Maré Alta
Por Aristides C.
Arrais
O tempo e a
memória
Sempre existirá algo que ainda não foi dito. E é salutar que sempre se o diga... Ou para aperfeiçoar, ou para reparar, enriquecer ou até mesmo para repor verdades.
Manuel Moreira foi um cidadão bustuense. Um cidadão
como tantos outros que, ainda jovem, resolveu conhecer novas terras, novos
mundos imigrando para Moçambique uma das então muitas colônias portuguesas. Lá
mourejou sol a sol para através de sua força de trabalho e capacidade de ação
determinada, conseguir amealhar umas boas economias e assim obter uma qualidade
de vida melhor, diferente - claro - daquela que lhe poderia oferecer suas
plagas de origem, se lá permanecesse.
Alguns anos se passaram até que Moreira, já senhor de
um acentuado patrimônio pecuniário, decidiu voltar à sua terra natal, em busca
de alguém que ocupasse o seu coração e o espaço de uma parceria de amor eterno.
Encontrou... Casou e se foi de volta a
ocupar o universo que ele tão bem soubera conquistar, além mar.
A sina de cada um nem sempre apresenta lances cor de
rosa...
A vida de casado do Sr. Moreira teve como coroamento familiar,
o nascimento de três herdeiros: um menino e duas meninas, não necessariamente
nesta seqüência. Mas, o infortúnio que a seguir batera à sua porta, levou
embora sua companheira acometida por fatal epidemia, muito comum naqueles
tempos de precários avanços medicinais. Uma desoladora tristeza abateu nosso
personagem de tal modo traumatizante, que o mesmo, como bom bustuense, resolveu
voltar à terra com sua prole.
Acolhido por uma sua irmã moradora na Azurveira, lá
permaneceu por algum tempo junto a seus filhos, até se decidir voltar novamente
àquela colônia da África, onde conseguira se firmar como um profissional de
valorizado nível.
A ti Maria do Carmo, com seu marido ausente, e três
filhos crianças para criar*, assumiu a responsabilidade de cuidar daqueles
outros três miúdos sobrinhos, com reconhecida dificuldade. O menino, filho de
Moreira, morreu algum tempo depois da partida do pai.
Mais alguns anos de serviço em Moçambique até conseguir
uma boa aposentadoria e Manuel Moreira retorna definitivamente para Bustos,
onde reencontra suas filhas, a irmã Maria do Carmo e seu cunhado, Manuel
Pereira Arrais chegado do Brasil. Embora abatido com a perda de seu barão,
readquire a coragem própria de homem determinado, propondo-se a restabelecer um
novo lar pensando em suas filhas, Ilda e Helena, então já bem crescidas.
Jacinto dos Louros decidira mudar-se para Ílhavo.
Todavia, inicialmente encontrara alguma dificuldade em seu objetivo. A esposa
era professora da escola primária de Bustos e sua transferência tornara-se
problemática devido à falta de vaga em escola daquela outra freguesia. Depois
de algum tempo de persistente busca por uma solução, Jacinto dos Louros
conheceu uma solitária professora, Elisa, que aceitava uma transferência para
Bustos, concordando com a respectiva troca. A dificuldade de moradia apresentada
pela professora Elisa, logo foi solucionada por Jacinto dos Louros, colocando
sua residência situada naquela freguesia bairradina, à disposição da nova
professora.
Manoel Moreira ficou sabendo por intermédio de seu
cunhado Arrais, amigo de Jacinto dos Louros, que este pretendia vender sua
casa. Dirigindo-se a Ílhavo, Moreira fez
saber a Jacinto dos Louros, de seu interesse em comprar sua vivenda, mas este
informou ao interessado que, embora pretendesse vender a residência de Bustos,
existia na mesma um impeditivo representado pela presença da professora Elisa.
Não obstante, conversaram sobre o valor da transação
ficando combinado que o negócio poderia ser concretizado, desde que Moreira
solucionasse a desocupação do imóvel. De volta a Bustos, Moreira entrou em
contacto com a professora e, após uma série de conversas muito proveitosas, a
questão foi equacionada: Moreira, viúvo, casou-se com a professora, o que lhe
permitiu a concretização da efetiva compra do imóvel de Jacinto dos Louros sem
quaisquer outros empecilhos.
O casal teve uma filha, Maria Celestiana (?) da Costa
Moreira - a Mimi - que segundo nos consta, obteve estudos de formação superior,
tornando-se uma pedagoga (esta afirmativa
carece de confirmação).
*Manuel, Nilo
e Célia (Já falecidos)
> Manuel
Moreira, tio de Manuel Arrais, o alfaiate, pai de A. C. Arrais
> Manuel Pereira Arrais e Maria do
Carmo, falecidos, avós de A. C. Arrais;
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