Armando Humberto
O 25 de Abril trouxe a democracia, o fim da
guerra colonial, a democratização do acesso à saúde, do acesso ao ensino, a
proteção social na velhice, a igualdade entre homens e mulheres, e um conjunto
de outras pequenas grandes coisas que fazem com que a maioria de nós sinta
orgulho na nossa revolução.
Mas Abril trouxe uma outra coisa essencial para
um Povo que é a Esperança num futuro melhor.
E se há algo que nos tem sido retirado, neste
últimos 3 anos, é precisamente essa Esperança. Mais do que os cortes nos
salários, mais do que o aumento de impostos, mais do que a redução do poder de
compra, aquilo que mais nos tem marcado enquanto Povo é esse roubar da
Esperança num futuro melhor.
Por vezes sinto que o que está a acontecer em
Portugal à escala Europeia é em tudo semelhante aquilo que aconteceu a tantas
pequenas localidades do interior do nosso País que viram os seus filhos partir
à procura de uma vida melhor, que viram depois as escolas, o hospital, o
tribunal, os serviços fecharem e que aos poucos e poucos foram perdendo gente
foram perdendo a Esperança e a Irreverência própria da juventude. Parece que
aquilo que aconteceu a muitas regiões do interior de Portugal, que perderam os
seus filhos para o litoral mais industrializado mais moderno, está agora a
acontecer ao País como um todo, um Pais que vai perdendo jovens para outros
países, outros países onde existe e se cultiva essa Esperança num futuro melhor.
Nós não podemos interiorizar o discurso do
fatalismo histórico que nos querem vender. Nós não podemos interiorizar o
discurso de que não há futuro. Nós não podemos perder a Esperança.
Pois um Portugal sem esperança era o Portugal
de antes de Abril, o Portugal em que maioria dos pobres nasciam pobres e
morriam pobres, porque a mobilidade social era mínima, porque o acesso ao
ensino era só para alguns, em que o berço condicionava mais o futuro que o
mérito de cada um. Esse era o Portugal em que o talento de gerações e gerações
de portugueses era desperdiçado porque necessidades económicas básicas os
obrigavam a ir muito cedo trabalhar, ainda crianças, para o campo ou para a
fábrica. Era o País em que uma grande maioria vivia no limiar da pobreza.
Nós não queremos voltar a esse Portugal. Nós
não queremos que nos apontem esse caminho. Nestes últimos três anos os
portugueses aceitarem fazer grandes sacrifícios, mas nós não podemos aceitar
cortes atrás de cortes, ano após ano, e que no fim nos digam que só há lugar
para nós nesta Europa se ganharmos um terço daquilo que ganham os Alemães.
Nós não queremos isso, nós não aceitamos isso,
e é importante que os nossos políticos percebam isso, percebem que é chegada a
altura de defender os nossos interesses numa Europa cada vez mais deslocada
para leste.
Mais do que fundos Europeus nós precisamos de
condições para podermos sobreviver como País, numa Europa de moeda única. Mas
não somos os únicos, os nossos problemas não são assim tão diferentes dos
problemas dos Espanhóis, dos Gregos, e dos Irlandeses. Saibamos procurar
aliados, saibamos ganhar força para influenciar o rumo desta Europa.
Ainda há pouco tempo, e título ilustrativo
deixem que vos conte esta história, falava com um amigo que se dedica à
importação de produtos da Indonésia para Portugal. E dizia-lhe: porque é que
não levas também produtos portugueses para a Indonésia. E a resposta foi que é
impossível, pois as leis Indonésias são tais que tornam impossível para nós lá
colocar os nossos produtos. Mas os Alemães conseguem lá colocar os carros deles,
então algo está mal, porque se o produto do pequeno produtor Indonésio entra em
Portugal com facilidade, o produto no nosso pequeno produtor também tem que
conseguir entrar na Indonésia com igual facilidade, tem que haver esta defesa
permanente dos nossos interesses e atualmente isto não ocorre, a política
europeia é orientada apenas pelos interesses de alguns e nós temos que lutar
contra isto.
Hoje, vivemos
tempos cinzentos, em que o futuro parece que nos escapa por entre os dedos, mas
tal como nem tudo foram rosas depois de abril também o futuro não será tão
cinzento como por vezes nos querem fazer querer.
Temos que mudar muita coisa, claro que temos,
mas Abril foi também isso, foi uma grande mudança.
Temos que passar a valorizar a competência,
temos que passar a valorizar o mérito, temos que passar a valorizar o
desempenho, temos que passar a valorizar o trabalho. Temos que repugnar o
compadrio, temos que acabar com o clientelismo.
Temos que premiar quem tem sucesso à custa do
seu trabalho, da sua iniciativa, da sua inteligência. Temos que acabar com o
chico-espertismo.
Temos que promover o que é nosso, temos que estimular
a iniciativa. Temos que criar em vez de destruir. Temos que respeitar as
pessoas.
Temos que honrar
abril, temos que assumir com Responsabilidade e Coragem a Liberdade que abril
nos trouxe, não nos deixemos vergar ao comodismo ou à mediocridade. Saibamos
ser aquilo que o País precisa, homens e mulheres Livres, Empenhados e Competentes,
porque só isso é que nos irá assegurar o futuro que abril nos prometeu.