As pedras falam, falam…
Era uma bela e inocente pedra, pedaço de uma rocha surgida no ventre da Terra, para uns criação de Deus, para outros obra suprema da mãe Natureza. Tinha uma vida comum, uma vida feita pedra, até que mão humana a retirou do sono multi-milenar e a trouxe para a superfície de uma outra vida.
Deixou de ser uma simples laje para passar a usar o título de Primeira Pedra, ali no Sobreiro. E rodeada de paus de bandeira com uma placa gravada dizendo, “Parque Desportivo da União Desportiva de Bustos”, lá ficou ela, espetada no meio do campo, à entrada de coisa nenhuma. Sozinha. À espera!
Num destes dias dei por mim em frente dela. Especado. E depois de muito olhar, na ânsia de compreender o absurdo, não é que a pedra falou?! E disse:
– Porque me olhas assim, humano?
– Como…
– Vês-me aqui abandonada, esperando pelo Não Sei Quando e tens pena?
– Mas tu falas! – gaguejei incrédulo.
– Não têm feito outra coisa as pedras deste mundo. Se não falássemos julgas que nos usariam para construir estátuas, arcos de triunfo, ou simples obeliscos. O que julgas que faço eu aqui plantada, exibindo a designação de algo que não existe e o nome daqueles que não sabem distinguir um calhau da sua própria vaidade?
– Falas mesmo…
– Querem fazer-me acreditar que sou a Primeira mas eu sei que só poderei usar tal apelido quando aqui chegar, pelo menos, a Segunda. A Segunda Pedra. Para já mais não sou do que um embuste. Faço de conta que a segunda pedra está para chegar e o Parque Desportivo em vias de construção!
– Há pelo menos uma intenção!
– E intenção passou a ser obra? Existirá qualquer calendário para a sua execução?
– Não, lá isso não.
– Então nem pedra sou, mas mera estratégia de propaganda politica. Coisa nenhuma, que nem sirvo para poleiro de pássaro.
– Para alguma coisa deves servir…
– Tens razão, sirvo para os cães aqui erguerem a perna, essa forma dos canídeos marcarem território. Estou a transformar-me num marco, espécie de monumento à política da marcação territorial com assinatura! Uma espécie de monumento à Pouca Vergonha...
– Pois é – concluí sem dúvida –, mesmo em silêncio as pedras falam, falam...
BC
__________
Belino Costa, As pedras falam, falam… , Abril 03, 2005; Bustos – do Passado e do Presente
aqui
Era uma bela e inocente pedra, pedaço de uma rocha surgida no ventre da Terra, para uns criação de Deus, para outros obra suprema da mãe Natureza. Tinha uma vida comum, uma vida feita pedra, até que mão humana a retirou do sono multi-milenar e a trouxe para a superfície de uma outra vida.
Deixou de ser uma simples laje para passar a usar o título de Primeira Pedra, ali no Sobreiro. E rodeada de paus de bandeira com uma placa gravada dizendo, “Parque Desportivo da União Desportiva de Bustos”, lá ficou ela, espetada no meio do campo, à entrada de coisa nenhuma. Sozinha. À espera!
Num destes dias dei por mim em frente dela. Especado. E depois de muito olhar, na ânsia de compreender o absurdo, não é que a pedra falou?! E disse:
– Porque me olhas assim, humano?
– Como…
– Vês-me aqui abandonada, esperando pelo Não Sei Quando e tens pena?
– Mas tu falas! – gaguejei incrédulo.
– Não têm feito outra coisa as pedras deste mundo. Se não falássemos julgas que nos usariam para construir estátuas, arcos de triunfo, ou simples obeliscos. O que julgas que faço eu aqui plantada, exibindo a designação de algo que não existe e o nome daqueles que não sabem distinguir um calhau da sua própria vaidade?
– Falas mesmo…
– Querem fazer-me acreditar que sou a Primeira mas eu sei que só poderei usar tal apelido quando aqui chegar, pelo menos, a Segunda. A Segunda Pedra. Para já mais não sou do que um embuste. Faço de conta que a segunda pedra está para chegar e o Parque Desportivo em vias de construção!
– Há pelo menos uma intenção!
– E intenção passou a ser obra? Existirá qualquer calendário para a sua execução?
– Não, lá isso não.
– Então nem pedra sou, mas mera estratégia de propaganda politica. Coisa nenhuma, que nem sirvo para poleiro de pássaro.
– Para alguma coisa deves servir…
– Tens razão, sirvo para os cães aqui erguerem a perna, essa forma dos canídeos marcarem território. Estou a transformar-me num marco, espécie de monumento à política da marcação territorial com assinatura! Uma espécie de monumento à Pouca Vergonha...
– Pois é – concluí sem dúvida –, mesmo em silêncio as pedras falam, falam...
BC
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Belino Costa, As pedras falam, falam… , Abril 03, 2005; Bustos – do Passado e do Presente
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Já lá vão 5 anos!!!!
ResponderEliminarJá lá vão é seis anos. A "inauguração" foi em 2004.
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