13 de julho de 2010

RAZÕES DO FÓRUM: SILAS GRANJO E A FILARMÓNICA DO TROVISCAL



Corre o mês de Novembro de 1922 e Manuel, Bispo de Coimbra, decreta o interdito à música do Troviscal, filarmónica que assim se vê impedida de participar em festas e actos religiosos. E a proibição não se limita à banda, estende-se a cada um dos seus elementos, ainda que incorporados noutras filarmónicas.

E qual o motivo de tão severa pena contra músicos amadores? Apenas um, a banda ter integrado o cortejo de um funeral realizado sem cruzes ou padre. Um funeral civil!

À fúria persecutória do Bispo respondem os excomungados e demais ofendidos decidindo a interdição do clero na freguesia, até que à música seja permitido exercer a sua profissão em toda a parte. A partir desse dia e até ao fim da interdição, em 1939, mantém-se um braço de ferro que afasta o clero da aldeia.

Este é um notável episódio de solidariedade e resistência popular contra a intolerância e prepotência da Igreja. E é um marco na História da Primeira Republica, que transformou a banda do Troviscal num símbolo nacional.

Sobre esta questão existia um trabalho de Silas de Oliveira Granjo (Banda Excomungada, Clero Interdito no Troviscal Republicano), integrado nas Actas do Colóquio – Anticlericalismo Português.História e Discurso, que, a nosso ver, justificava e exigia uma publicação autónoma. Estava encontrada uma boa razão para o Notícias de Bustos se abalançar no campo da edição não digital e viajar ao tempo em que os livros tinham peso e eram feitos de papel.

Silas Granjo não só aceitou com entusiasmo a proposta para a edição do seu trabalho como, apesar de condicionado por prazos muito apertados, o valorizou, introduzindo um número significativo de novas páginas com informações, documentos e fotografias.

Maestro, compositor, investigador, professor, com uma marcante actividade cívica e cultural, Silas de Oliveira Granjo é uma figura ímpar e, escrevo-o com justiça, uma das maiores referências bairradinas. O livro, Troviscal Republicano: Banda Excomungada, Clero Interdito (1922-1939), que será lançado no Fórum de Bustos, no dia 24 de Julho, pelas 12 horas, é disso exemplo.

Para o Fórum 2010 será mais uma forma de assinalar o centenário da República. De uma assentada evocamos um episódio marcante da luta pela construção do estado laico e recebemos um magnífico representante da tradição musical e do rebublicanismo troviscalenses.
B.C 



SILAS DE OLIVEIRA GRANJO


Silas de Oliveira Granjo nasceu em 1945 no Troviscal e aí reside.

É Licenciado em Filologia Germânica – Ramo Literatura Inglesa, pela Universidade de Coimbra; Mestre em Estudos Ingleses e Doutor em Literatura, pela Universidade de Aveiro. Ambas as teses têm como objecto de estudo a obra da escritora canadiana anglófona, Marian Engel.

Tem vários artigos publicados em revistas da especialidade.

Leccionou Inglês e Alemão no Instituto de Promoção Social da Bairrada – Bustos e na Escola Secundária de Vagos.

Na Universidade de Aveiro, ao longo de mais de 25 anos, leccionou Literatura Inglesa, Teoria da Literatura, Língua Inglesa e Cultura de Expressão Inglesa.

Membro da Comissão Organizadora do Congresso Internacional dos 75 anos de A Selva, de Ferreira de Castro.

Coordenador das comemorações do Centenário do Nascimento de Arlindo Vicente (2006).

Coeditor do livro Arlindo Vicente, Óleo, Aguarela, Desenho e Ilustração.

Fundador da Banda da União Filarmónica do Troviscal (1989), que dirigiu durante 12 anos. Regente da Banda da Mamarrosa (1979-1991) e da Banda Marcial de Fermentelos (1979-1987).

1 comentário:

  1. Rui Gomes16:13

    Foi o Professor Silas Granjo que me deixou o gosto pela língua inglêsa e alemã, quando fui seu aluno no IPSB, e que mais tarde que mais tarde viriam a ser a minha escolha aquando da minha entrada na Universidade de Aveiro. Guardo dele o rigor no ensino e sobretudo o seu humor!

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