Carlos Manuel dos Santos Luzio
10.08. 1947 – 27.09.2004
MOCÍMBOA DO ROVUMA
(11.Janeiro.1971)
O suor ácido a nublar-nos o olhar
O medo a fermentar
No silêncio fúnebre que paira no ar
O olhar cansado de estar atento
Um tique doloroso em cada movimento
Um gole de água a matar a sede
Por um breve momento
E nem uma pontinha de vento
Para nosso desalento
Um alto para comer o que sobra da ração
Para enganar a fome na última migalha de pão
Num descanso no regaço da inquietação
E num segundo
Como se fosse o fim do mundo
Uma terrível explosão
Pedaços de um corpo espalhados na picada
Um fumo negro e espesso
A esconder ferros torcidos
Um castigo que não mereço
Gritos a abafar o ruído da metralha
Vindo da emboscada
Um morto e tantos feridos
O preço desta guerra canalha
E chorei desalentado
Como se fosse eu o culpado
Daquele corpo mutilado
Lamentei não ter desertado
E até perdi a fé
Por Deus não estar do nosso lado.
16. Maio.2004
in Carlos Luzio,
Pescador de Sonhos (POEMAS DE GUERRA),
(edição póstuma) 2005
Este poema, como alguns outros do Carlos, é de uma força tão grande e trágica que até arrepia!
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