O sacrifício do Diácono Lourenço de Huesca e a igreja de S. Lourenço de Bustos estão a ser revisitados. Por vários ângulos.
As festas de Bustos em honra da S. Lourenço ficam associadas, pelo menos, ao reconhecimento da influência de Mário Martins (dos Penedos) na opção da escolha dos Fusos Cerâmicos na construção da igreja.
Fugindo ao supérfluo, a Igreja surgiu …” (Jornal da Bairrada, 21.09.2000).
Tarda o aparecimento de história(s) da construção da igreja de Bustos. Há um vasto campo para os historiadores darem uso à sua enxada. O que tem vindo a lume raramente ultrapassa os depoimentos que por vezes se revelam imprecisos – compreensivelmente as memórias nem sempre são fiéis.
Para marcar presença nas festas laurentinas, esboço uns leves apontamentos sobre uma pequena parte do atribulado percurso da ideia da nova igreja, antes de chegar ao Corgo.
Os compartes da comissão das festas são merecedores de aplauso. O momento é de festa para os católicos e para mais. Aproxima-se o dia do lançamento da 1ª pedra da igreja. Aconteceu a 9 de Agosto de 1959.
Apontamentos soltos – a construção da igreja de Bustos , antes de chegar ao Corgo
A euforia havida pelo anúncio da entrada de Bustos no ‘clube das freguesias’ em 18 de Fevereiro de 1920 e confirmada pela eleição da primeira Junta de Freguesia em 9 de Maio seguinte, não teve correspondência imediata na comunidade católica. A desanexação da paróquia da Mamarrosa perduraria por mais cinco anos.
Seguindo o Correio do Vouga, 4.12.64 (1), o decreto da criação de paróquia (10.03.1925), o Bispo-conde da Diocese de Coimbra já muito recomendava “que procurem construir uma igreja nova que seja digna dum povo tão rico e laborioso, …”. A influência do Dr. Manuel dos Santos Pato, junto do bispado foi determinante para que a Bustos fosse reconhecido o seu direito de ter paróquia, segundo dizia a voz que atravessou o tempo.
A reacção dos monárquicos ao novo regime instaurado no 5 de Outubro de 1910, fortemente alimentada por dignitários da Igreja, a implantação da medida revolucionária da instauração obrigatória do registo civil, a forte contestação da Igreja à aplicação da lei republicana da separação Estado-Igreja e o interdito da Banda Escolar do Troviscal alimentaram a chama do anti-clericalismo local que poderá ter fortemente contribuído para travar a vontade dos paroquianos em fazer cumprir o desejo expresso no decreto assinado por D. Manuel Luís Coelho da Silva – a construção de uma “igreja nova”.
Acresce também que o termo de Bustos quando alcançara o estatuto de freguesia era carente de equipamento social primário há muito reclamado: a escola primária, a estação telégrafo-postal, as fontes com os lavadouros. As estradas eram caminhos intransitáveis em época das chuvas. O cemitério estava em fase de ampliação.
E a modesta capela de S. Lourenço, plantada bem no centro de Bustos, parecia camuflar a apatia da comunidade católica. A estrutura do edifício da recém-promovida igreja ia desenvolvendo sinais de forte degradação.
Entretanto a onda de renovação das igrejas estava a chegar à Diocese de Aveiro – restaurada pela bula Omnium Ecclesiarum, de 24-08-1938. http://www.diocese-aveiro.pt/showpg.asp?pgid=4
… E a “recomendação” expressa na carta da autonomia religiosa continuava por cumprir.
Até que,...
... O P. António Gonçalves Pereira, que fora nomeado nos finais de 1952 pároco em acumulação das Paróquias de Troviscal e de Bustos, congrega apoios sólidos no diversificado espectro bustuense e entra na aventura da construção da nova igreja de Bustos.
Assim, em 22-XII-19[5]3 (2), o P. Gonçalves Pereira compra por sessenta contos ‘os casarões’ que foram do Visconde de Bustos. Este espaço prolongava para sul o território da igreja velha pelo lado sul.
A futura igreja tinha terreno por onde se estender. Ficaria no mesmo sítio.
Julgava-se…
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(1) – Correio do Vouga, O Povo fez a Igreja e a Igreja uniu o Povo, 4.12.61 - entrevista P. Vidal)
(2) – Jornal da Bairrada, Notas para a História da Nova igreja de Bustos (P. Vidal).
(*) Provavelmente Arsénio Mota é autor da fotografia da igreja velha que ilustra os “apontamentos…” e que está publicada em “Bustos – elementos para a sua história”, de sua autoria. AM possui um acervo fotográfico que não é desprezar. Desde muito novo recolheu instantâneos de Bustos. É mais um património que urge preservar.
Agradecimentos. Às publicações citadas. Aos autores das ilustrações. Ao serviço bibRIA – Biblioteca Digital dos Municípios da Ria.
sérgio micaelo ferreira
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