28 de maio de 2005

POSTAL DO ROSSIO - 7 «» Bustos no roteiro de Branquinho da Fonseca (4.05.1905, Mortágua (*) Cascais, 16.05.1974)


Quem havia de dizer?


Os foguetes “tróis-tróis” do Ilídio ouvem-se ali para os lados do Sobreiro. Branquinho da Fonseca tinha chegado ao indefinido termo do Sobreiro. O Austin arrasta-se esfalfado com o peso de umas centenas de livros destinados à Jóia da Coroa [Biblioteca Fixa nº 26].


O Arsénio Mota, sentado na Secretária da “Sala de Leitura”, escreve um memorandum a requisitar uma revista de Cultura Árabe recentemente editada pela Fundação Calouste Gulbenkian.


O Dr. Assis interrompe a manipulação de uma receita prescrita pelo Dr. Heitor e irrompe pela cozinha do Piri-Piri a avisar a Ti Maria que apronte a chanfana.


O Abel Martins (Serralheiro) pede ao Necas (Zé Pedro) que o substitua no trabalho do torno na INF (Indústria Nacional de Ferramentas).[O patrão, Manuel Simões dos Santos (da Barroca], também era um "súcia" do grupo].
O Aires Gordo larga o Balcão da Casa das Modas e telefona ao Madeira da Drogaria. Ainda se ouve "vem já!"
O Eng. Neo Pato larga o estirador com os desenhos do projecto para a futura Igreja do Corgo.


Os tiros da pólvora tinham provocado o corrupio para a “Sala da Leitura”.


Branquinho da Fonseca estaciona o carro em frente ao consultório do Dr. Jorge, que ao som da buzinadela, saía a correr do consultório, juntando-se aos parceiros da Comissão de Melhoramentos.


Os abraços misturam-se com embrulhos e guias de entrega.
Na sua calma, o Abel confere e rubrica


As estantes e os mapas de movimento são catrapiscados pelo “Barão”. O ar de satisfação é a moeda de troca dos bons resultados do movimento da biblioteca.


Branquinho da Fonseca faz uma pausa, risca no ar um arco atlântico com o braço e avança: “Oh Arsénio, oh Assis arranjem uma associação que a Fundação dá todo o apoio… Porque esperam?”. [Arsénio (Mota) já conversava com o escritor coimbrão e universal em patamar mais elevado da literatura.]


Magica o Dr. Assis: “e quem vence o entrave?”. Os ares de Oliveira do Bairro e de Aveiro permanecem inquinados. Ainda há pouco, o nome do Eng. Neo Pato havia sido riscado da Direcção do Orfeão de Águeda. Era persona non grata.


No Piri-Piri, a chanfana preparada com a mestria da Ti Maria, abria a sessão de mais um colóquio sobre as correntes literárias. A Presença já tinha voado.

Nos tempos difíceis da década de 1960, o Amigo de Bustos, o Poeta presencista e de acção, ajudou a criar e a desenvolver a Biblioteca Fixa nº 26.
José Maria Branquinho da Fonseca partiu.
O centenário do seu nascimento foi ignorado.
A Placa a assinalar a Biblioteca Fixa evaporou-se. [Está em Oliveira do Bairro. Até quando?]
Bustos está desmemoriado ou está a consolidar um estatuto de colónia de Oliveira do Bairro?
O Prof. Oleastro, encarregado da Biblioteca Itinerante, também está esquecido. Quantos títulos foram sugeridos quando um de nós pretendia requisitar um livro que não se coadunava com a nossa idade?

Sérgio Micaelo Ferreira (ficção&realidades)
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Excerto de "O Barão":
"Não gosto de viajar. Mas sou inspector das escolas de instrução primária e tenho obrigação de correr constantemente todo o País. Ando no caminho da bela aventura, da sensação nova e feliz, como um cavaleiro andante. Na verdade lembro-me de alguns momentos agradáveis, de que tenho saudades, e espero ainda encontrar outros que me deixem novas saudades."
(in Branquinho da Fonseca, Barão. Lisboa: Relógio d'Água, 1998)
http://www.iplb.pt/
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Prémio Branquinho da Fonseca:


Encerra a 31 de Maio o concurso promovido pelo Expresso/Gulbenkian nas duas modalidades – obras de literatura para a infância e para a juventude.
Consultar
http://www.gulbenkian.pt/admin/attachs/193.pdf.

[Rossio da Póvoa, um topónimo a recuperar]

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