A Comissão de Melhoramentos de 1960
Sérgio Micaelo
Ferreira
No antigo Salão do Bustos Sonoro Cine, pelas dezasseis
horas do 1º dia de Janeiro de 1960, em assembleia popular, a Comissão de
Melhoramentos de Bustos/60, «formada na altura por um escasso grupo de
ardorosos bairristas» (in Arsénio Mota), apresentou à população um “plano” de
intenções que devolveria o progresso à freguesia. Em convite dirigido aos
conterrâneos para assistir à reunião, a Comissão Organizadora partia da
premissa que “A nossa terra não é uma povoação qualquer” e fazia recordar os
feitos da freguesia alcançados em curtos trinta e seis anos e que espalhavam
admiração por várias léguas em redor. Retém-se alguns: a criação da freguesia;
a estação dos correios, a escola primária do Corgo, o Centro Recreativo de
Instrução e Beneficência (fundado em 1936), a instalação luz eléctrica, a feira
bi-mensal, o clube desportivo, etc. Estas as inscrições mais relevantes do
bairrismo dos bustenses.
Para bem do progresso, a Comissão de Melhoramentos
sustentava que “as energias vitais de cada bustoense, do primeiro até ao último,
são indispensáveis na tarefa comum da construção de uma Terra que nos mereça,
como casa nossa”.
A circular-convite «dirigida a todos os bustoenses, sem
excepção», retomava os melhoramentos que eram badalados e que vale a pena
referir: “Casa de Saúde, Colégio de Educação Secundária, A Igreja Nova, Agência
Bancária e de Viagens, Biblioteca Pública, Jornal Semanal, Mercado Semanal,
Bairro de Casas Económicas, Aquisição do Terreno da Feira para Junta de
Freguesia”. Tratava-se de um roteiro a ser desenvolvido pelo poder e pela
iniciativa privada. Que ainda hoje se mantém actual. O terrado da feira ainda
não é propriedade da Junta e a construção do Bairro Social está para as
calendas, apesar de já haver terreno e uma ou outra máquina ter-se mostrado conforme
o calendário da propaganda.
A criação deste grupo de pressão, mereceu do P.e Vidal,
então correspondente de Bustos do Jornal da Bairrada, a seguinte notícia: “Foi
criada uma «Comissão de Melhoramentos de Bustos», que esperamos possa
contribuir para que esta terra progrida e se embeleze mais e muito mais.»
Cumpriu-se o Colégio [Externato Gil Vicente], em 1961.
Recorda-se que para a sua concretização houve um despique aceso ente um grupo
com liderança local e outro com forças integradas no poder de Oliveira do
Bairro.
Bons ventos trouxeram a instalação da Biblioteca Fixa nº26
da Fundação Calouste Gulbenkian (Arsénio Mota foi a alma mater deste evento). A
inauguração no Dia da Freguesia/61, teve honras da presença do Director-Adjunto
das Bibliotecas Itinerantes daquela Fundação. A entidade de suporte da
existência desta foi a Comissão de Melhoramentos. Daí que o correio da
Gulbenkian fosse dirigido a esta comissão.
A Igreja Nova nascida do querer do P.e Vidal, teve a
colaboração comprometida de uma equipa liderada pelo Eng. Neo Pato,
republicano, laico e natural de Bustos. A propósito, conta o engenheiro:
“Quando detido em Caxias, o agente da PIDE Pires, admirado, interrogava – se
“como é que um comunista está a construir uma Igreja?”. O Templo foi consagrado
no Dia da Nossa Senhora da Conceição de 1964.
O Jornal semanal ficou-se pelo projecto de Arsénio Mota. A
Censura fez abortar o seu nascimento.
Apesar da Comissão ter duração efémera e sem ter dirigido a
execução de projectos, constituiu um grupo de forte pressão, como foi o caso do
pedido feito, em Dezembro de 1960, à Junta de Freguesia para alargar a via
pública [estrada municipal nº 596] próximo do limite entre o Troviscal e
Bustos, junto ao aqueduto da Feiteira”.
Antes, no Dia de Bustos/60, no Salão do Bustos Sonoro Cine,
a Comissão promoveu a homenagem aos cidadãos Jacinto dos Louros, pelo seu
contributo na criação da freguesia e ao Dr. Manuel Santos Pato pela influência
exercida junto da Diocese de Coimbra na criação da paróquia de S. Lourenço de Bustos.
No acto, foram descerradas duas placas no salão. Por motivo de obras, foram
retiradas. Para quando a sua reposição em lugar condigno, com a indicação (ou
outra) “Homenagem promovida pela Comissão de Melhoramentos em 18 de Fevereiro
de 1960”? Hilário Costa, em “Bustos – Memória de um bustoense”, indica o Salão
Nobre do Palacete o local certo para as placas.
Está feita uma leitura apoiada na circular-convite já
referida e no trabalho de Arsénio Mota, “Bustos – elementos para a sua
história”.
Dr. Jorge Micaelo, Dr. Assis Rei, Eng. Manuel Pato, Sr.
Augusto Costa, Sr. Graciano Lusio, Sr. Arsénio Mota (o redactor do programa),
são os nomes que constam da circular. Mas outros nomes também fizeram parte.
Quem os acrescenta?
Foi uma comissão de curta duração, a sua intervenção foi
mal conhecida até pelos seus conterrâneos, porque arrastava uma atmosfera
oposicionista ao regime de Salazar, … “Mas, a partir dela, “os Bustuenses
recomeçaram a olhar de frente os seus problemas colectivos e a unir forças” (in
Arsénio Mota).
Nota 1) – Por vezes, «brinca-se» à toponímia, adoptam-se
critérios sem sustentação e daí surgirem alguns atropelos ao senso comum. É
chegado o momento de se cumprir o direito da Comissão de Melhoramentos/60 ter
nome de rua ou largo.
Nota 2) – Arsénio Mota teria sido o redactor da
circular-convite e do programa da Comissão de Melhoramentos/60. A sua
deslocação para o Jornal de Notícias ajudou a desactivar a Comissão. Contudo,
os seus depoimentos são indispensáveis, bem como os de outros intervenientes.
Nota 3) – Não referi a criação do posto da GNR, por não
estar referenciado na circular-convite.
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