foto de arquivo da Família |
Natalino dos
Santos Rodelo
19.01.1941 – 29.11.2013
Póvoa (Bustos) – Boliqueime (Loulé)
Filho de Adriano dos Santos Rodelo e de Caurina Mota
Casado com Irene Silva Ferreira Rodelo.
“A minha paz
residia
debaixo daquele tecto” (2)
[na alfaiataria
do Ti Adriano]
(Carlos
Luzio)
Natalino Rodelo foi um cidadão exemplar da
diáspora de Bustos, dedicado *a Família, profissional com nome firmado,
autodidata em busca do saber e do belo, dirigente associativo, … a sua presença
em atos públicos era marcada pela
discrição. Desde muito cedo revelou aptidões para a escrita e para o desenho.
Casa de Bustos – Adriano Rodelo e Caurina Mota com o «Lorde» (5) (sentado) A ponta de cigarro tenta passar camuflada foto de arquivo da Família |
O professor Manuel Pires, extraordinário
preparador dos alunos para enfrentar o exame de admissão aos Liceus, elogiava
amiudadas vezes as suas redações.
Ouçamos o loquaz Élio Freitas,
companheiro e testemunha privilegiada do então vizinho e amigo Natalino:
Memórias da
Rua da Póvoa…
Desde que me
lembro, o Natalino e a sua irmã Marlene trabalhavam todos os dias ao lado dos
seus pais, Adriano e Caurina, na alfaiataria…
Caurina Mota e Adriano dos Santos Rodelo
foto de arquivo da Família
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Enquanto a
malta brincava e fazia trinta por uma linha, o nosso amigo Natalino lá estava
todos os dias a ajudar na alfaiataria.
O Sr. Adriano
era muito restrito com os filhos. A solução era simples:
Nós íamos ter com ele à alfaiataria. Quando eu e outros queríamos ler uma
revista como o Mundo de Aventuras, ou Revistas de filmes, a nossa biblioteca
era a alfaiataria Adriano. O Natalino assinava as melhores revistas juvenis e
isso atraía os colegas para ler e visitar o amigo…
O local de encontro diário para muitos jovens da zona era a alfaiataria por causa da leitura das revistas…e o Natalino sabia que isso era uma maneira de compensar o facto de ele ter de estar sempre amarrado ao trabalho e não poder sair a brincar com e resto dos amigos da Rua.
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O Natalino
era o modelo de rapaz que todas as mães da Rua da Póvoa usavam para exemplo dos
filhos…."Porque é que não és como o Natalino?" E todos os que o
conheciam tinham-lhe muito carinho e respeito, porque sabiam o sacrifício que
ele fazia para obedecer ao pai Adriano…
Aos Domingos
lá vinha a oportunidade de uma festa ou baile, e os colegas da Rua da Póvoa aí
estavam todos contentes por acompanhar o modelo amigo Natalino a passar umas
horas alegres como qualquer jovem da sua idade.
Memórias que
nunca morrem, dum amigo de sempre, dum jovem educado e totalmente dedicado á sua
família. (Élio Freitas, Califórnia)
Um aparte: A “escola” dos seus Pais
(Caurina e Adriano) deu frutos sãos e merece uma reflexão a ser
feita pelos educadores de hoje.
O ambiente da Alfaiataria transposto por Carlos Luzio em
dois poemas “Ti Adriano – Alfaiate” e “Entre Panos e Linhas” “oferecem-nos um retrato
comovente daquele que fora noutros tempos, um importante ponto de encontro
desta aldeia, …” (3) (Michel Mota).
Bustos - Casa do Sr. Adriano - A Alfaiataria foi "um importante ponto de encontro" (Michele Mota)
foto de arquivo da Família
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É naquele primeiro poema que o Natalino fica a ser
registado com o atributo de o «Linhas», conforme o excerto de “Ti
Adriano-Alfaiate (4) …:
Recordo as tardes a ouvir música num velho gravador
Não era música do teu tempo, não senhor
Eram canções que ouvia como se fossem minhas
Que gostavam ao “Lorde” (5) e ao “Linhas” .
(Carlos Luzio, Pescador de Sonhos)
Com naturalidade e muito trabalho,
gosto e dedicação, o Natalino fez-se à vida.
Um vivo agradecimento às informações prestadas pela Irene Rodelo que vão
preencher uma parte do seu invejável
curriculum:
-
Emigrou para os Estados Unidos em 26(?)-02, 1966.
- No início
trabalhou em 2 fábricas, tendo depois voltado à sua profissão de
"Alfaiate"
- Regressou a Portugal em 25-06,1982.
- Foi Alfaiate de profissão em Portugal e também nos últimos 7 anos nos
States.
-
- Em Portugal
aprendeu a podar as árvores e adorava cuidar do Pomar.
Desenho – A Sua
Preferência
O desenho dele mais conhecido entre os amigos é do centro de Bustos, (…)
ele fez em tamanho A4 o qual foi enviado aos professores para avaliação. Depois
fez o mesmo ampliado o qual ofereceu à Junta de Freguesia na altura de uma
cerimónia do 18 de Fevereiro, creio que foi pelas Bodas de Ouro da nossa
Freguesia.
…
Ao serviço da comunidade
- Fez parte dos cantares do
Orfeão de Bustos com os filhos durante uns anos.
- Esteve integrado na Direção do Orfeão durante alguns mandatos.
