25 de abril de 2014

ABRIL DE GUERRA, ABRIL DE PAZ



Em 1973 o orçamento das forças armadas portuguesas consumia 17% dos recursos do país.
Daí que não seja de admirar que, tal como 150.000 militares, me encontrasse algures nos confins do império colonial português quando irrompeu a Revolução de Abril.
A minha unidade militar, uma prestigiada companhia de intervenção que andava a fazer de salta-pocinhas, tinha-se deslocado a 10 de abril para uma fazenda abandonada, algures no norte de Angola.
Chamava-se, curiosamente, Roça Aurora, como que a antever o alvorecer que se aproximava.
Através das comunicações da rádio oficial de Angola apercebemo-nos de que algo de muito especial se passava na então chamada Metrópole. Era tal a escassez de informações oficiais que logo recorremos às emissoras estrangeiras. Como se fosse hoje, recordo um cético Agostinho Neto, líder do MPLA, a debitar à rádio Brazaville uma entrevista em francês, reduzindo o movimento libertador a um mero golpe de estado militar.
O assédio aos noticiários continuou pela noite dentro do dia 25 de Abril e não tardou a que o êxito do Movimento das Forças Armadas nos fizesse passar da expectativa ao entusiasmo.
Ao longo de 23 meses de constante atividade militar por todo o norte de Angola e Cabinda, deu para perceber que só uma solução política podia pôr fim à guerra e construir a paz.
Cansados de operações constantes, sentimos na carne o erro profundo de querer continuar uma guerra para a qual não havia fim à vista.
Regressámos a Luanda a 27 de Abril.
Para muitos de nós, chegara o tempo de aprender o que era a liberdade e a democracia.
40 anos depois, persiste a pergunta: onde param os ideais de Abril?

 Óscar Aires dos Santos

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