7 de dezembro de 2012

AGREGAÇÃO DAS FREGUESIAS TRAZ ÁGUA NO BICO!


A reorganização administrativa do território, que ontem foi a debate no plenário da Assembleia da República (AR), só vai aplicar-se às freguesias.
O que significa que os municípios ficam de fora e, com eles, o sorvedouro das empresas municipais. Entretanto, o memorando da Troika fala em “reorganizar as administrações local e regional e a prestação de serviços da administração central a nível local”.
Que se saiba, a administração local distribui-se por municípios e freguesias, embora estas passem por ser o patinho feio da administração local.
Quem diria: às escondidas do zé povinho, os membros e funcionários das juntas de freguesia parece que andam por aí a passear-se em automóveis de alta gama e a receber chorudos vencimentos e outras benesses, tudo a expensas do orçamento do Estado…
Entretanto:
De acordo com o projeto de lei apresentado ontem na AR pelo PSD e CDS, a localização da sede das freguesias a agregar só será decidida “no prazo de 90 dias após a instalação dos órgãos autárquicos locais de 2013”, isto é, depois das eleições de outubro do próximo ano.
O que significa que, até lá, os atuais órgãos das freguesias estão autorizados a manter-se nos sítios para ondem foram eleitos em 2009.

Como senão bastasse:
Segundo um estudo feito pela Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) a poupança com a agregação das freguesias será de apenas 6,5 milhões de euros/ano, uma ninharia ao pé das grandes gorduras da administração central do Estado, das empresas públicas e das parcerias entre o Estado e as empresas privadas.
Quer dizer: os interesses dos poderosos, os grandes tachos, esses, ficam de fora ou apenas levam pela rama.

A agregação das freguesias não tem fundamento científico, razões financeiras ou critérios de racionalidade.
É a ANAFRE quem o dizeu faço questão de assinar por baixo.
Só não subscrevo o que diz o Presidente deste órgão representativo das freguesias, por sinal autarca eleito pelo PSD: que o seu partido vai ser “trucidado” nas eleições autárquicas do próximo ano.
Neste particular, creio que o Sr. está enganado e já vos explico porquê, apresentando um exemplo local:
As atuais 6 freguesias do concelho de Oliveira do Bairro estão divididas em partes iguais entre o PSD (3) e o CDS (3), o que se reflete em igual distribuição dos Presidentes de Junta na Assembleia Municipal.
Com a nova lei, apenas irão a sufrágio 4 freguesias:
- Oiã, Oliveira do Bairro e Palhaça, que não foram beliscadas e são governadas pelo PSD e
- A nova freguesia resultante da agregação das freguesias de Bustos, Mamarrosa e Troviscal, que continuará a ser governada pelo CDS em regime de co-herança, como se diz em direito para explicar aquele estado em que alguém morreu mas a herança que deixou ainda está por partilhar entre os herdeiros.

Trocando por miúdos: atualmente, o PSD apenas controla 50% das 6 freguesias do concelho. Com a nova lei, passa a controlar 75% das 4 freguesias.
Ao que ouvi dum bem documentado autarca do Porto, neste município o controle do PSD passa de 60% para 83% das freguesias.
Cá por mim, no que diz respeito às eleições locais de 2013, a agregação das freguesias serve os interesses eleitorais do principal partido do poder.

Resta-me dar-vos conta do calendário dos próximos atos eleitorais, consultável no site da Comissão Nacional de Eleições:
2013: setembro/outubro: eleição dos Orgãos das Autarquias Locais;
2014: junho: Eleição dos deputados ao Parlamento Europeu;
2015: outubro: Eleição da Assembleia da República.

Há um tempo para tudo.
Vamos, pois, dar tempo ao tempo...
*
oscardebustos

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