- Ajudou a organizar várias atividades do Orfeão como as aulas de
música, corridas BTT as quais ele fazia os desenhos para os anúncios das mesmas
e também o desenho do símbolo de Bustos.
Todos esses trabalhos da escola que ele tinha como relíquias tinham desaparecido durante o tempo que esteve emigrado.
Todos esses trabalhos da escola que ele tinha como relíquias tinham desaparecido durante o tempo que esteve emigrado.
O Cidadão
Natalino nos States
(Estados
Unidos da América)
FORMAÇÃO
O Natalino estudou Inglês em escola
noturna.
INTERVENÇÃO CÍVICA
.
- Fez parte
da direcção do nosso Luso American Portuguese
Club em alguns mandatos., tendo participado na organização de:
.
Visitas a museus em Nova York,
. Festas de Concursos como Vestido de
Chita,
. Festas das Colheitas em que
representávamos as colheitas do nosso Portugal.
(Nota:
As nossas concorrentes ganhavam Prémios. Por sinal uma miúda da Mamarrosa
ganhou o primeiro Prémio que foi uma viagem a Portugal.)
Apetência para a Escrita
A veia de escritor já se manifestara no tempo da Escola Primária.
Escreveu poesia que um dia poderá vir a lume.
Venceu concursos de quadras.
"O Natalino escrevia coisas muito bonitas, mais nas cartas para familiares e
amigos, tinha uma veia cómica e outra sentimental, umas faziam chorar, outras
chorar de rir. Ele era um SONHADOR!....AND I MISS HIM
SO....”
…
AND I MISS HIM SO.... (Irene Rodelo)
A expressão sentida pela Irene diz tudo.
A Irene e o Natalino foram atingidos pela seta do
Cupido, conhecedor do DNA dos dois. O Amor frutificou. A replicação genética continuará
a ser acarinhada e irá manifestar-se através de gerações.
*
Sempre dedicado à Família,
Nos States - batizado da Diana: Helena (irmã) da Irene; Natalino, Irene e Dean; Caurina com Diana ao colo e Adriano
foto de arquivo da Família
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o Natalino viveu num patamar mais elevado, onde se
encontram o Desenho, a Música, a Natureza. Daí sonhou elevar o Homem.
“Para mim, não há nada mais importante no futuro que o
desenho. É a alma de tudo o que é criado pelo homem”.
*
A
encerrar esta singela evocação do Natalino dos Santos Rodelo, nada será mais
oportuno do que incluir o depoimento do irmão do Élio, Alcides Freitas:
Natalino dos Santos
Rodelo - in memorium
O Natalino
“seguia fielmente
as instruções dos pais”
Alcides
Freitas
Convívio – Sentados: Élio, Natalino (anfitrião) e Helen;
De pé – Alcides, Fernando Luzio, Celeste e Irene (anfitriã)
foto de arquivo da Família
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O Natalino tinha as suas raízes na
Póvoa e foi ai que cresceu, brincando com os miúdos vizinhos,
buscando ninhos, jogando o pião, armando costelos, mas nunca metido em
sarilhos com ninguém. Ele seguia fielmente as instruções dos pais e se
saía fora da linha, lá estava o Sr. Adriano para lhe dar os seus
conselhos e não só. Dos pais herdou um grande respeito pelo próximo e
disciplina no desempenho dos serviços de casa e trabalhos de escola. A
verdade é que o nosso amigo adorava brincar com os amigos mas o
pai raramente o autorizava a afastar-se de casa.
No entanto, era na casa dele, na
alfaiataria do pai, que eu e o Élio e outros miúdos nos
juntávamos para ler “O Mundo de Aventuras” que chegava todas as
Quartas Feiras às mãos do Natalino através dos Correios. Líamos e relíamos
todas aventuras do semanal. Que boas memórias...
Com o terminar da Escola Primária,
o Natalino que sempre teve um bom aproveitamento escolar, gostava
muito de continuar a estudar, mas os pais deram-lhe a saber que muito
embora gostassem que ele fosse estudar, isso não seria possível porque não
havia bens que o permitissem. E assim, com o terminar do exame de admissão aos
Liceus, o Natalino começou a dedicar-se completamente à arte de alfaiate. O
nosso amigo começou a viver uma vida de adulto desde a tenra idade dos onze
anos. Os anos passaram. Cada um de nós tomou
o seu rumo, mas a nossa amizade manteve-se através dos
anos.
O Natalino sempre será para mim o grande
amigo da minha mocidade.
(Alcides Freitas, Califórnia)
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Notas:
a) O Natalino também merece que surja mais do que uma biografia
b) A organização desta peça foi possível graças à participação direta ou indireta de vários coadjuvantes. O meu bem haja, sérgio micaelo ferreira
Em rodapé:
a) O Natalino também merece que surja mais do que uma biografia
b) A organização desta peça foi possível graças à participação direta ou indireta de vários coadjuvantes. O meu bem haja, sérgio micaelo ferreira
Em rodapé:
(1) Título emprestado por Élio Freitas
(2)
Carlos Luzio, Pescador de Sonhos, Entre Panos e Linhas (na Alfaiataria do Ti
Adriano), p. 108, edição póstuma feita por amigos do autor, Bustos -2005.
(3)
Michele Mota, Pescador de Sonhos – Uma Análise,
p. 30
(4)
Carlos Luzio, Pescador de Sonhos, “Ti Adriano – Alfaiate” , p. 106
(5)
«Lorde», Idílio Rosário – alfaiate, empregado do Sr. Adriano.
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