“Nambuangongo, sem data
[entre 12 de Abril e 27 de Junho de 1963, NB]
Amanhã de manhã há «festa» aqui – entronização de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que já chegou há oito dias. A festa devia ter sido nessa altura, mas a procissão teve de ser adiada porque não havia fiéis: andavam nesse dia quase todos a destruir as casas do seu semelhante.”
in Manuel Beça Múrias,
O Salazar nunca mais morre – Cartas de África em tempos de guerra e amor,
edição Planeta, 1ª edição. Março 2009.
Os preliminares que produziram o ambiente psicológico e social propício ao xeque-mate do poder decadente que sacrificava a juventude a uma teimosa guerra com o fim à vista na exportação de caixões ou no regresso de estropiados física ou mentalmente são conhecidos, ou quase.
Mas, o clique da mudança de atitude que pôs em causa «a defesa intransigente» do flutuar da Bandeira Portuguesa nas colónias partiu do seio militar que dava “a carne para canhão”.
Vasco Lourenço – um dos não beneficiários do regime democrático que ajudou a implantar – está connosco na galeria do NB. Merece-o.
Eis um excerto de ‘do interior da Revolução’:
(…)
‘Nós tínhamos milícias, formadas por naturais da Guiné. Não eram bem militares, mas serviam-nos para guias e até como combatentes. Eram uma espécie de força paramilitar que trabalhava junto do Exército. Ora, através dessa rede todas as nossas movimentações eram transmitidas para o Senegal. E aconteceu que precisamente o milícia que dirigia essa rede de informações, acabou por morrer numa operação, ao meu lado, a dois metros de mim …
Como se chamava?
[ ou “não tenho nada a ver com esta guerra …”,
Vasco Lourenço a Maria Manuela Cruzeiro ]
"Era o Bori. Morreu a dois metros de mim. E quando eu detecto, passado algum tempo, que ele era o chefe da rede [de informações], comecei a pensar: “Mas que raio de guerra é esta? Onde é que eu estou metido? O que se passa aqui? O que é que faz estes tipos lutar? O que é que faz com que se coloquem em situações em que acabam por ser mortos pelos próprios amigos? Pelos próprios companheiros de luta?” Isso chocou-me profundamente. E fez com que, rapidamente, chegasse a esta conclusão: “Não tenho nada a ver com esta guerra, esta guerra não é minha, não tenho nada a ver com isto, eles é que estão certos, ao lutar pela sua independência. Esta guerra não tem sentido, é injusta! Acabou, a guerra para mim acabou, não faço mais acções ofensivas.” (b)
Vasco Lourenço inicialmente nomeado para fazer uma Comissão em Angola, foi desnomeado e a seguir nomeado para a Guiné. 'Vigarice' que fê-lo desacreditar na instituição militar. Chega à Guiné em Julho 1969 a comandar a Companhia de Caçadores nº 2549 que adoptara o Lema contestatário: «Contrariado, mas vamos» que lhe havia de trazer alguns dissabores, mas que o ajudou a construir os elos revolucionários do 25 de Abril'1974.
[A Guerra Colonial abriu .. definitivamente os olhos …, retirado da entrevista]
Vasco Lourenço confessa que foi “a Guerra Colonial [que lhe].. abriu definitivamente os olhos” (b), de operacional combatente na Guiné – Bissau, transformou-se em um dos grandes Obreiros no estaleiro da construção do Movimento das Forças Armadas que culminaria na Revolução de 25 de Abril’1974 feita para restituir a Liberdade, a concessão da independência às colónias, dar o direito de votar e conduzir Portugal ao convívio da comunidade internacional,…
André Chambel: porta-voz do CDS/Oliveira do Bairro
O blogue de Sérgio Pelicano, Praça do Município, merece especial destaque, pela publicação da intervenção na sessão dedicada à Revolução do 25 de Abril’1974, de André Chambel, líder da Bancada do CDS na Assembleia Municipal de Oliveira do Bairro.
O discurso toca num tema do Apoio Financeiro às Forças Armadas. Não será oportuno estudar a possibilidade do serviço militar obrigatório ser novamente repescado?
O Discurso do CDS/Oliveira do Bairro no 25 de Abril de 2010, editado em Praça do Município, em 26.04.2010 está aqui
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(a) Vasco Lourenço, do interior da Revolução, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, Âncora Editora, 1ª Edição. Abril 2009. (um livro a consultar, nota de NB).
(b) idem
sérgiomicaeloferreira