Horário de visita:
09h00/12h30 – 14h30/17h00
2ª a 6ªfeira
Visita guiada:
Contactar 937954605 / geral@uniaofreguesiasbtm.pt
“Zé Santos, nome artístico de José Mário de Jesus Santos, 51 anos, natural
da Barreira. “Desde que se conhece, teve sempre inclinação para o desenho”.
Frequentou uma escola em Lisboa, onde começou a “experimentar a pintura”. Um
professor ajudou-o a desenvolver as técnicas. Tira o curso complementar de
“Artes do Fogo” na prestigiada Escola António Arroio. Posteriormente colaborou
em restauro de peças antigas.
Aos 28 anos regressa a casa. Monta o seu atelier e
prossegue na arte de pintar e produz um número apreciável de trabalhos.
Os pais e irmãs ajudam-no a compensar as limitações da sua autonomia com o
mundo envolvente. Zé Santos é surdo-mudo.”
Assim escrevia Sérgio Micaelo Ferreira em 2 de
Fevereiro de 2005 no “Bustos do Passado e do Presente” em dois textos que agora
voltamos a publicar. Isto porque está a decorrer a exposição “ As memórias dos
anos 80 e 90” de José Santos, na sala de exposições da Junta de Freguesia.
ZÉ SANTOS PINTOR NAIF
“Nas irrepetíveis comemorações do Dia de
Bustos/1982, Zé Santos expôs vários quadros de pintura naïf com
temas locais.
Constata-se que os sucessivos elencos da
autarquia local continuam não vocacionados para a aquisição de quadros com a
sua assinatura a fim de os expor, em permanência, nas instalações do edifício
da Junta de Freguesia, ou mesmo oferecer a associações locais
Que pensar da terra que teima em ignorar
o valor dos seus?
Em certo momento da vida, à medida que a
autonomia lhe ia fugindo, o Zé Santos aspirou a que alguma instituição de
Bustos lhe proporcionasse um atelier e alguém que o
acompanhasse na compra de materiais para a execução dos trabalhos. Bateu a
várias portas. Compreendiam a situação. Mas nem o facto de Bustos ser terra de
barro vermelho, onde se poderia montar um atelier subsidiado
pelo contribuinte português e/ou europeu, ajuda a resolver o problema. [Uma
nota: foi a partir de trabalhos em barro que surgiram grandes escultores.]
De tentativa em tentativa, o CASCI
(Centro de Apoio Social do Concelho de Ílhavo) – Costa Nova, finalmente,
abre-lhe as portas.
Entretanto, a perda progressiva de visão
obriga-o a abandonar a produção artística - em quadros.
O estado em que se encontra a sua
ambliopia ainda o “deixa” pintar miniaturas dos característicos palheiros
daquela praia.
O Zé Santos já cumpriu dez anos de
CASCI. A sua deslocação para o serviço faz-se por etapas. A ABCdB transporta-o
até Vagos. Daqui até à Costa Nova vai na carrinha da própria CASCI. O regresso
a casa é igualmente assegurado por estas entidades. Bem-hajam!
O nosso pintor tem consciência da
“retinite pigmentar” que tem vindo sempre a aumentar. Não se sabe quando poderá
deixar de ver até para realizar trabalhos no CASCI. Perderá então mais uma
janela aberta para o mundo. É um alerta para os poderes instituídos tentarem
compensar a perda de mais uma boa parte da sua autonomia.
Ao abordar-se Águeda, até os olhos se
lhe sorriram. Um dos seus grandes desejos era frequentar, de vez em quando, o
Bar de Surdos desta cidade. Foi lá uma vez. Sentiu-se bem. Teve possibilidades
de comunicar através da linguagem gestual que aprendeu em Lisboa. Só que não
tem transporte!
A nossa sociedade está recheada de instituições de solidariedade social que organiza – e ainda bem – festas, passeios, sessões de entretenimento, visitas, encontros, etc. Zé Santos, ainda que se encontre isolado, continua a ter esperança de que alguma organização cívica o leve ao convívio na Associação de Surdos de Águeda, onde pode ter dois dedos de conversa… em silêncio.
Será pedir muito?"
Sérgio Micaelo Ferreira
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