Respondendo ao repto lançado por Óscar Santos em, “Dia de Bustos – Que Fazer?”, aqui apresento algumas das razões para continuar a fazer o que já os nossos pais faziam.
RAZÕES HISTÓRICAS E CULTURAIS
O 18 de Fevereiro é uma data
identitária para o povo de Bustos. A sua História, o seu simbolismo resumem a
vontade de um povo em afirmar a sua cidadania, demonstram como gerações foram
capazes de unir vontades em torno de projetos comuns e trabalhar em prol da comunidade.
O “18 de Fevereiro” é hoje
muito mais do que a data de publicação da Lei nº 942 que criou a freguesia de
Bustos em 1920. Mais do que o ato político e administrativo, a data passou a
simbolizar a tenacidade da nossa gente e o respeito pela obra dos nossos
antepassados, levou-nos a não esquecer o seu exemplo e a honrá-lo.
O “18 de Fevereiro” transformou-se no Dia de Bustos.
Foi no Dia de Bustos,
em 1960, que se deu o descerramento de lápides e a homenagem pública a “dois
fervorosos propugnadores do progresso local”, Jacinto Simões dos Louros e Dr.
Manuel dos Santos Pato.
Foi no Dia de Bustos, em 1961, que foi inaugurada a sala
de leitura de Bustos, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian que “ofereceu
muitos livros de todos os géneros.”
Foi no Dia de Bustos,
em 1973, que foram colocadas as lápides dando os nomes de rua do Dr. Santos
Pato e do Jacinto dos Louros, uma na rua da Barreira e a outra na rua de Bustos
ao Sobreiro.
Foi no Dia de Bustos, em 1974, no jantar comemorativo
realizado no Piri Piri que pela primeira vez se falou que “estando vaga a
residência que foi do sr. visconde, nela se podia instalar a casa do povo, a
junta de Freguesia e até a sede do clube de futebol (VRP Memórias, Vol 9).
Foi em 1978 que pela primeira vez se imprimiu um
cartaz designando o “18 de Fevereiro” como Dia de Bustos. A imagem do torreão
entrou na simbologia local surgindo associada à data.
Foi no Dia de Bustos,
em 1979, que o Dr. Jorge Micaelo veio anunciar os contatos efetuadas com o Dr.
Cura Mariano para arrendamento ou venda do palacete.
Foi no Dia de Bustos,
em 1981, que se constituiu a associação de Beneficência e Cultura (ABC) “O
maior relevo das cerimónias dos 61 anos de existência da progressiva freguesia
foi para a escritura da legalização da Associação Beneficente e Cultural,
criada em 1978 por 11 elementos da terra com o fim de proporcionar a Bustos um
conjunto de obras sociais como creche, centro de dia para a terceira idade,
etc. (…).In “O Comércio do Porto”, página 15, 20 de
Fevereiro de 1981
Foi no Dia de Bustos,
em 1982, que se fez o pagamento final e assinou a escritura de compra do
Palacete.
Foi no Dia de Bustos, em 2013, que foi inaugurado o
novo Pólo Escolar de Bustos.
Foi no Dia de Bustos, em décadas de jantares de confraternização,
sessões públicas e romagens ao cemitério que honrámos os nossos antepassados, discutimos
anseios, reforçámos laços, e nos fortalecemos enquanto comunidade.
RAZÕES LEGAIS
A Lei n.º
12/2012, de 30 de maio, que aprovou o regime da reorganização administrativa
territorial autárquica estipula (artigo 9º) que a “agregação de freguesias não
poe em causa o interesse de preservação da identidade cultural e histórica,
incluindo a manutenção dos símbolos das anteriores freguesias.” A reorganização administrativa territorial
autárquica obedece “ao princípio da preservação da identidade histórica,
cultural, e social das comunidades locais.”
RAZÕES POLÍTICAS
O executivo da
União de Freguesias de Bustos, Troviscal e Mamarrosa, presidido por Duarte
Novo, assumiu o compromisso político de continuar a respeitar a identidade de
cada uma das vilas. Seria inadmissível que, em nome de um qualquer taticismo
partidário, viesse dizer que este ano não comemora o Dia de Bustos. Não só
perderia a face, como o respeito de muitos. E, claro está, seria massacrado
pela oposição, sabendo nós que, em qualquer dos casos, haverá sempre vozes
discordantes.
Nada nos separa do Troviscal e da Mamarrosa, somos farinha
do mesmo saco.
A criação da freguesia de Bustos (1920) teve a concordância
dos republicanos da Mamarrosa e foi submetida a sufrágio local. A luta política
nunca se deu entre o povo da Mamarrosa e o povo de Bustos, mas sim entre
Republicanos e Monárquicos. De tal forma que António Duarte Sereno (visconde de
Bustos) foi o maior opositor à nova freguesia.
O que aconteceu ao longo dos
anos, com especial incidência no tempo da revolução republicana, foram
quezílias e lutas decorrentes da partilha do poder entre as duas localidades. Problemas
que acabaram com a criação da nova freguesia. Ou, como referiu Hilário Simões
da Costa em discurso de 1970, “o glorioso feito que veio trazer paz aos povos
de Bustos e Mamarrosa.”
Já projeto de Lei de 1920
esclarecia que a iniciativa visava o interesse comum: “De maneira que a
República aproveita com a criação da nova freguesia, acabando com as lutas
entre aqueles povos, que acordam com júbilo em que se produza dentro em breve
este facto. Cada uma das freguesias fica com 1.200 ou mais habitantes. Fez-se o
referêndum em Bustos e está nas condições exigidas pelo Código Administrativo.”
A nível local o Dia de Bustos é acarinhado
por todas as forças políticas. No que diz respeito ao PSD, o maior partido da oposição,
basta recordar as palavras de Áurea Simões, a última presidente da Assembleia
de Freguesia, fazendo votos que o dia “seja sempre comemorado e nunca esquecido
pelos bustuenses.” Também Manuel Nunes, presidente da Assembleia Municipal, se
pronunciou no mesmo sentido: “O 18 de Fevereiro será sempre um dia grande para
Bustos, independentemente das leis que os homens façam. Espero que este dia,
que é festejado com alegria, seja sempre festejado no futuro.”( J.B.22 fev 2013)
CONCLUSÃO
Não encontramos na História ou no
simbolismo do “18 de Fevereiro” motivos que possam ferir as “suscetibilidades”
dos nossos parceiros nesta (forçada) União de Freguesias. Penso até que estarão
connosco, festejando a generosidade, o trabalho e o amor à terra das gerações
que nos antecederam.
No próximo dia 18 de Fevereiro teremos
todas as razões para celebrar o Dia de Bustos e a vida daqueles que faleceram
ao longo de 2013 como, por exemplo, Dr. Jorge Micaelo, Augusto Simões da Costa
e Jó Ferreira Duarte.
Em nome deles celebremos a vida.
Festejemos! E, se for caso disso, que se junte à festa o Orfeão, o Grupo de
Cantares, a Banda da Mamarrosa e a Filarmónica do Troviscal. Sem esquecer a
tradicional salva de 21 tiros.
Respeitamos o passado, de olhos postos no futuro.
Belino Costa
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