20 de setembro de 2007

MESTRE AQUILINO NO PANTEÃO NACIONAL


Aquilino Ribeiro
13.09.1885 * 27.051963
Panteão Nacional 19.09.2007
(…)


VIRIATO – NOSSO AVÔ
“Os lusitanos davam-se à pastorícia, uma das primeiras actividades do homem ao romper da idade eneolítica, como a gente da borda de água se dava à pesca. Mas semelhante lida não os inibia de exercer outros outros ofícios, um deles velho, como o Mundo: saltear os haveres do semelhante. No fundo, era uma prática como outra qualquer, com todos os foros de universalidade. A forma é que tem variado, rebuçada em leis e mandamentos, especiosamente divergentes. Nada mais natural, portanto, que as tribos das serras, onde a vida era áspera e difícil e os moradores mais de uma vez deviam adormecer com o estômago a ladrar, acumulassem com a função comum a de salteadores. Era uma ordem de cavalaria de tantas consagradas pela História, como, por exemplo, mais tarde a do Templo. Roubavam-se mais ou menos de pé fresco uns aos outros, e em caterva abatiam-se sobre as terras fartas e latinizadas do Sul. Em três tempos, então, passavam os galfarros a tudo que tivesse aparência de boa presa. O ditado: olho vê, pé vai, e mão pilha, marca o ritmo hispânico quanto a tais empreendimentos. É mesmo possível que a sorte destas expedições constituísse títulos de glória para os seus autores. O mais afortunado receberia o preito da fama como nas batalhas os valentes. A moral na Lusitânia, assim era em Sparta, representa um ludíbrio à face das tábuas brônzeas do Decálogo. E em nome de que direito vamos condenar tais costumes? Melhor seria dizer: cada serra com sua consciência, do que cada terra com seu uso. Pilhar o vizinho, celtibérico ou vetão, apaniguado do romano, era virtude e não crime. Não mareiam pois a coroa de louros de Viriato os adjectivos pejorativos que Valério Máximo, Apiano e Cassiodoro lhe infligem, tais como ladrão refinado e capitão de quadrilha.

– Com muita honra – diria ele.”
(…)
in Aquilino Ribeiro, Príncipes de Portugal – suas grandezas e misérias, Edição Livros do Brasil, (pg.s 9 e 10)
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nota:
O editor 'Altino' agradece a Belino Costa a inclusão da foto da cerimónia ocorrida no Panteão.

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