pairar no ar, quer estejam no ninho a cuidar das crias, quer estejam nas marinhas de arroz existentes a pescar. É também comum ver-se nas marinhas de arroz bandos de Cegonhas-branca juntamente com Garças-real, Garças-branca, Garças-vermelhas, como se estivessem todas numa “amena cavaqueira”. É óbvio que em tamanha concentração tem de haver segurança. E existe: Águias-sapeira e Milhafres-preto pairam no ar como se estivessem alerta aos predadores típicos destas aves. Aparte este espectáculo vivo, as marinhas de arroz, verdadeiros mantos verdejantes que ondulam ao sabor do vento, vinhas a perder de vista, matas e eucaliptais são outros actrativos na parte da natureza. Existe também vários parques de merendas espalhados pelo concelho, cada um com a sua beleza e história, sempre integrados na natureza circundante. Existe também, em especial em Oliveira do Bairro (freguesia) e Bustos lagoas feitas por antigas extracções de barro, hoje lindíssimas paisagens (quase) naturais. Como esta é uma zona de agricultores, existem espalhados pelo concelho vários moínhos de água que serviam para moer vários tipos de cereiais e lagares de azeite. A religião, fé e crença está muito presente no concelho e tem forma nas várias igrejas, capelas e alminhas que existem. Realce para a Igreja Matriz da Mamarrosa, datada do séc. XVII, e a Igreja Matriz de Oiã, datada do séc. XIX, com a sua talhada dourada. Pelourinhos e cruzeiros de várias épocas também são visíveis nos caminhos do concelho. Não esquecer o Museu de Arte Sacra de S. Pedro da Palhaça na antiga Igreja de S. Pedro da Palhaça, com um vasto espólio de Arte Sacra e Arquivo Histórico Regional, e também Museu de Etnomúsica da Bairrada no Troviscal, com sua colecção de instrumentos, partituras, gravações, documentação variadae depoimentos sempro com o elo da música a unir a Bairrada. " [1]

Contudo, são referenciadas no património logoas resultantes das antigas explorações de barro presentes quer em Oliveira do Bairro (freguesia) e em Bustos defenidas como "lindíssimas paisagens quase naturais."Pergunto-me de facto se o melhor cartão de visita de Bustos no que respeita a património serão de facto "as lindíssimas paisagens (quase) naturais" que estão notoriamente em estado de abandono, a aguardar requalificação e a oferecer um perigo constante, às crianças que por falta de piscina na freguesia elegem todos os anos as lagoas como local para realizarem os seus banhos.

Não me parece efectivamente que o Palacete seja considerado património pela Câmara Municipal, de facto a actuação da Câmara é de facto evidente, não aparece referenciado no património do concelho e o estado de degradação em que este se encontra é outro indicador.

Enquanto bustuense e munícipe a minha tristeza acompanha e cresce a par com a degradação do edifício. Tenho de facto pena que a singularidade da construcção, os belíssimos frescos que embelezam os tectos, e o tecto onde se encontra a biblioteca que carece urgentemente de um estudo à sua iconografia, não consigam sensibilizar a Câmara Municipal.

Contactei a Câmara Municipal comunicando através de e-mail a ausência do Palacete no património e é com grande pena que comunico o meu insucesso, pois nem vi que fosse incluido até à data na descrição do património nem tão pouco me foi dada qualquer resposta ao e-mail enviado.

Em destaque são referidas como património no site da Câmara Municipal as igrejas matrizes de Mamarrosa e Oiã, a igreja de Bustos apesar de ser de um período mais actual, é de facto uma construcção arrojada para a época, com um estilo arquitectónico invulgar e com decoração rica por também ela ser singular no concelho, refiro-me especificamente à fachada da igreja junto às portas e ao vitral lateral esquerdo da igreja, que também não aparece referenciada.

Sou portanto forçado a concluir que o património que temos em Bustos não aparece referenciado porque resulta de algo sintomático, o estado de degradação em que ambos os edifícios se encontram. Dou no entanto as minhas felicitações pessoais a todos aqueles que neste momento abraçaram o projecto de devolver a devida dignidade à igreja de Bustos e que estão a reunir a quantia necessária para a restauração da igreja.

Alberto José Rodrigues Martins
Coimbra, 1 de Outubro de 2007
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[1] Texto retirado do site da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro

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