Crónica
de
BELINO
COSTA
Certo
dia, creio que nos finais dos anos oitenta, fiz uma curta entrevista a Chuck
Berry, músico pioneiro do Rock’n Roll, que então se apresentou no nosso país.
Para o cantor e guitarrista norte
americano já tinham passado os tempos de glória, mas continuava a ser uma
referência mundial, um mito vivo.
Terminada
a entrevista e quase em jeito de despedida interpelei-o com uma pergunta de
mera circunstância:
-
Está a gostar de Lisboa?
-
Sim, muito. - Retorquiu e pareceu-me sincero. Tanto que logo acrescentou:” É
cidade de África mais bonita onde já estive.”
Tive
de corrigir tão clamoroso erro:
-
Mas não está em África, está na Europa, em Portugal.
Chuck
Berry encarou-me espantado. Inclinou o rosto sobre o lado esquerdo, talvez para me observar de corpo inteiro e surpreendido
com o que lhe dizia aquela figura, que era eu, concluiu:
-
Isso é muito curioso porque esta manhã quando espreitei pela janela do meu
quarto só vi palmeiras.
Recordei-me
deste episódio quando soube que na última Assembleia Municipal de Oliveira do Bairro o presidente da Câmara,
Mário João, contrariando a vontade da totalidade dos deputados eleitos, a
vontade expressa do povo em abaixo assinado e a vontade do próprio partido
decidiu que não instalava o polo de leitura/Biblioteca de Bustos na antigo
escola primária, prometendo ali instalar
um museu com muitos rádios.
As
cidades invisíveis de Chuck Berry
entendem-se e explicam-se. É natural que o músico norte americano,
depois de tantos anos a saltitar entre aeroportos e hotéis tenha simplificado a
perceção da geografia, a perceção da realidade. No toca e foge da vida de um artista
internacional tudo se observa em constante correria e cada paragem acaba por se
resumir à imagem que se acomoda entre os caixilhos de uma janela de hotel. Para
Chuck Berry palmeiras eram sinónimo de África.
E isso bastava-lhe.
O
presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro tem uma semelhante
perceção da realidade. Para ele a democracia começa e acaba no momento da
eleição. Para ele a eleição é sinónimo de poder, é sinónimo de mandar.
Sabemos
que Mário João Oliveira é um político pouco culto e pouco inteligente. Sabemos também
que despreza o jogo democrático e a própria política porque nunca aceitou o
cargo a tempo inteiro, fazendo uso de uma regra de exceção que lhe permite
acumular a atividade pública com a privada. Sabemos ainda que na ausência de ideias, de uma visão
estratégica para o concelho sempre foi decidindo em função das modas. Fez
rotundas e avenidas quando todos fizeram rotundas e avenidas, fez escolas quando
José Sócrates mandou fazer escolas. Tudo de forma casuística e sem visão de
futuro.
Foi
sempre servil para com o poder central pelo que apoiou e organizou uma fusão de
freguesias feita contra a vontade popular e desenhada
em função de meros interesses eleitorais
do PSD.
Tem
usado e abusado de táticas e técnicas mais próximas do caciquismo do que uma verdadeira
democracia, promovendo o pão e o circo com almoçaradas, festas e festivais. E,
sobretudo, tem usado o dinheiro da Câmara para ir distribuindo financiamentos como
quem distribui favores e assim foi criando uma teia de dependências.
Quanto
aos processos de decisão política que utiliza eles estão exemplificados no caso
da Biblioteca de Bustos. Ou seja, em Oliveira do Bairro não há qualquer processo
de decisão, não há transparência política. Não há relatório, não há consultas,
não há estudo prévio, não há qualquer processo que justifique e fundamente cada
opção do executivo.
- Querem
uma biblioteca no centro de Bustos! Pois em vez disso terão um museu.
Assim
falou o presidente Mário João. E porquê?
Porque
sim, porque lhe apetece. Porque lhe deu para ali a enorme azia que lhe raia o
rosto.
Nas
cidades de Chuck Berry palmeiras eram sinónimos de África. Na democracia de Mário
João só o poder conta e não precisa de justificação. Se vivesse em África seria,
provavelmente, mais um ditador, mas estando em Portugal nunca poderá ambicionar
a tal estatuto. Terá de ficar esquecido no meio da tralha de incompetentes que
têm abusado do povo e do país. Coisa tão triste!
Adeus
Mário João! Adeus.
Belino Costa
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