Em 1973 o
orçamento das forças armadas portuguesas consumia 17% dos recursos do país.
Daí que não
seja de admirar que, tal como 150.000 militares, me encontrasse algures nos
confins do império colonial português quando irrompeu a Revolução de Abril.
A minha
unidade militar, uma prestigiada companhia de intervenção que andava a fazer de
salta-pocinhas, tinha-se deslocado a 10 de abril para uma fazenda abandonada,
algures no norte de Angola.
Chamava-se,
curiosamente, Roça Aurora, como que a antever o alvorecer que se aproximava.
Através das
comunicações da rádio oficial de Angola apercebemo-nos de que algo de muito
especial se passava na então chamada Metrópole. Era tal a escassez de
informações oficiais que logo recorremos às emissoras estrangeiras. Como se
fosse hoje, recordo um cético Agostinho Neto, líder do MPLA, a debitar à rádio
Brazaville uma entrevista em francês, reduzindo o movimento libertador a um
mero golpe de estado militar.
O assédio aos
noticiários continuou pela noite dentro do dia 25 de Abril e não tardou a que o
êxito do Movimento das Forças Armadas nos fizesse passar da expectativa ao
entusiasmo.
Ao longo de
23 meses de constante atividade militar por todo o norte de Angola e Cabinda,
deu para perceber que só uma solução política podia pôr fim à guerra e
construir a paz.
Cansados de
operações constantes, sentimos na carne o erro profundo de querer continuar uma
guerra para a qual não havia fim à vista.
Regressámos a
Luanda a 27 de Abril.
Para muitos
de nós, chegara o tempo de aprender o que era a liberdade e a democracia.
Óscar Aires dos Santos
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