27 de setembro de 2011

Carlos Luzio - E num segundo Como se fosse o fim do mundo Uma terrível explosão ... (Pescador de Sonhos)

Carlos Manuel dos Santos Luzio

10.08. 1947 – 27.09.2004

MOCÍMBOA DO ROVUMA

(11.Janeiro.1971)

O capim está prestes a estalar

O suor ácido a nublar-nos o olhar

O medo a fermentar

No silêncio fúnebre que paira no ar

O olhar cansado de estar atento

Um tique doloroso em cada movimento

Um gole de água a matar a sede

Por um breve momento

E nem uma pontinha de vento

Para nosso desalento

Um alto para comer o que sobra da ração

Para enganar a fome na última migalha de pão

Num descanso no regaço da inquietação

E num segundo

Como se fosse o fim do mundo

Uma terrível explosão

Pedaços de um corpo espalhados na picada

Um fumo negro e espesso

A esconder ferros torcidos

Um castigo que não mereço

Gritos a abafar o ruído da metralha

Vindo da emboscada

Um morto e tantos feridos

O preço desta guerra canalha

E chorei desalentado

Como se fosse eu o culpado

Daquele corpo mutilado

Lamentei não ter desertado

E até perdi a fé

Por Deus não estar do nosso lado.

16. Maio.2004

in Carlos Luzio,

Pescador de Sonhos (POEMAS DE GUERRA),

(edição póstuma) 2005

1 comentário:

  1. Este poema, como alguns outros do Carlos, é de uma força tão grande e trágica que até arrepia!

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