9 de fevereiro de 2014

AS CRÓNICAS DE "BUSTOS DO PASSADO E DO PRESENTE"

A Comissão de Melhoramentos de 1960

Sérgio Micaelo Ferreira


No antigo Salão do Bustos Sonoro Cine, pelas dezasseis horas do 1º dia de Janeiro de 1960, em assembleia popular, a Comissão de Melhoramentos de Bustos/60, «formada na altura por um escasso grupo de ardorosos bairristas» (in Arsénio Mota), apresentou à população um “plano” de intenções que devolveria o progresso à freguesia. Em convite dirigido aos conterrâneos para assistir à reunião, a Comissão Organizadora partia da premissa que “A nossa terra não é uma povoação qualquer” e fazia recordar os feitos da freguesia alcançados em curtos trinta e seis anos e que espalhavam admiração por várias léguas em redor. Retém-se alguns: a criação da freguesia; a estação dos correios, a escola primária do Corgo, o Centro Recreativo de Instrução e Beneficência (fundado em 1936), a instalação luz eléctrica, a feira bi-mensal, o clube desportivo, etc. Estas as inscrições mais relevantes do bairrismo dos bustenses.
Para bem do progresso, a Comissão de Melhoramentos sustentava que “as energias vitais de cada bustoense, do primeiro até ao último, são indispensáveis na tarefa comum da construção de uma Terra que nos mereça, como casa nossa”.


A circular-convite «dirigida a todos os bustoenses, sem excepção», retomava os melhoramentos que eram badalados e que vale a pena referir: “Casa de Saúde, Colégio de Educação Secundária, A Igreja Nova, Agência Bancária e de Viagens, Biblioteca Pública, Jornal Semanal, Mercado Semanal, Bairro de Casas Económicas, Aquisição do Terreno da Feira para Junta de Freguesia”. Tratava-se de um roteiro a ser desenvolvido pelo poder e pela iniciativa privada. Que ainda hoje se mantém actual. O terrado da feira ainda não é propriedade da Junta e a construção do Bairro Social está para as calendas, apesar de já haver terreno e uma ou outra máquina ter-se mostrado conforme o calendário da propaganda.
A criação deste grupo de pressão, mereceu do P.e Vidal, então correspondente de Bustos do Jornal da Bairrada, a seguinte notícia: “Foi criada uma «Comissão de Melhoramentos de Bustos», que esperamos possa contribuir para que esta terra progrida e se embeleze mais e muito mais.»
Cumpriu-se o Colégio [Externato Gil Vicente], em 1961. Recorda-se que para a sua concretização houve um despique aceso ente um grupo com liderança local e outro com forças integradas no poder de Oliveira do Bairro.
Bons ventos trouxeram a instalação da Biblioteca Fixa nº26 da Fundação Calouste Gulbenkian (Arsénio Mota foi a alma mater deste evento). A inauguração no Dia da Freguesia/61, teve honras da presença do Director-Adjunto das Bibliotecas Itinerantes daquela Fundação. A entidade de suporte da existência desta foi a Comissão de Melhoramentos. Daí que o correio da Gulbenkian fosse dirigido a esta comissão.
A Igreja Nova nascida do querer do P.e Vidal, teve a colaboração comprometida de uma equipa liderada pelo Eng. Neo Pato, republicano, laico e natural de Bustos. A propósito, conta o engenheiro: “Quando detido em Caxias, o agente da PIDE Pires, admirado, interrogava – se “como é que um comunista está a construir uma Igreja?”. O Templo foi consagrado no Dia da Nossa Senhora da Conceição de 1964.
O Jornal semanal ficou-se pelo projecto de Arsénio Mota. A Censura fez abortar o seu nascimento.
Apesar da Comissão ter duração efémera e sem ter dirigido a execução de projectos, constituiu um grupo de forte pressão, como foi o caso do pedido feito, em Dezembro de 1960, à Junta de Freguesia para alargar a via pública [estrada municipal nº 596] próximo do limite entre o Troviscal e Bustos, junto ao aqueduto da Feiteira”.
Antes, no Dia de Bustos/60, no Salão do Bustos Sonoro Cine, a Comissão promoveu a homenagem aos cidadãos Jacinto dos Louros, pelo seu contributo na criação da freguesia e ao Dr. Manuel Santos Pato pela influência exercida junto da Diocese de Coimbra na criação da paróquia de S. Lourenço de Bustos. No acto, foram descerradas duas placas no salão. Por motivo de obras, foram retiradas. Para quando a sua reposição em lugar condigno, com a indicação (ou outra) “Homenagem promovida pela Comissão de Melhoramentos em 18 de Fevereiro de 1960”? Hilário Costa, em “Bustos – Memória de um bustoense”, indica o Salão Nobre do Palacete o local certo para as placas.
Está feita uma leitura apoiada na circular-convite já referida e no trabalho de Arsénio Mota, “Bustos – elementos para a sua história”.
Dr. Jorge Micaelo, Dr. Assis Rei, Eng. Manuel Pato, Sr. Augusto Costa, Sr. Graciano Lusio, Sr. Arsénio Mota (o redactor do programa), são os nomes que constam da circular. Mas outros nomes também fizeram parte. Quem os acrescenta?

Foi uma comissão de curta duração, a sua intervenção foi mal conhecida até pelos seus conterrâneos, porque arrastava uma atmosfera oposicionista ao regime de Salazar, … “Mas, a partir dela, “os Bustuenses recomeçaram a olhar de frente os seus problemas colectivos e a unir forças” (in Arsénio Mota).

Nota 1) – Por vezes, «brinca-se» à toponímia, adoptam-se critérios sem sustentação e daí surgirem alguns atropelos ao senso comum. É chegado o momento de se cumprir o direito da Comissão de Melhoramentos/60 ter nome de rua ou largo.
Nota 2) – Arsénio Mota teria sido o redactor da circular-convite e do programa da Comissão de Melhoramentos/60. A sua deslocação para o Jornal de Notícias ajudou a desactivar a Comissão. Contudo, os seus depoimentos são indispensáveis, bem como os de outros intervenientes.

Nota 3) – Não referi a criação do posto da GNR, por não estar referenciado na circular-convite.

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