Foi um final emocionante. Vi brasileiros meus amigos chorarem de emoção,
ao me verem igualmente emocionado ouvindo e cantando o Hino Nacional português.
Não existem estatísticas, mas penso que a seleção portuguesa teve como seus
torcedores 90% de brasileiros.
Heróis do mar, nobre povo, / Nação valente, e imortal! /
Levantai hoje de novo, / O esplendor de Portugal! / Entre as brumas da memória,
/ Ó Pátria, sente-se a voz / Dos teus egrégios avós, / Que há de guiar-te à
vitória!
Resido há mais de 20 anos no Nordeste do Brasil que dista
cerca de 2450 km de São Paulo, onde morei desde que cheguei a esta pátria irmã
(1951/1994). Após a memorável conquista do caneco da Eurocopa pela seleção
portuguesa, recebi telefonemas e e-mails de amigos e parentes, daquela cidade
brasileira(SP) cumprimentando-me pelo importante feito da seleção lusa, como se
eu tivesse alguma participação em tal façanha futebolística. Tudo isto, claro,
se deve a uma simples curiosidade: Embora seja eu, detentor de dupla nacionalidade,
ao vir para o Brasil eu passei a ser, para sempre, brasileiro em Portugal;
enquanto no Brasil, nunca deixei de ser considerado português.
“Dois países do meu coração” - ACA |
Pensando mais tarde sobre o feito da epopeia impensável
do selecionado português, senti-me possuído por um filme de pequenos momentos
desse universo do esporte das multidões – pequenos momentos, porém sempre
tristemente lembrados - que envolveram ao longo dos tempos, a história do
futebol dos dois países do meu
coração:
Veio-me à lembrança a copa de 1966 disputada na
Inglaterra. Naquela ocasião, Portugal surpreendeu o mundo com uma seleção
preciosa que teve onze pérolas raras que só não foram campeões pela sacanagem
inglesa (sacanagem usurpadora, aliás, sempre presente em todas as suas relações
históricas com Portugal, em todos os tempos). Pois, nesta Eurocopa, eu me senti
gratificado com a eliminação daquela prepotente Inglaterra, enquanto o meu
Portugal caminhava a passos firmes rumo à conquista de seu objetivo, com uma
determinação bem focada.
O outro pedaço de filme envolveu a seleção brasileira:
Num primeiro momento abriu-se-me a mente para o desastre recente da última copa
mundial disputada no Brasil, na qual a seleção brasileira foi derrotada e
eliminada pela Alemanha por um humilhante placar de 7 x 1. E na sequência meus
pensamentos me levaram até à Copa de 1998, na França, cuja final foi disputada
entre Brasil e França, quando a seleção francesa conquistou seu primeiro troféu
da Copa Mundial de Futebol.
A história desta
copa nos dá conta que o craque da seleção brasileira, Ronaldo, então recém
eleito o melhor jogador do mundo, naquela fatídica madrugada de 12 de julho de
98, havia sido acometido de uma mal súbito, jamais convincentemente
esclarecido, o que determinou psicologicamente a derrota antecipada da seleção
canarinho.
Meus amigos, me questionavam, sobre a minha preferência
de adversário para a final, com a seleção portuguesa já classificada com a
primeira inquestionável vitória de Portugal nas quartas de final. Eu preferi, e
assim me manifestei sempre, ter como adversária para a derradeira disputa, a
seleção francesa. E desta forma a seleção brasileira estaria sendo vingada,
primeiro pela eliminação da seleção alemã. Depois, certamente, viria a vingança
afrontosa para a seleção francesa, numa final que se me afigurava, resultaria
na maior conquista do meu Portugal.
Às armas, às armas! / Sobre a terra, sobre o mar! / Às
armas, às armas, / Pela Pátria lutar! / Contra os canhões marchar, marchar!
Atento ao caminho percorrido pela seleção portuguesa, eu
tinha uma observação preocupante de ordem tática: A seleção estava muito
dependente de um jogador notável, sem dúvida, mas do qual dependia
exclusivamente o sucesso ou o fracasso da respectiva seleção: O finalização de
todas as jogadas estavam demasiadamente centralizadas nesse único jogador.
Desfralda a
invicta bandeira, / À luz viva do teu céu! / Brade a Europa à terra inteira: /
Portugal não pereceu. / Beija o sol teu jucundo / Ó Oceano a rugir d’amor, / E
teu braço vencedor / Deu novos mundos ao Mundo!
Todavia, quis o destino que esse fabuloso super homem se
machucasse. Para mim, esta ocorrência foi determinante para o desfecho positivamente
desejado:
Retirado das quatro linhas, Cristiano Ronaldo passou a
ser fundamental longe do esférico. Seu assessoramento técnico, foi marcante,
servindo-se magistralmente de sua influência e capacidade de liderança para com
os demais jogadores.
Saudai o sol que desponta, / Sobre um ridente porvir; /
Seja o eco de uma afronta, / O sinal do ressurgir. / Raios dessa aurora forte /
São como beijos de mãe, / Que nos guardam nos sustêm, / Contra as injúrias da
sorte
“(O título) É uma resposta para nós mesmos, para continuarmos a acreditar que não há nada impossível" (De Éder, autor do gol do título português) |
Éderzito António Macedo Lopes, mais conhecido como Éder é
um futebolista luso-guineense. Atualmente joga como atacante, pelo Lille, uma
equipe francesa. Nascimento: 22 de dezembro de 1987 (28 anos), Guiné-Bissau.
Uma simples promessa para o futebol, Éder – colocado em
campo pelo técnico numa substituição de raro tato – numa perfeita jogada de
ginga de corpo e arranque, culminou com o chute certeiro transformado em gol...
Logo depois, o apito final e a encontrável emoção de um delírio total, com o
meu orgulho de continuar sendo português.
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