Júlio Resende está na decoração do Pórtico da Igreja de Bustos, graças a uma feliz circunstância, a do arq. Rocha Carneiro, autor do modelo da igreja, ser contemporâneo e amigo na Escola Superior de Belas Artes de Júlio Resende. Foi a partir desta relação que Mestre , então com 39 anos, fez o trabalho que a figura em parte ilustra.
A pastilha cerâmica foi cozida na extinta Cerâmica do Outeiro - Águeda
Lia-se no Jornal da Bairrada: «O belo painel de mosaico, obra do Professor e Pintor portuense Júlio Resende, ficou uma obra digna de ver-se.» (...) (1971. Janeiro, 2)
A extensa Obra não deixará esquecer o Mestre Júlio Resende.
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Uma nota: o comentário sobre Júlio Resende inserido no postal VISITE O MUSEU DE ETNOMÚSICA NO TROVISCAL aqui teve apenas a preocupação de não secundarizar a publicidade da iniciativa do Museu, aliás merecedora de levados encómios. Mantenho o o parêntesis em aberto para enaltecer o compromisso que os credenciados Professores que leccionam na Escola de Artes da Bairrada assumiram de dedicarem às comunidades a apresentação de sessões musicais. E sem auferir qualquer tostão.
Atitude herdada do testamento ético do Prof. José de Oliveira. Um contributo raro para escalar mais um degrau da cidadania de cada um. aqui
O visitante, fiel, trabalhador, curioso, ou outro que entra no edifício Igreja de Bustos não é recebido pela imagem de São Lourenço encomendada ao Artista e Monsenhor Martins Pereira, mas sim por Júlio Resende.
Como em qualquer funeral, os amigos rebuscam recordações... e Júlio Resende acumula memórias. O arq. Rocha Carneiro enquanto tentava desvendar que cruz teria estado presente na primeira missa celebrada em terras de Vera Cruz. Rocha Carneiro não aceitava que a cruz divulgada fosse trabalhada em ferro, conforme a propaganda. Em “desenhos alusivos à então vulgarizada primeira missa no Brasil, o Arq. Rocha Carneiro detectou tratar-se da segunda ...” A cruz da primeira missa brasileira … foi de madeira.
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Fora de Bustos, passam no filme dos compagnons de route da Escola de Belas Artes do Porto Júlio Resende, Rocha Carneiro, X. Costa e Nadir Afonso … entre mais Artistas.
Júlio Resende foi (e é) o mordomo vitalício do pórtico da igreja de Bustos “escolhido” por Rocha Carneiro.
Revisitando o jornal Soberania do Povo:
cumplicidades de primeira água
Finais da década de 30. O estudante Rocha Carneiro (RC).
Ei-lo a fazer o exame de admissão ao Curso Especial de Arquitectura na Escola de Belas Artes do Porto. Para poder entrar tem de desenhar a cabeça de Séneca. Um trabalho para cinco sessões de duas horas... RC, com apenas três meses de desenho de cabeça, traça, apaga, debuxa, apaga, torna a esboçar. O nariz, a boca e os olhos teimam em ser de outro dono. Apesar da sua clemência, o Filósofo recusa-se a transmigrar para o papel. Outros colegas deparam com a mesma esquiva. RC olha para o relógio. Vê o tempo a fugir-lhe escondido num fio de areia. O Mestre cheira os trabalhos dos iniciáticos e, perante tanta operação plástica à cabeça do pensador latino, sai da sala. Os contínuos fecham os olhos. E Júlio Resende (JR), também candidato, neste caso ao Curso Superior de Pintura, subverte o sistema de avaliação, passando pelas mesas dos colegas. Em três tempos corrige o desenho deste, estica a orelha doutro, coloca os olhos nas suas covas, endireita o nariz ... E RC, aflito, continua a mascarar Séneca.
Só queria que pusesses o nariz, a boca e os olhos no sítio, porque lamber o desenho sei eu ..., pede RC, vagueando a mão sobre o papel, num gesto amplo e calmo a respirar segurança.
É pá,... já estou saturado, fica tudo igual, recusa Júlio Resende.
RC insiste e atira:... Estou a fazer o Séneca e sai-me o Bocage!
JR responde ao disparo. Num ápice, o lápis faz a magia. RC concluiu a tarefa. A cabeça do estóico não saiu molestada pelo lápis.
Júlio Resende, que não havia passado despercebido ao Mestre, sente-se satisfeito por ver os seus pseudónimos serem todos admitidos.
Este acaso marcou o início de um relacionamento
entre os dois Artistas,
por exemplo, os azulejos para a estalagem de Miranda do Douro (1950?) da autoria de Júlio Resende, foram produzidos na Fábrica do Outeiro - oferecido pelo Autor, existe na Casa do Outeiro um painel que fez parte do estudo daquela obra.
um relacionamento continuado, com
a decoração do pórtico da entrada da Igreja de Bustos, também de Júlio Resende. Mesmo pouco conhecida, esta igreja consubstancia a intervenção prestigiante de vários Autores. O Arq. Rocha Carneiro idealizou-a, traçou-a, procurando cumplicidades eméritas. (P.e Vidal, Engos Neo Pato e Neftali Sucena, Mestres Júlio Resende, Teixeira (?, autor dos vitrais), XCosta, Monsenhor Nunes Pereira e o desenhador Manuel do Carmo (*) são cúmplices que fizeram brotar o primeiro monumento de Bustos).
Actualmente, o jovem pintor Paulo Alexandre tb. Alexandre Batista - (conhecido lá fora) - traz novamente Júlio Resende a Águeda, mantendo a ligação entre os dois colegas que tiveram de enfrentar a cabeça de Séneca no vestíbulo da Escola de Belas Artes ...
Já agora, em surdina, para que a Comissão dos Descobrimentos dos Portugueses, recolhida lá no etéreo espaço, não seja incomodada – um forte aplauso endereçado ao Arq. Rocha Carneiro pela criação dos painéis de azulejo alusivos às Descobertas dos Portugueses. Ali, uma parte da história de Portugal está recolhida em ilustração e verso. Deve ser caso inédito em Portugal. É um marco da azulejaria artística de Águeda. A generalidade do público tem o direito de conhecer o trabalho criativo. O parque da Expo de Lisboa deveria ter uma área exclusiva para estes painéis. Se os técnicos da unesco os conhecessem pelas vias normais, esta obra do Arq. Rocha Carneiro seria uma referência universal.
Associado a este projecto, o Arq. Rocha Carneiro organizou um livro que reúne as fotografias dos painéis e poemas alusivos (... para além de arquitecto, é um poeta — comentou um dia o Professor e ensaísta Aarão de Lacerda, autor de O Panteon dos Lemos - 1928, entre outros títulos). A compilação destina-se à divulgação. Atente-se que este trabalho fundamenta-se em pesquisa de dados da história. (…)
(*) Rectificação: Manuel do Carmo era o contabilista e que desempenhou papel importante na Gerência da Empresa enquanto o Eng.º Néu Pato esteve preso em Caxias.
srg
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