19 de junho de 2010

MARÉ ALTA:LÁ SE VAI UM ÍCONE DA LITERATURA PORTUGUESA


Morreu uma das maiores glórias contemporâneas da língua portuguesa. Figura controvertida e polémica, respeitada e admirada principalmente junto à grande massa de intelectuais materialistas do mundo ocidental, mas contestada quando não malquista, nos segmentos espírito religiosos. Suas idéias claramente colocadas não somente em seus escritos como também em suas interferências ou entrevistas, causavam arrepios aos contestados seguidores dos mais variados credos religiosos fossem eles seguidores da dita bíblia sagrada, fossem os seguidores do alcorão, fossem eles os pertencentes aos mais variados agrupamentos, ditos fervorosos filhos de Jeová. Isso, simplesmente porque ele não acreditava na existência de Deus e como tal, negava tudo o que envolvesse tal crença.

O Cristo humanisado em sua obra “O Evangelho Segundo Jesus Cristo, foi e é, dentre todas as suas obras, a mais contestada.
Numa entrevista ao jornal O Globo do Rio de Janeiro, o ano passado, ele afirmou: “No fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama. Denuncio as religiões, todas as religiões, por nocivas à Humanidade. São palavras duras, mas há que dizê-las."

Ele foi em vida, um comunista convicto, membro do Partido Comunista Português mas, mais do que essa filiação, sua vida, temas de seus livros e suas declarações são testemunhos absolutamente transparentes de sua visão sobre as diferentes castas sociais onde, em sua visão, pontifica a exploração do homem pelo homem É interessante podermos notar que apesar de sua clara opção política, ele não nutria qualquer ilusão a respeito de alguma possibilidade de mudanças de status no mundo atual. Pelo menos é o que podemos deduzir de algumas de suas declarações:

"A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem."

"Duvido que nos tempos mais próximos as idéias socialistas tenham qualquer oportunidade."
O reconhecimento de seu valor literário pautado por uma imensa obra, de há muito reconhecida além fronteiras, traduziu-se por um sem número de prêmios literários que lhe foram outorgados mundo afora, além do mais dignificante dos prêmios literários da língua portuguesa: Prêmio Camões.
Mas, o coroamento de todo esse reconhecimento, sem dúvida alguma foi o Nobel de Literatura com que foi galardoado em l998.
Durante muitos anos este grande nome da literatura portuguesa, mostrou-se frontalmente contrário à versão de suas obras para o cinema. Todavia acabou se curvando, ás muitas investidas de anos, do cineasta brasileiro Fernando Meirelles que finalmente obteve a devida autorização para verter para a chamada sétima arte, a sua obra “Ensaio sobre a Cegueira”. A respeito da morte de Jose Saramago nesta sexta feira 18, assim se expressou aquele cineasta: “O mundo hoje ficou mais burro e mais cego”

Aristides Arrais

2 comentários:

  1. BELINO COSTA11:23

    MESQUINHEZ PRESIDENCIAL

    O escritor José Saramago era um dos portugueses mais notáveis deste nosso tempo. Subindo a pulso na vida foi conquistando, com trabalho, persistência e talento um estatuto que lhe valeu o Prémio Nobel da Literatura e o reconhecimento mundial. As suas palavras, os seus livros foram e serão eternos embaixadores da nossa Pátria da nossa Língua.

    Ao não abandonar as suas férias açorianas para estar presente nas cerimónias fúnebres do escritor, o senhor Presidente da República Portuguesa revela a sua enorme mesquinhez política, a sua pequenez intelectual, o seu enorme sectarismo. Bem sei que as eleições estão perto e o Sr. Presidente se sente ameaçado pela direita católica (verdadeiros acólitos do Sr. Cardeal Patriarca) que ameaça apresentar um candidato às eleições presidenciais como retaliação pelo facto do Presidente ter promulgado a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Bem sei que ganhar eleições é o maior desígnio de qualquer político, mas Cavaco Silva, mesmo arriscando perder alguns votos, tinha de estar presente nas cerimónias fúnebres de Saramago. Tinha de estar presente em nome de algo maior do que a sua carreira política, em nome de Portugal.

    Mesquinhez política, intolerância, eleitoralismo tacanho, são apenas alguns adjectivos que me merecem a atitude do Presidente. Nada afinal que dele já não conhecêssemos.

    Belino Costa

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  2. Anónimo03:26

    Ao ler o comentário do meu caro Belino, não pude conter minha veia de ironia: O político quando se sublima (e isso cada dia é mais raro) ele atinge seu estatus de estadista. Pois nosso presidente Cavaco e Silva, naturalmente continuando político, a seu modo, mostrou sua condição de ESTADISTA, isto é: não alterou de forma alguma sua ESTADIA de férias nos açores. Bem haja os medíocres da política!

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