Maestro
Silas Granjo
Silas Granjo
Nas vésperas da comemoração de mais um aniversário da
criação da freguesia de Bustos, convida-me o “Notícias de Bustos” a escrever
algumas palavras sobre o “Hino do Dezoito de Fevereiro” que, de parceria com o
saudoso amigo Hilário Costa, ele a letra e eu a música, compus, a seu convite,
em 31 de Janeiro de 1989.
Uma parceria Hilário
Costa-Silas Granjo
Não me lembro bem das circunstâncias em que o convite foi
formulado, mas o dia da composição é fortemente simbólico. Apenas me lembro, ou
me julgo lembrar, que naquele ano se pretendia inscrever nas comemorações do
Dezoito de Fevereiro o incremento das relações amistosas com a Freguesia da
Mamarrosa, e que a Banda da Mamarrosa, de quem Hilário Costa fora sempre
benemérito apoiante, e eu ao tempo dirigia, iria abrilhantar os festejos. A
música, na sua simplicidade, recolheu o agrado pronto de quem a ouviu naquele
dia, e logo Hilário Costa o adoptou como Hino de Bustos, manifestando o desejo
de que fosse tocado pela Banda da Mamarrosa no seu funeral, que veio a ocorrer,
no 1º Dezembro de 1994. E quando a Banda da União Filarmónica do Troviscal foi
criada, no decurso de 1989, Hilário Costa logo se inscreveu como sócio e
exprimiu o voto de que a Banda do Troviscal e a da Mamarrosa tocassem, no
cemitério, essa música em conjunto, o que veio a acontecer.
A letra do hino faz eco de algumas das ideias que sempre
foram caras a Hilário Costa. A ideia da fraternidade universal; o culto da
memória dos antepassados; a ideia de que os bustuenses laicos deveriam ter
também uma data para festejar, uma data em que se exaltassem os ideais e as
virtudes republicanas; a ideia de fazer associar as crianças das escolas às
tradições, para lhes assegurar a continuidade. É certo que a pena de Hilário
Costa já não tinha, então, o fulgor de outros tempos, mas o ideal permanecia
com a mesma lucidez e vigor de sempre.
Para terminar, uma pequena nota sobre a música. No decorrer
do jantar dessas comemorações, alguém, parece-me que foi o Chico Pedreiras,
sentado a meu lado, me confidenciou: “A sua música faz-me lembrar qualquer
coisa . . . ah! Já sei. Não tem qualquer coisa do ‘Hino da Maria da Fonte’”?
Naquele momento não fui capaz de lhe responder, porque a persistência da minha
melodia não me deixava recordar o início da ‘Maria da Fonte’. Mais tarde,
porém, pude constatar que, de facto, os primeiros dois compassos têm uma certa
semelhança rítmica e melódica, o que se explica pela contaminação que as ideias
operam no nosso subconsciente e pelo mesmo pendor heróico dos dois textos.
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