O OLHAR DE SOFIA (CRÓNICA)

A MINHA AVÓ

 
Nasceste para amar. Para mostrar ao mundo que a vida não é da maneira que a maioria das pessoas pensa. Nasceste para criar a mais linda família que conheço... Sempre em teu redor, avó!

A tua vida não foi fácil. No amor não foste feliz, mas tiveste um rapagão e três meninas, as mais lindas de Luanda (claro:), a quem ensinaste a respeitar e a ser respeitadas, a amar e a ser amadas, a serem boas filhas e boas mães.Depois viemos nós, os netos. E tu enleaste-nos na tua teia de carinho, ternura e afecto. 

Quando vieste para Portugal, a vida não era nada fácil, mas quando as tuas meninas precisaram de ajuda, acolheste os teus netos. E ensinaste-os, que ser feliz é ter uma canção de embalar, um beijinho, uma história...o sapo sapoilo, a sulibana...mesmo que tudo à volta seja uma casa antiga com vários inquilinos, mesmo que não haja prendas, as maiores prendas tu tinha-las e todos os que passaram pela magia dos dias passados em tua casa sabem-no. Um lanchinho, que mesmo pobrezinho, era feito com tanto amor que sabia ao melhor lanche do mundo, as tuas célebres omeletes, teatrinhos no quarto com os meninos, uma palavra de ânimo sempre que era preciso, um abraço, uma festinha no cabelo, um elogio, um raspanete de vez em quando, claro, no fundo a liberdade de crescer feliz e com a segurança de ter o teu apoio e carinho. 

Sempre foste tão forte, avó. Aguentaste coisas em Luanda que mais ninguém aguentaria, sempre com os teus filhos e netos debaixo da asa. E quando vieste para cá, subias escadas vezes e vezes ao dia para ires buscar os teus netos à escola, nunca paravas.

 Depois vieste para ao pé de nós. O teu joelho começou a acusar o esforço... E tiveste que por uma prótese. Passaste a viver connosco, quatro meses em casa de cada filha. Começaram a vir os bisnetos, e cada um que vinha, recebias mais uma vez com todo o amor deste mundo!

A tua prótese deu problemas e andaste numa cadeira de rodas algum tempo, e nós todos cuidamos de ti com todo o amor que nos ensinaste a viver! Chegou a altura de começar a mimar-te a ti, e cá estávamos todos, prontos para tal! 

 As tuas revistas, não podíamos falhar um dia! As tuas novelas, que por ouvires mal mesmo com o aparelho, ouvias muito alto, as tuas rabugices, que nos faziam rir, pois eras teimosa e implicavas com coisas que não lembrava a ninguém :), a tua sopa, que era adorada, os desejos que todos tínhamos de vez em quando de uma das tuas omeletes,  o João Pedro que achava as tuas as melhores batatas fritas do mundo, o teu café com leite "bem quentinho", o jantar que sem pão não era jantar,  a tua preocupação constante com todos nós, todos, por quem rezavas todas as noites, um a um, as tuas conversas connosco, e...a caixinha.

 Um dia, peguei numa caixinha pequenina, quadrada, de madeira, e pintei-a só para ti. Quando ta dei ficaste tão feliz! Passaste a tê-la sempre ao teu lado, na mesinha de cabeceira, fosse em que casa fosse! E eu sentia-me tão bem...sentia que tinhas orgulho em mim. E que com um gesto tão pequeno te tinha feito feliz, assim, como tu nos fizeste felizes tantas vezes às vezes só por nos apertares a mão com força. 

Essa caixinha estava sempre ao lado da imagem dos teus santinhos. Tinha significado para ti. E tinha sido eu a dar-te! Obrigada avó, por me teres feito sentir importante... Como sei que todos somos para ti!

Nasceste para amar. E o amor que deste deu frutos, aqui, em Luanda, o teu filho, as tuas filhas, os teus netos e todos os teus bisnetos amam e devem o amor que partilham entre si à Avó Mimi! 

Hoje olhaste o Lilo e a Tó e tentaste dar-lhes beijinhos. Sabes que estamos todos bem! Vai ser uma noite tranquila avózinha. Porque, vais adormecer, e partir para junto dos teus amados santinhos, a saber que estamos todos bem. E isso foi o que sempre quiseste. Viveste por nós. E nós estamos bem. Por ti. Amo-te. Amamos-te. Para sempre. 

 Filhos, netos e bisnetos abençoados pela tua descida à Terra

Sofy