9 de abril de 2008

"9 de Abril 1918" - LEAL DA CÂMARA PROPÔS UMA ALDEIA PORTUGUESA NA FLANDRES


Ainda no Porto, um belo dia veio-lhe à imaginação erguer uma aldeia, com todos os quindins de portuguesa, na Flandres onde a nossa gente derramara o seu sangue por uma imprecisa e abstracta causa. Terminara a guerra e os países vencedores distribuíam-se os louros e os frutos da vitória, ao passo que comemoravam na pedra e no bronze os seus heróis. Também se projectava um monumento congénere em La Couture. Entretanto Leal da Câmara, sempre original, sempre ele, propunha coisa mais vasta, porventura mais perdurável, mas pelo menos mais útil e curiosa: uma aldeia. Quem a habitaria? Casais luso-franceses, só franceses, picardos, que os nossos antigos arrenegavam, pouco importava. A questão era que se erguesse ali um belo, único e interessante padrão das nossas heroicidades e loucuras. Dirigindo-se a uma alta personalidade da República advogava assim a sua ideia: «Persuado-me que a fórmula "aldeia" não só representaria melhor o nosso carácter nacional mas seria preferível a um vulgar monumento com figuras alegóricas, que passaria despercebido na enchente caudalosa dos monumentos, enquanto que daqui a cem anos, essa aldeia portuguesa lá estaria transformada em vila ou em cidade, atestando que portugueses houve que se bateram pela liberdade nesse rincão de La Couture, Béthune, La ChappeIle.»

in Aquilino Ribeiro, Leal da Câmara – Vida e Obra, Livraria Bertrand, 1975

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