8 de dezembro de 2015

CHUCK BERRY NO ADEUS AO PRESIDENTE DA CÂMARA MÁRIO JOÃO


Crónica de
BELINO COSTA

Certo dia, creio que nos finais dos anos oitenta, fiz uma curta entrevista a Chuck Berry, músico pioneiro do Rock’n Roll, que então se apresentou no nosso país. Para o cantor e guitarrista  norte americano já tinham passado os tempos de glória, mas continuava a ser uma referência mundial, um mito vivo.
Terminada a entrevista e quase em jeito de despedida interpelei-o com uma pergunta de mera circunstância:
- Está a gostar de Lisboa?
- Sim, muito. - Retorquiu e pareceu-me sincero. Tanto que logo acrescentou:” É cidade de África mais bonita onde já estive.”
Tive de corrigir tão clamoroso erro:
- Mas não está em África, está na Europa, em Portugal.
Chuck Berry encarou-me espantado. Inclinou o rosto sobre o lado esquerdo, talvez  para me observar de corpo inteiro e surpreendido com o que lhe dizia aquela figura, que era eu, concluiu:
- Isso é muito curioso porque esta manhã quando espreitei pela janela do meu quarto só vi palmeiras. 

Recordei-me deste episódio quando  soube que  na última Assembleia Municipal de  Oliveira do Bairro o presidente da Câmara, Mário João, contrariando a vontade da totalidade dos deputados eleitos, a vontade expressa do povo em abaixo assinado e a vontade do próprio partido decidiu que não instalava o polo de leitura/Biblioteca de Bustos na antigo escola primária, prometendo  ali instalar um museu com muitos rádios.


As cidades invisíveis de Chuck Berry  entendem-se e explicam-se. É natural que o músico norte americano, depois de tantos anos a saltitar entre aeroportos e hotéis tenha simplificado a perceção da geografia, a perceção da realidade. No toca e foge da vida de um artista internacional tudo se observa em constante correria e cada paragem acaba por se resumir à imagem que se acomoda entre os caixilhos de uma janela de hotel. Para Chuck Berry  palmeiras eram sinónimo de África. E isso bastava-lhe.

O presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro tem uma semelhante perceção da realidade. Para ele a democracia começa e acaba no momento da eleição. Para ele a eleição é sinónimo de poder, é sinónimo de mandar.

Sabemos que Mário João Oliveira é um político pouco culto e pouco inteligente. Sabemos também que despreza o jogo democrático e a própria política porque nunca aceitou o cargo a tempo inteiro, fazendo uso de uma regra de exceção que lhe permite acumular a atividade pública com a privada. Sabemos  ainda que na ausência de ideias, de uma visão estratégica para o concelho sempre foi decidindo em função das modas. Fez rotundas e avenidas quando todos fizeram rotundas e avenidas, fez escolas quando José Sócrates mandou fazer escolas. Tudo de forma casuística e sem visão de futuro.

Foi sempre servil para com o poder central pelo que apoiou e organizou uma fusão de freguesias feita contra a vontade popular e desenhada em função de meros  interesses eleitorais do PSD.

Tem usado e abusado de táticas e técnicas mais próximas do caciquismo do que uma verdadeira democracia, promovendo o pão e o circo com almoçaradas, festas e festivais. E, sobretudo, tem usado o dinheiro da Câmara para ir distribuindo financiamentos como quem distribui favores e assim foi criando uma teia de dependências.

Quanto aos processos de decisão política que utiliza eles estão exemplificados no caso da Biblioteca de Bustos. Ou seja, em Oliveira do Bairro não há qualquer processo de decisão, não há transparência política. Não há relatório, não há consultas, não há estudo prévio, não há qualquer processo que justifique e fundamente cada opção do executivo.
- Querem uma biblioteca no centro de Bustos! Pois em vez disso terão um museu.
Assim falou o presidente Mário João. E porquê?

Porque sim, porque lhe apetece. Porque lhe deu para ali a enorme azia que lhe raia o rosto.
Nas cidades de Chuck Berry palmeiras eram sinónimos de África. Na democracia de Mário João só o poder conta e não precisa de justificação. Se vivesse em África seria, provavelmente, mais um ditador, mas estando em Portugal nunca poderá ambicionar a tal estatuto. Terá de ficar esquecido no meio da tralha de incompetentes que têm abusado do povo e do país. Coisa tão triste!

Adeus Mário João! Adeus.


Belino Costa

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