17 de março de 2013

VIVER JUNTO À TERRA






viver junto à terra e não ser lavrador

ter as mãos cheias de calos e não ser lavrador
não ser lavrador em parte nenhuma da terra
e ter as mãos cheias de calos e viver junto à terra
e não ser ninguém

arrancar flores dos canteiros e não ser jardineiro
preparar um vaso meio de terra meio de estrume
e não ser jardineiro não ser jardineiro
e preparar um vaso e arrancar flores

veio terra agarrada às raízes das flores do jardim
já não são do jardineiro as flores já não são
das flores as raízes já não é das raízes a terra

António Sérgio S. Silva*
In “Chamada do Longe”


(*Poeta e critico literário, publicou Onirografias, 1978, em colaboração; Chamada de longe, 1982; Adormecer, 1991, e-book, 2012; Papeis secundários, 1999, “Diário de Notícias”-DNA; O infiel, 2012.)


Sem comentários:

Enviar um comentário