Mesmo com as seleções de Portugal
e Brasil fora da grande final do campeonato de Mundo de futebol há muitas
razões para ir até ao Rio de Janeiro. Esqueça o estádio do Maracanã, vá
direitinho a Ipanema e sente-se na esplanada
de um bar com nome de canção, Garota de Ipanema. Peça um chopinho
gelado, um bolinho de bacalhau e pergunte pelo Manuel Capão.
GAROTA DE IPANEMA: UMA CANÇÃO, UM
BAR, UM CAPÃO DE BUSTOS
O poeta brasileiro Vinicius de
Moraes tinha por bom hábito saborear as horas, entre tragos no whisky, sentado a
uma mesa com vista para a rua, melhor dizendo, para um cruzamento, num bar chamado
Veloso, no bairro de Ipanema do Rio
de Janeiro.
Corria o ano de 1962. Veloso era mais do que um bar de esquina,
era o escritório de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Ali se acertavam
projetos, se discutiam ideias, se curtiam os desamores e festejavam sucessos. Ali
acontecia de tudo um pouco e, vezes houve, em que surgiram ideias, letras e
melodias que haveriam de se transformar em canções. Ali (con)vivia-se.
Contam os entendidos que Vinicius
e Jobim tinham gravado Menina que Passa,
mas não lhes agradava a letra falando de uma menina cansada de tudo, tão sem poesia, tão sem passarinhos.
Mas não terá sido por causa desses
versos falhados que o poeta se encheu de brios, a inspiração surgiu ao observar
uma rapariga em biquíni, Heloísa Eneida
Menezes Paes Pinto, então com 17 anos. A visão da menina caminhando
entre a praia e a casa, temperada com whisky, inspirou o poeta a escrever versos
imortais:
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina que vem e que passa
Num doce balanço
Caminho do mar (…)
A canção ultrapassou fronteiras,
ganhou estatuto internacional, transformou-se num ícone do Rio de Janeiro. De
Frank Sinatra a Madonna, passando por Mariza, são muitas as vozes que deram
renovadas vidas a Garota de Ipanema. Tudo
isto é conhecido, mas o que muitos desconhecerão é que no Veloso vai surgir um bustuense, rapaz nascido na Azurveira, de seu
nome Manuel Capão.
No decorrer dos anos sessenta, a
exemplo de tantos outros portugueses, Manuel Capão projetou emigrar para a
Venezuela. Mas antes desse grande passo decidiu visitar o Rio de Janeiro. O
encontro com a cidade maravilhosa foi de tal forma bem sucedido que decidiu
ficar seduzido pelo desafio de adquirir parte da sociedade que explorava o Veloso.
Passaram os anos e Manuel Capão, num
acto de grande visão empresarial, mas também de sentida homenagem, decidiu mudar
o nome ao estabelecimento que passou a chamar-se Garota de Ipanema. Também a rua Montenegro mudou de nome, passando
a designar-se rua Vinicius de Moraes.
Rapidamente o Garota de Ipanema se transformou num
símbolo carioca, numa referência obrigatória dos guias turísticos, num quase
local de peregrinação.
A visão e o espírito empresarial
de Manuel Capão levaram-no depois a multiplicar Garotas pelo Rio de Janeiro.
Garota da Urca, Garota do Flamengo, Garota de Copacabana, etc. Outras Garotas foram
abrindo portas e, em algumas delas, a presença destacada da bandeira portuguesa
deixa bem claro que, sendo carioca, esta Garota é também portuguesa e tem
raízes em Bustos. Ou, como diria Manuel Capão, tem picanha da boa, mas também serve bolinho de bacalhau.
Belino Costa
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