29 de abril de 2014

“NÃO PODEMOS PERDER A ESPERANÇA”


Armando Humberto

O 25 de Abril trouxe a democracia, o fim da guerra colonial, a democratização do acesso à saúde, do acesso ao ensino, a proteção social na velhice, a igualdade entre homens e mulheres, e um conjunto de outras pequenas grandes coisas que fazem com que a maioria de nós sinta orgulho na nossa revolução.
Mas Abril trouxe uma outra coisa essencial para um Povo que é a Esperança num futuro melhor.
E se há algo que nos tem sido retirado, neste últimos 3 anos, é precisamente essa Esperança. Mais do que os cortes nos salários, mais do que o aumento de impostos, mais do que a redução do poder de compra, aquilo que mais nos tem marcado enquanto Povo é esse roubar da Esperança num futuro melhor.
Por vezes sinto que o que está a acontecer em Portugal à escala Europeia é em tudo semelhante aquilo que aconteceu a tantas pequenas localidades do interior do nosso País que viram os seus filhos partir à procura de uma vida melhor, que viram depois as escolas, o hospital, o tribunal, os serviços fecharem e que aos poucos e poucos foram perdendo gente foram perdendo a Esperança e a Irreverência própria da juventude. Parece que aquilo que aconteceu a muitas regiões do interior de Portugal, que perderam os seus filhos para o litoral mais industrializado mais moderno, está agora a acontecer ao País como um todo, um Pais que vai perdendo jovens para outros países, outros países onde existe e se cultiva essa Esperança num futuro melhor.
Nós não podemos interiorizar o discurso do fatalismo histórico que nos querem vender. Nós não podemos interiorizar o discurso de que não há futuro. Nós não podemos perder a Esperança.
Pois um Portugal sem esperança era o Portugal de antes de Abril, o Portugal em que maioria dos pobres nasciam pobres e morriam pobres, porque a mobilidade social era mínima, porque o acesso ao ensino era só para alguns, em que o berço condicionava mais o futuro que o mérito de cada um. Esse era o Portugal em que o talento de gerações e gerações de portugueses era desperdiçado porque necessidades económicas básicas os obrigavam a ir muito cedo trabalhar, ainda crianças, para o campo ou para a fábrica. Era o País em que uma grande maioria vivia no limiar da pobreza.
Nós não queremos voltar a esse Portugal. Nós não queremos que nos apontem esse caminho. Nestes últimos três anos os portugueses aceitarem fazer grandes sacrifícios, mas nós não podemos aceitar cortes atrás de cortes, ano após ano, e que no fim nos digam que só há lugar para nós nesta Europa se ganharmos um terço daquilo que ganham os Alemães.
Nós não queremos isso, nós não aceitamos isso, e é importante que os nossos políticos percebam isso, percebem que é chegada a altura de defender os nossos interesses numa Europa cada vez mais deslocada para leste.
Mais do que fundos Europeus nós precisamos de condições para podermos sobreviver como País, numa Europa de moeda única. Mas não somos os únicos, os nossos problemas não são assim tão diferentes dos problemas dos Espanhóis, dos Gregos, e dos Irlandeses. Saibamos procurar aliados, saibamos ganhar força para influenciar o rumo desta Europa.
Ainda há pouco tempo, e título ilustrativo deixem que vos conte esta história, falava com um amigo que se dedica à importação de produtos da Indonésia para Portugal. E dizia-lhe: porque é que não levas também produtos portugueses para a Indonésia. E a resposta foi que é impossível, pois as leis Indonésias são tais que tornam impossível para nós lá colocar os nossos produtos. Mas os Alemães conseguem lá colocar os carros deles, então algo está mal, porque se o produto do pequeno produtor Indonésio entra em Portugal com facilidade, o produto no nosso pequeno produtor também tem que conseguir entrar na Indonésia com igual facilidade, tem que haver esta defesa permanente dos nossos interesses e atualmente isto não ocorre, a política europeia é orientada apenas pelos interesses de alguns e nós temos que lutar contra isto.
Hoje, vivemos tempos cinzentos, em que o futuro parece que nos escapa por entre os dedos, mas tal como nem tudo foram rosas depois de abril também o futuro não será tão cinzento como por vezes nos querem fazer querer.
Temos que mudar muita coisa, claro que temos, mas Abril foi também isso, foi uma grande mudança.
Temos que passar a valorizar a competência, temos que passar a valorizar o mérito, temos que passar a valorizar o desempenho, temos que passar a valorizar o trabalho. Temos que repugnar o compadrio, temos que acabar com o clientelismo.
Temos que premiar quem tem sucesso à custa do seu trabalho, da sua iniciativa, da sua inteligência. Temos que acabar com o chico-espertismo.
Temos que promover o que é nosso, temos que estimular a iniciativa. Temos que criar em vez de destruir. Temos que respeitar as pessoas.
Temos que honrar abril, temos que assumir com Responsabilidade e Coragem a Liberdade que abril nos trouxe, não nos deixemos vergar ao comodismo ou à mediocridade. Saibamos ser aquilo que o País precisa, homens e mulheres Livres, Empenhados e Competentes, porque só isso é que nos irá assegurar o futuro que abril nos prometeu.

 (Discurso proferido na sessão comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril. Armando Humberto é membro da Bancada do Partido Socialista na Assembleia Municipal  de Oliveira do Bairro)

Sem comentários:

Enviar um comentário